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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

FAMÍLIA TAVARES - SERGIPE D'EL REY - Tradução de Creomildo Cavalhedo Leite.

Arquivo Histórico Ultramarino.FAMÍLIA TAVARES, SERGIPE D'EL REY.
AHU_DOC 73_ Sergipe 10_junho_1700_
Há poucos dias  fui surpreendido por mais um presente do amigo Creomildo Cavalhedo Leite.
Abnegado pesquisador da História dos Sertões Maranhenses,  muito já colaborou para manutenção deste espaço virtual, bem como por incontáveis vezes, compartilhou com toda generosidade, raras e deleitosas fontes documentais sobre essa parte do Maranhão.
Creomildo é natural do grande povoado de Santa Vitória, situado à margem direita do rio Mearim, no município de Barra do Corda. Há 30 anos residente em Palmas-TO, é sevidor público na Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins-ADAPEC, tem como seu principal "passatempo", a pesquisa sobre a genealogia da Família Carvalhedo e de nosssos sertões. Uma saga que tem rendido bons frutos, conforme referimos acima.
No último sábado, 10/09/2022, recebi do dileto amigo um breve texto, fruto de sua persistência em traduzir "velhos papiros", desta vez, o manuscrito -  AHU_DOC 73_ Sergipe 10_junho_1700_ -  do Arquivo Histórico Ultramarino, do qual o nosso mais novo paleográfo prático, numa tradução parcial, afirma se tratar do:  "pioneirismo da Família Tavares, proveniente da Ilha de São Miguel (Arquipélago dos Açores), para a grande aventura no Brasil uma Colônia de Portugal. Deixando tudo e todos para trás em busca do sucesso e da vitória além mar...". 

Na minha condição de humilde professor de História e um legítimo Tavares, desta parte da Mata do Japão, que por vezes, estuda muito mais das outras famílias do que da própria, o compartilhamento do texto abaixo, se constitue num verdadeiro maná que revigora as energias para continuar na(s) trilha(as) de nossa história. 

Assim sendo, apreciem!
"Senhor
Pondo se Editais por tempo de hum mês para as pessoas que quiserem pretender a sumidade do Ofício de Tabelião do Público Judicial e Notas da Vila de Santa Luzia, huma das que se criaram de novo na Capitania de Sergipe D'el Rey, a presentarem seus papeis correntes em poder do Secretário deste Conselho dentro do qual os Ofereces.

Antonio de Carvalho Tavares, filho de Thomé Cabral de Souza, natural da Ilha de São Miguel, consta se nos papeis que apresentou ter servido Sua Majestade na Bahia, dezessete anos, sete meses e vinte e dois dias e

[ ? ] em Praça de Soldado e Ajudante da Ordenança, desde 25 de Outubro de 1658 a 26 de Junho de 1696;

E no decurso deste tempo fazer sua obrigação em tudo o de que foi encarregado do Serviço de Sua Majestade, sendo muito obediente aos seus oficiais maiores, e seguindo as ordens que lhe foram dadas acompanhando seu Capitão Gonçalo Teixeira Vieyra nas duas ocasiões que foi a sestir nas duas Naus da India Bom Jesus de São Domingos, e Nossa Senhora da Conceição até botarem se ela na barra [ ? ] com o mesmo procedimento no
[ ? ] do Alto Posto de Ajudante na cobrança das fintas, e donativos em que se houver com muita verdade.

Apresentou se lhas Certidão na Bahia e Certidão do Registro das mesmas porque mostrar si ão se lhe houver feito algo.

Pareceo so Conselho votar para apropriedade do Segundo Ofício de Tabelião do Público Judicial e Notas da Vila de Santa Luzia huma das que se criaram de novo na Capitania de Sergipe D'el Rey em Antonio Carvalho Tavares, e não vota em mais sujeitos por não haver quem se opusessem.

Lisboa, 16 de Junho de 1700
(...)
Sua Majestade manda passar carta a Antonio de Carvalho Tavares da sumidade do Ofício Segundo de Tabelião do Público, Judicial e Notas da Vila de Santa Luzia huma das que se criaram de novo na Capitania de Sergipe D'el Rey.

Lisboa, 29 de Novembro de 1700
(...)"
(FAMÍLIA TAVARES, SERGIPE D'EL REY.
AHU_DOC 73_ Sergipe 10_junho_1700_)

Traduzido por:
Creomildo Cavalhedo Leite
Creomildo Cavalhedo Leite, estudioso do Sertão.

Não se trata do "elo perdido", mas de mais uma oportuna provocação, um importante apontamento sobre a trajetória de mais um dos inúmeros ramos dos Tavares, que partiram do outro lado do Atlântico para ganhar o "Novo Mundo" e, que, em tempo registro aqui, para o vosso conhecimento e para o devido reconhecimento dos esforços de nosso ilustre amigo e apaixonado pela História - Creomildo Cavalhedo Leite.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Tuntum 67 anos, lembrando a biografia de “Dona Maria Secretária”

Por Emerson Araújo*

Pequena Biografia de Maria Feitósa de Araújo Tôrres 

(Maria Secretária)


Maria Secretária ainda na mocidade em Floriano – Piauí

Maria Feitósa de Araújo Tôrres (Maria Secretária) nasceu na cidade de Floriano – Piauí em 26 de janeiro de 1926 e faleceu na cidade de Tuntum – Maranhão em 27 de Julho de 1998 com 72 anos de idade.

Maria Feitósa de Araújo Tôrres (Maria Secretária) era filha de Florêncio Feitósa de Araújo e Perpétua Feitósa de Oliveira e irmã de João Afonso Feitósa de Oliveira (comerciante e vivo), Rosa Feitósa de Araújo Silva(viva) e Enói de Araújo Bandeira (já falecida), esta última, mãe de Maria Inês Bandeira da Costa, vice-prefeita de Tuntum no primeiro governo do Dr. Cleomar Tema.

