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terça-feira, 28 de março de 2023

Tempos e espaços

Os tempos se encontram,
Matriz de bordado - Geografia 001 no Elo7 | Arte de Bordar ...desencontram e se abraçam,
se arranham, se enlaçam abrigando
a torrente do heterogêneo existir.

É, o existir, pluralidade dos tempos
conviventes no regaço
das correntes performáticas,
animadas e enfáticas
dos inúmeros espaços.

O espaço é testemunha
dos tempos complexos e banais
que se aproximam, se definem, se afetam,
se alinham nas fronteiras relacionais.

Os tempos se animam,
ou afastam seus frontais,
se encaixam, desencaixam,
se alastram pelo mundo
transpassando todos portais.

São, os espaços, descontínuos,
seus regaços, nada formais,
em figuras que se alargam
se esfregam, se embargam
sob formas desiguais.

Poema extraído do livro “Geografia em Poesias: tempos, espaços, pensamentos, de Luiz Carlos Flávio. Disponível em https://sites.google.com/site/geopoemusica/. Acesso em 08 junho 2020.

FONTE: https://ceejamarilia.wordpress.com/2020/06/09/geografia-em-poesia-tempos-espacos-e-pensamentos/

sexta-feira, 17 de março de 2023

JÚLIO DANTAS, O ADVOGADO DOS POBRES.

Por Jean Carlos Gonçalves.

Drº Júlio do Nascimento Dantas.

Há quase 22 anos Tuntum perderia um de seus cidadãos mais ilustres - Júlio do Nascimento Dantas, que mesmo sem ter nascido nesta terra prestou relevantes serviços ao município.

Homem íntegro, de conduta ilibada, bom esposo, pai exemplar, Júlio Dantas foi antes de tudo um amante do conhecimento, traço marcante de sua personalidade e que lhe oportunizou intensa e lúcida participação na vida política e social de Tuntum.

Nascido em 19 de junho de 1930 na localidade Jacus, no colonial município de Oeiras-PI, o menino de família humilde partiu ainda jovem para Oeiras com o objetivo de estudar, onde também aprendeu o ofício de sapateiro.

No início dos anos cinquenta, resolve tentar uma vida melhor aqui na Mata do Japão, região que compreende diversos municípios do centro-maranhense (Tuntum, Presidente Dutra, São José dos Basílios, Santa Filomena, São Domingos do Maranhão, Graça Aranha, Governador Luis Rocha, Senador Alexandre Costa, Governador Eugênio Barros, Governador Acher, Gonçalves Dias e Dom Pedro), região próspera, muito visada por migrantes de outros estados nordestinos, prinipalmente, por cearenses e piauienses, ao longo do século XX, mas foi nos anos 1950, que se assistiu a uma verdadeira explosão demográfica. E justamente nesse período que após uma breve estada em São Domingos do Maranhão, Júlio Dantas, resolve partir para Tuntum, então povoado de Presidente Dutra, onde chega em 1953, por influência de um irmão, morador do lugar.

Inicialmente, exerceu sua profissão de sapateiro e três anos mais tarde (1956) celebra matrimônio com Bianor Vieira. Esta filha de João Vieira Fortaleza, o Joãozinho Cereanse, que chegara em 1930. O casal teve oito filhos: Djalma, Djânia, Djalmir, Djair, Júlio Jr, Delânia, Júlia e Orestes. Estes nunca contaram com um pai de grande poder aquisitivo, entretanto deixou-lhes um grande ensinamentos, um legado de valores.

Com a instalação do município em 1955 e com a criação da Delegacia e Cadeia Pública, Júlio Dantas passou ao posto de escrivão da mesma, até 1962, quando logrou êxito nas eleições municipais, conquistando uma cadeira na Câmara Municipal, cargo que exerceu sucessivas vezes até o ano de 1977. Destacou-se como um dos mais atuantes vereadores, ocupando cargos na Mesa Diretora em seus 4 (quatro) mandatos (1963-1966; 1967-1970; 1973-1976; 1977-1982) , além de protagonizar outros grandes eventos da política local.

