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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O HOMEM QUE SALVOU O MUNDO DA DESTRUIÇÃO

Stanislav Petrov

Por décadas imaginamos o que seria do mundo se as coisas tivessem esquentado entre URSS e EUA, iniciando uma guerra nuclear de grande escala. Por sorte, apenas imaginamos isso até hoje, pois ela nunca aconteceu, mesmo que as coisas tivessem fervido nalgumas ocasiões.

Uma delas foi a noite de 26/09/1983, que completou 33 anos. Esta foi a noite que, não fosse a atitude de UM homem, seria o início do “apocalipse nuclear”.

Na época, nosso herói fazia plantão noturno no centro de monitoramento e contra-medidas do espaço aéreo soviético, quando o sistema automático de detecção de lançamento de mísseis intercontinentais disparou: um míssil havia sido lançado dos EUA com direção à Rússia!

Incrédulo, ele nada fez, esperou um pouco mais. O sistema indicou OUTRO disparo.

Estava acontecendo, cabia a ele iniciar o sistema de alerta cuja última medida era retaliar os EUA e a Europa com o lançamento concomitante de MILHARES de ogivas nucleares dirigidas a pontos estratégicos e às cidades mais populosas e importantes do Ocidente, como NY, Londres, Paris, Madrid, Roma, Frankfurt.

Enquanto durou sua indecisão, outros cinco mísseis foram lançados em direção à mãe Rússia, já eram 7 ogivas prestes a atingir, em alguns minutos, a gloriosa pátria soviética. Cabia a ele proteger e vingar as milhões de mortes de seus conterrâneos que ocorreriam dentro de instantes.

Então ele tomou a decisão: ele DESLIGOU o sistema de monitoramento e alerta, antes que ele respondesse automaticamente à agressão, e IGNOROU os repetidos alertas, torcendo para que seu julgamento fosse o correto: era um alarme falso, ele não tinha como provar, mas tinha convicção.

Seu julgamento ocorreu com base na crença de que nenhuma pessoa responsável autorizaria o lançamento de ogivas nucleares a menos de dez dias depois de um incidente no qual a força aérea soviética abateu um avião comercial Ocidental que se perdeu sobre o nordeste da Sibéria, acarretando em uma centena de civis inocentes mortos.

O governo soviético jamais o recompensou e, pela indisciplina, ele foi indiciado numa série de processos burocráticos e depois afastado do cargo, o qual ele desempenhou muito bem.

O general que primeiro recebeu o relatório acerca do ocorrido o agradeceu e parabenizou, mas nada fez, oficialmente, para impedir seu ostracismo.

Hoje Stanislav Petrov vive de forma pacata, com pouca fama e pouca renda, ainda em sua querida mãe Rússia. E quem o encontra no dia-a-dia nem desconfia que aquele velhinho tranquilo um dia salvou o mundo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

LIBERDADE

Cecília Meireles

“Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, a ela se tem até morrido com alegria e felicidade.

Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade!”. Nossos avós cantaram: “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”; nossos pais pediam: “Liberdade! Liberdade! – abre as asas sobre nós”, e nós recordamos todos os dias que “o sol da liberdade em raios fúlgidos – brilhou no céu da Pátria…” – em certo instante.

Somos, pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.

Ser livre – como diria o famoso conselheiro… – é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo que partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho… Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autônomo e de teleguiado – é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Supondo que seja isso.)

Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.

Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sono das crianças deseja ir. (Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso…).

Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!…) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!…

Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida.

E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos!…

São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.

Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel…”