Maria Secretária foi casada com o agropecuarista e comerciante piauiense Félix Ventura Tôrres de 1951 a 1974 com quem adotou dois filhos Maria Margareth Santos e Fábio de Jesus Araújo Tôrres, ambos vivos.

Inicialmente, Maria Feitósa de Araújo Tôrres, residiu no Povoado Carneiro pertencente a Presidente Dutra, propriedade do seu falecido marido, vinda de Floriano – Piauí em 1951 e logo após passou a residir no antigo distrito de Santa Filomena, onde exerceu as ocupações de comerciante e mais tarde professora.

No ano de 1955 com a emancipação do município de Tuntum e a passagem do Povoado de Santa Filomena a distrito da nova cidade, Maria Secretária continuou prestando os seus serviços como comerciante e professora aquela comunidade.

No ano de 1959, a convite do Sr. Luiz Gonzaga da Cunha, Maria Secretária transfere seu domicílio juntamente com o marido Félix Ventura Tôrres para a sede do município de Tuntum onde passa a exercer várias ocupações nas áreas do comércio, criação de bovinos, magistério e administração pública da nova cidade.

Com a eleição de Luiz Gonzaga da Cunha a Prefeito de Tuntum, Maria Feitósa de Araújo Tôrres é convidada pelo novo gestor municipal e assume o cargo de Secretária da Prefeitura Municipal de Tuntum, por esta indicação honrosa e pelos serviços prestados, ao longo da sua permanência a frente deste cargo, ela ganha a alcunha de Maria Secretária.

Maria Feitósa de Araújo Tôrres foi secretária, tesoureira e auxiliar direta dos governos municipais de Luiz Gonzaga da Cunha (31/01/1964 a 31/01/1969), Luís Coelho Batista (31/01/1977 a 15/03/1983), auxiliar administrativa do primeiro Governo Tema (01/01/1993 a 01/01/1997) sempre exercendo os cargos a ela destinada com inteligência, denodo, competência e ética no serviço público municipal. Por conta disso, também, Maria Secretária se tornou uma conhecedora profunda da contabilidade e administração públicas de então.

Maria Feitósa de Araújo Tôrres, além dos cargos assumidos na administração pública municipal de Tuntum, secretária e tesoureira, secretária da câmara de vereadores por várias legislaturas, foi também Secretária oficial da Paróquia de São Raimundo Nonato à época de Frei Dionísio Guerra e outros párocos sempre demonstrando competência e exerceu, ainda, por vários anos os cargos de Professora e Secretária do Colégio Comercial de Tuntum, ajudando a formar gerações de alunos da cidade.

Maria Feitósa de Araújo Tôrres (Maria Secretária) por conta da sua atuação profissional em Tuntum se tornou um ícone para a cidade, como ela mesma dizia: “Tuntum não é a minha segunda casa, é o meu amor maior, a minha vida toda.” Foi por conta disso que o seu povo de Tuntum o presenteou com algumas dezenas de afilhados ilustres ou não.

O corpo de Maria Secretária encontra enterrado no cemitério principal da cidade, localizado na atual Vila Luizão.
Profº Emerson Araújo

FONTE: BLOG BATE TUNTUM - https://batetuntum.com.br/tuntum-67-anos-lembrando-a-biografia-de-dona-maria-secretaria/ <acesso em 12/09/2022>

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*Professor, poeta, escritor e jornalista.

domingo, 11 de setembro de 2022

OS 67 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE TUNTUM - O MALOGRO DO ESQUECIMENTO E A ESPERANÇA DA REDENÇÃO

 Por Jean Carlos Gonçalves*.

Fonte: Wikipédia

A cada ano, sempre que se aproxima o dia 12 de setembro, a data escolhida pelos primeiros governantes locais para se comemorar a emancipação política de Tuntum-MA, se revigoram alguns questionamentos sobre o processo histórico que culminou na Lei nº 1362/1955, que estabeleceu emancipação.

É motivo de inquietação o fato de acontecimentos impactantes e de importantes personagens, que protanizaram a façanha da emancipação, permanecerem praticamente ignorados e/ou esquecidos, salvo em raras situações esporádicas, isoladas.

Nomes de saudosos homens públicos como Eurico Bartolomeu Ribeiro, promotor de justiça, secretário de Estado, deputado estadual, deputado federal, o governador do Maranhão mais jovem da história (aos 28 anos governou interinamente o Estado - 26/03/1956-09/07/1967); Ariston Leda, empresário, vereador e primeiro prefeito eleito de Presidente Dutra e também o primeiro chefe do poder executivo eleito de Tuntum; Eugênio de Barros, exitoso empresário, prefeito de Caxias-MA, por dois mandatos senador da República e governador do Maranhão que sancionou a lei supracitada. Tais personagens da política maranhense não devem ser relegados ao esquecimento ou desconhecimento para esta e às futuras gerações. Assim como não se deve ignorar o protagonismo dos vários segmentos sociais, muitos deles até agora anônimos, que faziam de Tuntum um importante núcleo de povoamento na primeira metade da década de 1950. 

Hoje o nomes de Ariston Leda e Eugênio de Barros dão nomes a ruas que embora importantes, não medem 500m. A praça Eurico Ribeiro foi totalmente descaracterizada: construíram uma biblioteca e a sede do Serviço de  Atendimento Médico de Uugência - SAMU. Este se localiza inadequadamente, uma vez que o ideal é que fosse na saída da cidade no sentido ao povoado Araras, o mais próximo possivel da BR-226. Muito pouco para quem protagonizou a emancipação, numa época que não havia plebiscito, a população não era consultada, tudo ficava a cargo da iniciativa dos agentes políticos, independemente se seriam beneficiados particularmente, não é esse o ponto discutível. Não se pretende aqui exaltar feitos heróicos de ocupantes de cargos de poder, mas tão somente de conferir a devida relevância de suas atuações para a independência política de Tuntum e os mesmos são ignorados, ou quase totalmente desconhecidos pelas gerações recentes.