Posse do vereador Júlio Dantas na Presidência da Câmara Municipal de Tuntum-MA.


Em abril de 1964, ocorreria em Tuntum, um dos fatos mais marcantes de sua história política - A deposição do Prefeito Luiz Gonzaga da Cunha e seu vice, Joaquim Morais, sob a alegação de serem adeptos do comunismo. Júlio Dantas foi um dos vereadores destituídos do cargo, coagido e obrigado a assinar sua renúncia pelo então Deputado Estadual Ariston Costa, desafeto dos Gonzagas da Cunha e da base do Governador Newton Bello. Dantas, foi o único vereador que foi à Capital ao lado do prefeito e do vice para tentarem reaver seus cargos, o que ocorreria em 40 dias, aproximadamente.

Voltando Júlio Dantas às atividades normais e ao prosseguimento de seus estudos, conquistou o direito de advogar, no final de 1972. O rábula não chegou a frequentar os bancos de uma universidade, mas através de um curso à distância e com posterior aprovação em exame, adquiriu tal mérito, concedido pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Maranhão, conforme o dispositivo no art. 63 § 3º da Lei 4125 de 27 de abril de 1963, para o cargo de advogado provisionado. Profissão que exerceu com amor e dedicação até os seus últimos dias.

Lembro-me de uma declaração feita durante as homenagens fúnebres, pronunciada pelo juiz de direto Drº Simeão Pereira e Silva que após memorável discurso enfatizou: “Júlio Dantas foi antes de tudo, o advogado dos pobres”. Justa e merecida homenagem, na ocasião em que era profundo o sentimento de tristeza dos familiares, amigos e sociedade tuntuense.

Relegado ao esquecimento pelas autoridades políticas locais, o nosso advogado não teve a devida assistência durante sua luta contra o câncer. É mais cômodo homenagear pós-morte. Drº Júlio Dantas merecia mais reconhecimento em vida.

Recebeu o título de cidadão tuntuense em 1994, quando fazia parte do grupo da situação. Durante a maior parte de sua vida pública Júlio Dantas esteve ao lado dos Gonzagas da Cunha, porém não se sentindo valorizado resolveu deixar o grupo Labigó, passando ao grupo de oposição, os Cobras. Adotou como afilhado político na campanha eleitoral de 2000, o jovem Alan Noleto, o vereador mais jovem da história do município, que se elegeu com expressiva votação. Assim, todos os anos de dedicação e luta ao lado daqueles se apagaram.

Em 1998, foi eleito destaque do ano na categoria – Profissional Liberal, prêmio concedido pela FIPPE. No ano de 2002, pouco antes de sua morte, a extinta TV Tuntum, concedeu-lhe prêmio semelhante. O leitor pode até achar contraditório, mas em determinadas circunstâncias não há como se negar o mérito.

O Drº Júlio Dantas foi ainda um dos idealizadores do Conselho de Mobilização Social de Tuntum, uma espécie de organização, a qual buscava prestar assistência social e jurídica aos associados, em geral eleitores do grupo de oposição que se sentiam discriminados pela gestão do grupo situacionsta e sua política seletiva. No entanto, tal instituição não alcançou os resultados esperados, pois era muito desproporcional a luta contra o aparato da máquina pública, muito embora a instuição tenha influenciado, garantindo atendimento a um público discriminado num contexto de muita polarização política.

No dia 27 de maio de 2002, curiosamente o dia em que se comemora o Dia do Profissional Liberal, Dantas seria vencido pela doença, após muito resistir, deixando esposa, filhos, amigos, admiradores. Atualmente, o plenário da Câmara Municipal recebe o seu nome. Contudo, espera-se ainda que se faça justiça condizente com a memória desse grande baluarte da história política e social de Tuntum-MA.

Que a trajetória do Drº Júlio do Nascimento Dantas, seus relevantes serviços prestados à sociedade tuntuense não seja prisioneira do esquecimento e que a sua memória  encontre eco na posteridade do município de Tuntum-MA.