Obviamente, as famílias pioneiras, seus destacáveis representantes, os retirantes que chegaram nos famosos paus-de-araras, fugindo do flagelo das secas nos demais estados nordestinos, ou mesmo os que chegaram a pé, tocando uma mula, um jumentinho, trazendo uma pequena bagagem e os seus pequeninos filhos no meio da carga, também devem ter lugar reservado na memória desta geração presente, pois foram aqueles homens e mulheres que representaram uma verdadeira explosão demográfica e, por conseguinte, elevaram a importância do povoado. Foram eles, jornaleiros dinâmicos, trabalhadores, guerreiros destemidos, obstinados, que cotidiana e coletivamente atrairam interesses de outros para essa parte da Zona Fértil da Mata do Japão, o Eldorado, e, assim, favoreceram as condições necessárias para as ações daqueles agentes públicos, que por sua vez, assumiram a vanguarda do processo histórico que tranformaria um dos mais promissores povoados do município de Presidente Dutra, em novo ente da federação.

Conhecer a nossa história, resgatar personagens, fatos e processos históricos, além de ser uma questão de justiça para com a memória daqueles que desbravaram, edificaram e construíram o tecido social tuntuense, é também um direito inalienavél dos munícipes do presente, especialmente, das crianças e jovens, dequele(a) que passam pela Av. Drº Joaci Pinheiro, por exemplo, para chegar até o colégio, ou ainda daqule(a) que estuda na Escola Municipal José Teixeira, EM Maria Secretária, Centro de Ensino José Pinheiro, Centro de Ensino Isaac Martins, ou ainda daqueles que procuram atendimento médico numa Unidade Básica de Saúde como a Raimunda Basílio ou Rita Pinheiro Coelho e ignoram, quase completamente ou sequer detem informações elementares desses importantes sujeitos históricos, que nomeiam fachadas dos prédios e logradouros públicos da cidade e do município.

Se conhecer o passado é uma questão de justiça, de direito fundamental e social, uma via para extirpar a ignorância, então, somente se apropriando do conhecimento histórico local é que o indivíduo desenvolverá um sentimento de afetividade, de pertencimento para com o lugar de origem e, a partir daí, assumir uma postura cada vez mais ativa, consciente, dígna, enfim, de pleno exercício de cidadania. Nesse sentido, logo se faz necessário e urgente uma política pública de fomento a consciência histórica voltada à sociedade geral, mas primordialmente,  para a classe estudantil do município de Tuntum. 

Aqui se assiste por sucessivas décadas uma verdadeira inação, apatia ou mesmo má vontade dos governos locais, no tocante, a uma política de fomento da consciência histórica. Praticamente nada fora feito ao longo de quase sete décadas de autonomia política. Seja pela própria ignorância dos gestores, e daí a falta de sensibilidade, seja pelo pragmatismo político, de entender que tal conhecimento não é tão relevante, não é priordade, não gera capital eleitoral, que investimentos nessa área não garante a perpetuação no cargos de poder. E quando constroem alguma narrativa no passado, o fazem sem critério, com metodologia duvidosa, propalam um discurso carregado de intenciaonalidades, no qual omitem, distorcem fatos, exaltam determinadas figuaram políticas e sociais, em detrimento de outras, destroem o que os adversários construíram, representam um município a sua imagem e semelhança, romantizando, evocando um passado ufanista seletivo, que silencia e exclue determinados grupos e personagens que protagonizaram e/ou antagonizaram fatos e processos históricos importantes.

Contudo, vale ressaltar que algumas iniciativas de pesquisa, de resgate da memória histórica de Tuntum de modo mais sistematizadas foram implementadas nos últimos anos, fruto da iniciativa de alguns acadêmicos e de algumas escolas do município, mas ainda de modo isolado, ou seja, as iniciativas tomadas não são fruto de uma política pública estruturada e definida. Entretanto, precisa-se louvar e reconhecer as ações dos profissionais da educação do município, que de algum modo instigaram mais recenemente, em seus estudantes a curiosidade pela história do município. 

Mais recentemente destacamos a importantíssima ação da Secretaria Municipal de Educação que tem como titular a Profª de História Antonia Morais Gomes. Pois fora no último feriado de 7 de Setembro, a culminância do projeto para as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, ocasião em que se celebrou a história do município - AMADO "TUNTUM  PEDAÇO BRASILEIRO: História vivida, geram memórias!",  como temática para a grande festa cívica: o tradicional desfile das escolas da rede municipal de ensino, que apresentaram nas ruas da cidade uma verdadeira aula de história de Tuntum. Foi marcante, especialmente por garantir uma das tradições que fora interrompida em 2020 e 2022, devido a pandemia do covid-19. Foi maravilhoso assistir a execução do Hino Nacional Brasileiro, o Hino Municipal pelos acordes da sanfona e destreza do grande Wilson Boré. Assistir a apresentação de cada escola, de cada pelotão, contando parte da nossa história foi sensacional e nos encheu de esperança.

Pois sabemos que para tal ação, a equipe técnica da Secretaria de Educação e as equipes escolares, indubitavelmente, se debruçaram sobre os aspectos geo-históricos do município. Pesquisas foram realizadas, leituras foram compartilhadas, textos foram produzidos e reproduzidos, socializados. É desse movimento em rede, contínuo, initerrúpto que precisa ser implementado nas escolas, nas demais instuições socias, como uma política pública e não como evento circustâncial.

Nesse sentido, a atual gestão municipal tem acenado positivamente, demonstrado preocuação, acerca da urgente necessidade de construção de uma identidade coletiva, alicerçarda na pesquisa e produção do conhecimento histórico, a partir da realidade concreta da sociedade tuntuense. 

Assim sendo, eis que surge mais latente o otimismo, a esperança de que a conciência histórica seja alimentada diariamente e, nesse sentido, compete ao poder público municipal assumir a vangarda desse movimento. 

A Gestão Municipal de Tuntum e suas autarquias da Educação e Cultura não devem se furtar dessa oportunidade histórica, de fazer um trabalho sistêmico, científico, de resgate da memória, de arquivamento, de valorização e conservação da produção histórica, artistica e cultural. É chagada a hora de inovar, de fazer diferente, tempo de escrever a nossa própria história com lucidez, como conhecimento científico, despido de parcialidades.

Há muito por fazer: precisamos de um núcleo de pesquisa com o incondicional apoio da gestão municipal; sistematizar uma proposta para o consumo do conhecimento a ser produzido pelo público estudantil; assegurar formação continuada aos professores da rede pública municipal; planejar e executar projetos de pesquisa nas unidades de ensino, em cada sala de aula, a partir da realidade do entorno da escola e da trajetória de vida dos estudantes. Essa construção é e sempre será coletiva.

O que hoje somos é produto da ação de homens e mulheres que nos antecederam no tempo, portanto, não se deve ignorá-los ou reduzir a sua importância, pois todos ajudaram a construir a nossa história. Desse modo, precisamos de formatar essa identidade comum, aguçar o sentimento de pertencimento para com Tuntum, para continuarmos conduzindo o destino deste município. O passado deve atribuir sentido a vida presente, nortear as decisões, as escolhas, para que não incorramos nos equívocos até então cometidos. Não podemos abdicar dessa missão histórica.

Neste dia 12 de setembro, sim, devemos reconhecer a iniciativa dos homens que lideraram o processo de emancipação de Tuntum, mas não podemos omitir, menosprezar, ignorar os primeiros desbravadores, as famílias pioneiras na ocupação da cidade e dos mais longícuos rincões do município. Não podemos esquecer dos trabalhadores, empreendedores, dos tipos humanos - vaqueiros,  quebradeiras de coco, lavradores, tropeiros, mestres de ofício, missionários evangelizadores, parteiras, rezadeiras, profissionais liberais, vendedores ambulantes, enfim, todos aqueles que  até agora são anônimos, que foram silenciados intencionalmente ou não. Já se esgota a hora de tirá-los do cárcere do tempo passado inexplorado. Vamos juntos libertá-los das masmorras do vil esquecimento?

Hoje, é mais um dia para rememorar os artífices de nossa história e de também valorizar os que ora constroem cotidianamente o nosso município e que mantem a nossa identidade cultural, pois somos herdeiros de um passado comum apesar da diversidade filosófica, política, religiosa, etc, que constitue a nossa sociedade.

Lembrem-se da máxima! "Um povo que não conhece a sua história está fadado ao fracasso.". Ou como diria o poeta cubano Palho Milanés:

"E quem garante que a História
É carroça abandonada
Numa beira de estrada
Ou numa estação inglória

A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue

É trem riscando trilhos
Abrindo novos espaços
Acenando muitos braços
Balançando nossos filhos

Quem vai impedir que a chama
Saia iluminando o cenário
Saia incendiando o plenário
Saia inventando outra trama"

Ainda há tempo.Vamos iluminar o cenário? 

Parabéns ao povo de Tuntum pelos os seus 67 anos de emancipação política!  

Profº Jean Carlos Gonçalves, administrador do Blog Ecos de Tuntum.

___________________

*É Professor de História da rede pública municipal de Santa Filomena do Maranhão e da rede pública estadual do Maranhão. 


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Expedição à nascente do Riacho Riacho Tuntum

Nascente do Riacho do Refrigério, o mesmo que cortar a zona urbana de Tuntum, assume a denominação de Riacho Tuntum.
"Toda criança tem um mar a povoar a sua memória. Para o bem ou para o mal. De modo igual, toda criança já sonhou em ter uma poça d’água à sua disposição para se banhar à vontade. Poderia ser um mar de verdade, um rio caudaloso ou um simples riacho em que pudesse mergulhar por horas a fio até se fartar de tanta alegria; para conquistá-lo a braçadas, descobrir seus remansos e retornar à margem como um marinheiro retorna para o seu porto após meses de ausência." (José Pedro Araújo, 2015)

Para quem já ultrapassou os 40 anos, a citação acima do ilustre escritor presidutrense remete a deleitosos flashes de memória, uma viagem pelos dourados anos da infância e do início da juventude, que a era digital jamais proporcionará as gerações mais recentes.

Assim como meu conterrâneo da Mata do Japão, José Pedro, tem o seu "Firmino: Um Riacho Que é Um Oceano", eu e os de minha geração também temos o Riacho Tuntum...

"(...)Dele fiz meu mar de inocência
Onde realizaei épicas aventuras
Que hoje de mim faz refém
Das mais desejadas lembranças."
(Jean Carlos Gonçalves)

Hoje, principalmente os jovens que olham o Riacho Tuntum agonizando, exalando odores desagradáveis, praticamente sem vida, por tantos anos de degradação, depositário de dejetos, de esgotos, entulhos e lixo de toda sorte, não imaginam o quanto fora, no passado, um belíssimo cenário, de águas límpidas, de fluxo constante,  caudaloso, perene, rico em peixes, margeado e coberto de ingazeiras, gameleiras, sumaúmas, etc., que em suas copas reunia as mais belas aves e pássaros com seus cânticos que ainda estão bem "audíveis" na memória dos moradores de meia e terceira idade.

Quando cheguei a Tuntum em julho de 1987, ainda assisti um pouco da paisagem descrita, contudo, do alto de meus 8 anos, não tinha noção da tamanha relevância social, econômica e cultural do Riacho, de sua importância para a história e formação da cidade. Entretanto, desde a primeira vez que tomei banho no Poção* e joguei bola na beira do Riacho sempre uma pergunta se insurgia em minha consciência de criança: Onde fica a nascente do Riacho?

Sempre fazia essa pergunta aos adultos ou moradores mais idosos. Uns respondiam ser em Presidente Dutra, outros no São Bentinho (próximo ao Povoado Creoli do Bina), e ainda haviam os que afirmavam se localizar no Alto Sertão*. Desse modo, nunca recebia uma resposta assertiva, pois sempre os meus interlocutores deixavam transparecer uma certa insegurança. 

Passaram-se os anos, mas continuei alimentando o desejo de conhecer a nascente do Riacho. Certa vez, pensei em subir o curso do manancial, margeando-o até o seu nascedouro, mas com os anos também vieram outras preocupações e uma rotina de trabalho que induziu a protelar o projeto.

Entretanto, eis que surgem as divinas providências! Não é que me apareceu Jesus em carne e osso! Calma, pessoal!Rsss! Trata-se de Antônio Jesus Melo da Silva, o Jesus Melo, Profº de Geografia do Centro Educa Mais Estado do Maranhão, o Colégio Bandeirante de Tuntum-MA. Profissional competente e inovador, me procurou e apresentou uma proposta de uma aula de campo que consistia em levar os estudantes da Escola à nascente do Riacho, justificando o dileto professor, que já há algumas semanas vem tratando do assunto com os jovens, inclusive, o mesmo me convidou para também numa aula de campo tratar sobre o Riacho em seu curso aqui no perímetro urbano, que aconteceu na última segunda-feira, 22/08/2022.

A seta na imagem aponta para a nascente do Riacho do Refrigério, que se localiza nas encostas da Serra do Marajá, no município de Santa Filomena do Maranhão.

A seta indica o ponto em que o Riacho do Rifrigério, que no médio e baixo curso denomina-se Riacho Tuntum, desemboca no Rio Flores, tributário do Rio Mearim. Após um percurso de aproximadamente, 50 Km, dada a sua sinuosidade desde sua nascente nas encostas da Serra do Marajá, no município de Santa Filomena do Maranhão, ao sul da cidade de Tuntum, até sua foz no Flores nas imediações do povoado Olho D'água dos Correias, norte do município de Tuntum-MA.

Assim sendo, no dia 17/08/2022, o Professor Jesus Melo, seguindo algumas orientações (pois não pude acompanhar),  se deslocou até o povoado, Maribondo, no município de Santa Filomena do Maranhão, onde em díalogo com alguns moradores fez o levantamento de informações e conseguiu chegar até a residência do Srº Cipriano Cardoso Morais, o Seu Budi, 77 anos, atual proprietário da terras na localidade Lagoa do Coco, daquele município, onde fica a nascente do Riacho do Refrigério, o mesmo que, ao adentrar no perímetro urbano de nossa cidade, recebe o nome de Riacho Tuntum. 

O Profº Jesus Melo, além de estabelecer uma conversa amistosa com o proprietário, agendou para o dia 24/08/2022, uma visita para conhecer o olho d'água que origina o manancial.

Desse modo, conforme o agendamento, partimos da cidade de Tuntum-MA, nesta última quarta-feira, às 13:50h, utilizando-nos de motocicletas, cujo trajeto são de aproximadamente de 25 Km ao sul. Da Residência do Srº Cipriano, continuamos o trajeto por mais 1 Km de motocicleta, guiado pelo seu filho Antônio Juscelino Mendes Morais, o Juça. Após estacionármos os veículos, caminhamos uns 400m a sudeste até chegar num brejo, com diversas macaubeiras e um aspecto pantanoso recoberto por capim rio de janeiro, porém a parte mais ao sul do manancial se situa na propriedade do empresário presidutrense conhecido com Zé dos Pneus. Após registros seguimos mais 1 Km por um aclive no sentido mais ao sudeste e chegamos naquela que julgamos ser a principal nascente do Riacho Refrigério. O nosso guia ainda relatou que havia uma outra fonte, mais adiante, porém já se encontrava seca devido ao longo período de estiagem. Assim, devido ao horário, decidimos visitá-la na próxima expedição.

Brejo que se forma  a uns 200m da primeira nascente do Riacho do Refrigério.

Nessa área pantanosa, ao fundo da imagem sob a vegetação há um olho d'água que forma um brejo que se localiza mais ao sul na propriedade do empresário presidutrense Zé dos Pneus e parte na propriedade do Srº Cipriano Cardoso Morais, no município de Santa Filomena do Maranhão.

Foi simplesmente fantástico! Beber da límpida e pura água do Refrigério foi fabuloso! 

O local sofreu muito com a ação antrópica. Até menos de uma década, se praticava a lavoura no local e o gado era solto na área, mas o Srº Cipriano, dotado de muita lucidez, entendeu que precisava preservar. Desse modo, a vegetação nativa (taboca, laranja d'água, catigueira, angico, Moreira, canafístula, pajeú etc.) está se regenerando e após mais de dois meses de estiagem, assistimos o espetáculo natural da água brotando vagarosamente na encosta da elevação, na vertente, entre a Serra do Marajá e Serra da Panelas (ou Colher de Pau).  

Indubitavelmente, foi motivo de muita alegria realizar a grande vontade de infância: Visitar in loco a nascente do Riacho Tuntum (do Refrigério).

No local, observou-se inicialmente, apenas o terreno úmido, caminhando poucos metros no sentido norte a área se encontra cada vez mais encharcada. Num determinado ponto no canal o Profº Jesus Melo iniciou a retirada das folhas e a parte mais superficial do solo, e em poucos centímetros, atingiu a uma composição pastosa. E rumando mais alguns, agora sempre no sentido norte, chegamos numa pequena cratera em forma vasilha, da qual se assiste um filete de água constante a sair e formar uma poça. Um pouco mais adiante o fluxo de água aumenta e forma-se aquário natural de 2m x 0,60m, no qual identificamos a existência de peixinhos.


A vegetação nativa está se regenerando na área da nascente do Refrigério.
Por volta das 16:30h, após os registros em vídeos e fotografias,  fizemos o retorno até os veículos por uma trilha mais a noroeste e dali rumamos até a residência do Srº Cipriano que nos aguardava.

O referido cidadão é detentor de uma riqueza natural extraordinária em sua propriedade, a qual fizemos questão de enfatizar, além de parabenizá-lo pela iniciativa espontânea de preservar a nascente do histórico riacho do Refrigério, além de propor formas alternativas de conservação da área. 

Após registros finais, a Equipe de desbravadores formadas pelo Profº Jesus Melo, Profº Jean Carlos Gonçalves, Profº Huiratonio da Silva e dos estudantes da 3ª série do Ensino Médio Integral do Centro Educa Mais Estado do Maranhão, Eduardo Gabriel Leão, Lucas da Costa e Paulo Sérgio Andrade, regressou à cidade de Tuntum.

Diante do exposto, cada vez mais se evidencia a ideia de que "as pessoas são os nossos melhores recursos". A iniciativa de cada um é primordial para que ações particulares se somem para uma convergência positiva e, por conseguinte, assegurar grandes e marcantes realizações.

Portanto, muito obrigado aos companheiros da Equipe aventureiros desbravadores do século XXI do Centro Educa Mais Estado do Maranhão, posto que se ignora até o presente momento uma expedição para a nascente do Riacho Tuntum, com os mesmos objetivos ou mesmo diversos.

Esse é o nosso legado! É assim que escolhemos ser lembrados!

Marcas indeléveis!!!

Tuntum, 25 de agosto de 2022.

Profº Jean Carlos Gonçalves.


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* Um remanso, um espaço mais profundo do Riacho , no qual crianças, jovens e adultos tomavam banho. Era um  espaço de brincadeiras, mas também um local em os adultos tomavam banho, após a jornada diária de trabalho ou mesmo onde animais bebiam. Se localizava há 100m a montante da ponte da Vila Mata.

**Região do município de Tuntum-MA, mais afastada da cidade, também conhecida como região das Areias, pontilhada de brejos e lagoas, cuja a vegetação de cerrado é característica.

Da esquerda para a direita: Profº Jesus Melo; os estudante: Lucas da Costa e Paulo Sérgio Andrade;
o Srº Cipriano, o Seu Budi, o Profº Jean Carlos,  o Srº Antônio Juscelino, o guia; Profº Huiratonio; o estudante Eduardo Gabriel Leão (sentado). 































terça-feira, 23 de agosto de 2022

A IGREJA EM TUNTUM

Geovany Alves da Silva¹
Igreja de São Raimundo Nonato
Tuntum-MA
O povoamento de Tuntum teve início na segunda metade do Século XIX, a partir da chegada de nordestinos retirantes da seca, principalmente dos Estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco, e Piauí e de municípios localizados no sertão maranhense: Pastos Bons, Barão do Grajaú, São João dos Patos, Buriti Bravo, Passagem Franca, Riachão, Sucupira do Riachão...

A grande quantidade de terras devolutas e férteis e as chuvas regulares compunham o principal atrativo para essas pessoas. O Japão (como os pioneiros denominavam a região) foi uma das últimas regiões do Maranhão a ser colonizada.

Os migrantes, além da experiência no cultivo da cana-de-açúcar, que muito melhorou a dieta alimentar na região pelo consumo de rapadura, melado, alfenim e outros derivados, trouxeram também a fé e o desejo de salvação.

Os trabalhos religiosos no início eram coordenados por leigos, visto ser uma região isolada e de difícil acesso; os padres responsáveis pela assistência espiritual do povo, pertenciam à Ordem do Frades Menores Capuchinhos, baseados na prelazia de Grajaú. Estes, somente apareciam no povoado em ocasiões especiais – as desobrigas: visitas periódicas de padres a regiões desprovidas de clero, com o fim de proporcionar aos fiéis católicos os sacramentos da Igreja.
Missionários da Ordem do Frades Menores Capuchinhos em desobriga. As viagens pelo sertão era realizadas a montaria de mulas, mais resistente aos longos e íngremes trajetos.
Os dias de desobriga no povoado eram muito festivos; as pessoas não prescindiam da melhor roupa e os mais aquinhoados as compravam de caixeiros viajantes ou deslocavam-se até a cidade de Pedreiras para comprarem tecidos especiais de que faziam as roupas consideradas apropriadas para a ocasião.

O primeiro desobrigador na região foi Frei ROGÉRIO DE CASTELANZA, seguido por Frei CAMELO DE BRESCIA e Frei NATAL DE BESANA.
O pioneiros missionários capuchinhos na vasta Prelazia de São José de Grajaú.
Da esquerda para direita: em pé, Emiliano Lanoti, Frei Marcelino, Frei Roberto ( que se tornaria posteriormente, Bispo), Frei Carmelo de Bréscia, Frei Heliodoro de Inzago. Sentado no centro, Frei Dom Roberto Colombo de Castallanza.
Vale registrar que Frei CARMELO DE BRESCIA foi acometido de “CESÃO” (malária), vindo a falecer no povoado de Canafístula em maio de 1925, onde foi sepultado e posteriormente teve os restos mortais levados para a Itália, por familiares.

Os desobrigadores faziam as celebrações primeiramente em uma pequena Capela construída em palha de bacacu, pela família do pai do Sr. Raimundo Carneiro da Costa ( Raimundo Santo) a qual se localizava na saída do povoado, na estrada da Serra Grande, atualmente sítio do finado Zeca do Manilin. Posteriormente, outra capela foi construída na atual Rua São Raimundo, pois o maior crescimento do povoado se dava naquela direção.
Missa em desobriga
O povoado continuava crescendo, a produção agrícola aliada ao extrativismo do babaçu atraia muita gente. Assim, em 07 de dezembro de 1954, deu-se o lançamento da PEDRA FUNDAMENTAL da Igreja Matriz, e terreno ao lado do antigo cemitério do povoado.

Em forma de cruz, em majestoso altar, e toda em pedra no estilo das construções da Europa medieval, foi uma verdadeira epopeia a sua edificação. Muitos trabalhadores: pedreiros, ajudantes, marceneiros, extratores de pedras, como o mestre Julião, que junto com os filhos trabalhava na pedreira localizada no confluência das ruas 12 de Setembro e Coelho Neto, próximo ao Olho d’água Mucuíba.

O êxito da obra foi conseguido graças ao gigantesco esforça desenvolvido pelos Capuchinhos de O. F. M (Ordem do Frades Menores), principalmente de Frei Aniceto (Antonio Porteri) e Frei Dionísio Guerra que saíram a pedir esmolas de porta em porta nas maiores cidades do Brasil.

Em 12 de setembro de 1955 é publicada a lei de criação do município de Tuntum, a emancipação política, sendo que a efetivação da autonomia administrativa só ocorreu e 27 de dezembro do mesmo ano, por Ato do Governador do Estado, Eugênio de Barros, o qual nomeou por decreto, o prefeito interino o Sr. Isaac da Silva Ribeiro.

No ano de 1958, ano da primeira eleição municipal, Tuntum já contava com uma população de mais de 20.000 pessoas.

Em 1959, a construção da Igreja já se encontrava com 7 metros de altura,, incluindo-se a sacristia; a nave principal estava no oitavo metro.
Frei Aquiles trabalhando como pedreiro na Construção de São Raimundo Nonato. O homem a sua direita, provavelmente é o Mestre Osvaldo, antigo mestre de ofício de Tuntum.
Já possuía um carrilhão de sinos comprados na Itália em 1956, por Frei Aniceto, pelo valor de CR$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil cruzeiros). Comprou ainda o relógio da Torre e materiais de acabamento, como: forro, vidro, ferragens de portas e janelas, rebites e etc...

Frei Aniceto trouxe ainda da Itália as imagens do Padroeiro (São Raimundo Nonato), do Sagrado Coração de Jesus, de Nossa Senhora de Fátima e de Jesus Crucificado; tudo trabalhado em madeira da VAL GARDENA.

Trouxe também seis castiçais em metal amarelo, com cruz de um metro; um Sacrário com trono de metal amarelo; quatro reliqueiros, um conjunto de Sacros todo em metal amarelo; dois reliqueiros pequenos; um harmonium de seis oitavas; um Parâmetro Solene bordado a ouro (casula e dalmáticas); e um tapete grande (36m) de Cânhamo em duas peças. Todo esse material ficou emprestado para a Matriz de Presidente Dutra, enquanto a Nova Paróquia não necessitasse. Depois, por ordem do Bispo Dom Emiliano, parte desse material ficou definitivamente com a Matriz de Presidente Dutra.

Em 07 de fevereiro de 1959, foi lavrado no livro de Tombo da Paróquia de São Raimundo Nonato, cujo Termo de Abertura foi assinado pelo Vigário Geral da Prelazia de Grajaú, Frei Adolfo Bossi, o Decreto de Criação da paróquia de Tuntum, nos seguintes termos:

 

                                    "DECRETO DE CRIAÇÃO DA PARÓQUIA DE TUNTUM

                  DOM FREI EMILIANO LONATI – O. F. M. CAPUCHINHOS (1), por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, fazemos saber que atendendo às necessidades espirituais da nossa Prelazia e ao bem dos Alunos que nos foram confiados, havemos por bem criar e instituir canonicamente e na forma do Direito Canônico, Paróquia, a cidade de Tuntum, com todo território que hoje constitui o município homônimo, tendo por limites os mesmos do dito Município, quando da sua criação. Declaramos, outrossim, que fica desmembrada da Paróquia de São Sebastião de Presidente Dutra e que tem por Orago São Raimundo Nonato.

                Este Decreto entrará em vigor no dia primeiro de março de 1959. Mandamos que seja publicado num domingo ou no dia Santo de Guarda à estação da Missa Paroquial, para que chegue ao conhecimento de todos e seja copiado nos livros de Tombo da Prelazia e das Paróquias de São Sebastião de Presidente Dutra e São Raimundo Nonato de Tuntum.

             Dado e passado na Cúria de Grrajaú aos sete de fevereiro de 1959."

A Paróquia de Tuntum instalada a partir de 01 de março de 1959, abrangia ainda os povoados de Mangaba, Lagoa de Baixo e Bancos, no município de Colinas.

Em 11 de fevereiro de 1959, chega a Tuntum Frei Pedro Jorge, nomeado vigário da paróquia de São Raimundo Nonato de Tuntum, com provisão de Pároco assinada por Dom Frei EMILIANO LONATI; Estava acompanhado por Frei DIONÍSIO GUERRA, Vigário cooperador de Presidente Dutra.

Embora fosse um dia chuvoso, havia um grande número de pessoas, que os acompanharam até um salão cedido pelo Sr. EDÉSIO GOMES FIALHO, o qual funcionava provisoriamente como capela.

O Vigário tomou posse e leu a Provisão e o Decreto de criação da Paróquia dando assim conhecimento aos presentes.

No início de 1960, o governo do Estado do Maranhão concedeu auxilio financeiro à Paróquia, no valor de Cr$25.000,00 (vinte e cinco mil cruzeiros), que serviu para iniciar as obras da Casa Paroquial do lado esquerdo da Igreja.

Em 06 de agosto de 1961, durante a celebração da missa vespertina pelo Pároco e com a presença de Frei Rogério de Milão e Frei Camilo de Pianborno, os quais retornavam das Missões em Barra do Corda e Grajaú, foi benzido o cruzeiro de cimento antes de ser colocado no alto da torre da Igreja. Após o sacrifício, Frei Rogério explica ao povo o sentido espiritual de colocar-se o símbolo máximo da fé cristã no ponto mas alto da cidade. Saíram então em procissão, homens carregavam a cruz nos ombros e o povo cantava: “bendita seja no céu é divina luz e nós aqui na terra louvemos a Santa Cruz”.

No dia seguinte (07 de agosto), Frei Aquiles, sempre esforçado, coordena os trabalhos de colocação do cruzeiro no alto da torre, o povo repetia: “Frei Aquiles é muito corajoso pra ficar lá em cima com esse vento todo”.

Instalada a cruz, seguiu-se um estampido de foguetes por todos os da cidade... Foi anunciado: “é uma nova vitória da cruz de Cristo Jesus, da sua Igreja e missionários capuchinhos que depois de tantas lutas, sacrifícios e humilhações conseguiram levantar no meio da mata, popularmente chamada JAPÃO, uma Igreja monumental construída em pedra – mas quantos sacrifícios e dificuldades... Quem escreve sabe!! Nos esperam nesta paróquia nova e sem possibilidades econômicas, onde tudo falta... mas Deus ajudou e sempre ajudará...” Assim, uma dura batalha vencida.
Ao fundo, a visão lateral do templo da Igreja Matriz. No centro, a Casa Paroquial.
É importante registrar que, a partir de 1963, o clima de violência e perseguição política reinava em Tuntum. Não havia políticas públicas de atendimento aos mais necessitados, as perseguições eram insanas. Desta forma Frei Pedro Jorge tentou em muitas ocasiões proteger o seu rebanho, interferia a favor dos mais humildes, entretanto, pouco podia fazer.

Com a ditadura militar, a partir de 1964, as perseguições aumentaram. As prisões arbitrárias, torturas, assassinatos, passaram a fazer parte da rotina do município, a população vivia apavorada. Nesse contexto, Frei Pedro Jorge, em várias ocasiões se indispõe com políticos locais, que tentavam de todas as formas obstaculizar se Ministério Sacerdotal.

Neste clima de tensão, em abril de 1964, Frei Pedro Jorge foi acusado junto om outras autoridades do município de serem COMUNISTAS, esta acusação foi feita inclusive na Assembleia Legislativa do Estado. Tal situação gerou revolta popular, porém o Padre pediu calma às pessoas. Dessa forma foi instaurado um “Inquérito Policial” para apurá-la, o que depois inocentou os acusados.

Em razão das perseguições, em 1965, Frei Pedro Jorge é substituído como Pároco de Tuntum por Frei Dionísio Guerra de Prímolo. Este, chegado ao Brasil em 1954; fora desobrigante em Presidente Dutra de 1955 a1960 e depois vigário da mesma Paróquia de 1960 a meados de 1965, quando foi transferido para Tuntum; sendo posteriormente transferido para Pedreiras e, em 1983; transferido para a Paróquia de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, na Cohab em São Luis.
Frei Dionísio Guerra de Prímolo.
Durante a sua permanência em Tuntum, onde passou a maior parte de sua vida missionária, construiu várias estruturas, as quais contribuíram tanto com a missão sacerdotal quanto no desenvolvimento, a saber: Casa das Irmãs, Obras Sociais, Escola de Artes e Serviços, Oficina Mecânica, Centro paroquial, Estádio de Futebol – Dom Adolfo Bossi; colocou ainda estátua monumento de São Francisco de Assis na praça da Matriz, semelhante ao existente na cidade de Milão, na Itália. Teve, portanto, grande atuação como religioso e na assistência social à comunidade.

Construiu ainda, várias capelas pela zona rural do município, acompanhando o crescimento demográfico.

Os jovens, que não dispunham de uma educação de qualidade, passaram a er a Escola Paroquial São Raimundo Nonato e a JAPREC – Junta Associativa Paroquial, Recreativa, Desportiva e Cultural; era uma resposta da Igreja à falta de espaços destinados ao congraçamento e diversão dos jovens.

As festas do Padroeiro tinham um forte sentido cristão e muita participação popular na sua organização. Os movimentos leigos da Igreja, como: os Vicentinos, o movimento de mulheres e dos jovens, tinham forte engajamento religioso.

Por todo esse trabalho, Frei Dionísio recebeu da Câmara Municipal de Tuntum, o título de Cidadão tuntuense.

Profº GEOVANY ALVES DA SILVA
Colaboração: João Almy Alves e Silva
Profº Geovany Alves da Silva, estudioso da história de Tuntum-MA e região da Mata do Japão.
À esquerda, João Almy Alves e Silva. Sobrinho do Profº Geovany. Ambos realizaram por décadas estudos e pesquisas sobre a geo-história da região da Mata do Japão. São descendente de uma da primeiras famílias que ocupara a lugar Tuntum no início do século XX.
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*Natural de Tuntum-MA, o Profº Geovany Alves da Silva é servidor público aposentado da FUNAI - Fundação Nacional do Índio. Bacharel em Ciências Contábeis.
Também é Licenciado em Letras Português/Inglês; Especializado em Literaturas de Língua Portuguesa e Inglesa; Especializado em planejamento e projetos. Além disso, fala: inglês, francês e espanhol. Geovany é tio de João Almy Alves e Silva, advogado, economista e funcionário do Tribunal de Contas do Estado/MA, seu grande parceiro nas pesquisas sobre a história de Tuntum e região. Infelizmente, João Almy foi vitimado pelo covid-19 em 2021.