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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

UMA BELA AULA DE DIREITO e de CIDADANIA



Uma manhã, quando nosso novo professor de "Introdução ao Direito" entrou na sala, a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Como te chamas?
- Chamo-me Juan, senhor.
- Saia de minha aula e não quero que voltes nunca mais! - gritou o desagradável professor.
Juan estava desconcertado. Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala. Todos estávamos assustados e indignados, porém ninguém falou nada.
- Agora sim! - e perguntou o professor - para que servem as leis?...
Seguíamos assustados, porém pouco a pouco começamos a responder à sua pergunta:
- Para que haja uma ordem em nossa sociedade.
- Não! - respondia o professor.
- Para cumpri-las.
- Não!
- Para que as pessoas erradas paguem por seus atos.
- Não!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?
- Para que haja justiça – falou, timidamente, uma garota.
- Até que enfim! É isso... para que haja justiça. E agora, para que serve a justiça?
Todos começávamos a ficar incomodados pela atitude tão grosseira. Porém, seguíamos respondendo:
- Para salvaguardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - perguntava o professor.
- Para diferençar o certo do errado... Para premiar a quem faz o bem...
- Ok, não está mal porém... respondam a esta pergunta: agi corretamente ao expulsar Juan da sala de aula?...
Todos ficamos calados e ninguém respondia.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não! - respondemos todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!
- E por que ninguém fez nada a respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las?
- Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos. Não voltem a ficar calados, nunca mais!
- Vá buscar o Juan - disse, olhando-me fixamente.
Naquele dia recebi a lição mais prática no meu curso de Direito.
Quando não defendemos nossos direitos perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia.

Fonte: texto recebido por e-mail

sábado, 19 de setembro de 2015

TUNTUM - O TOPÔNIMO

Por Jean  Carlos Gonçalves


               
Todos já ouvimos a frase: "No Coração do Maranhão  bate TUNTUM". Sem dúvida o enunciado é uma forma de identificar nossa cidade e também de nos auto reconhecermos tuntuenses. Mas por que TUNTUM? Qual a origem do topônimo? Há uma única versão para sua origem? Ou várias? Em caso de várias, alguma pode ser considerada correta? Ou todas possuem sua lógica? 

Na busca de contribuir para uma melhor compreensão, ou mesmo incitar o debate acerca dessas questões é que compartilho aqui uma síntese de algumas investigações.

Há várias versões para a origem do topônimo “Tuntum”, dentre as quais, existem duas que são mais aceitas. A primeira, atribui à origem da palavra “Tuntum”, ao som produzido por caçadores que batiam um cajado no chão para atrair caça. Ideia bastante aceita devido à abundância de animais na região: 
“A Srª. Maria do Anunciato Borges afirmou em entrevista concedida em 1995, que o pai dela, o Sr. Manoel José Pereira, dizia que o nome Tuntum é resultante do modo primitivo utilizado pelos caçadores para atrair animais. Consistia em bater no solo fofo com um pedaço de madeira, produzindo o som Tum...Tum...Tum... Truque muito repetido no mesmo local. (GAZETINHA DE TUNTUM, Ano I, nº. 3)”. 
O Srº Vicente Paiva Noleto, relatou que em 1965, José Sarnay, então candidato ao governo do Maranhão, em primeiro comício aqui na Cidade, teria iniciado seu discurso assim: “Povo de Tuntum! Das gameleiras do Tuntum de Cima às gameleira do Tuntum de Baixo! De onde os pioneiros caçadores com seus cajados atraiam as caças [...]". 

Outra versão seria o som produzido, a partir de uma queda d’água existente no riacho que banha a cidade e produzia (tum, tum, tum...). Esta sobrevive no imaginário popular e consta, inclusive, na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros editada pelo IBGE, em 1959: “[...] produzido pela queda de água de um riacho de igual nome e que banha a cidade.”

O Sr. José Costa Carvalho, o Deco, residente em Tuntum desde 1951, afirmou em depoimento que não só conheceu o referido “olho d’água”, mas que ajudou construir, ainda na década de 1950, um tanque em suas imediações para as pessoas tomarem banho, pois não havia serviço de abastecimento de água às habitações do povoado. Deco relatou que no local onde o veio d’água atingia a rocha se formou uma cratera em forma de vasilha, resultado de muito tempo da ação da água na rocha. O mesmo afirma que a fonte d’água se localizava acima da ponte metálica que atualmente liga o bairro Campo Velho ao centro da cidade e que desapareceu por causa da ação erosiva em função do desmatamento da mata ciliar do riacho, assim como aconteceu com a Cacimba da Otília e está ocorrendo com a Mucuíba, a Agogô, o Pinga, o Poção, o Pubeiro e tantos outros pontos do riacho Tuntum, que foram lugares de diversão, lazer e hoje habitam a memória de várias gerações e que relutam em sobreviver no imaginário coletivo. 

Há também quem afirme que o topônimo tenha origem nos batuques dos tambores indígenas que teriam ocupado o lugar antes dos colonizadores. Esta tese é bastante controversa, pois há tanto quem a defenda quanto quem a refute. 

O Sr. Raimundo Santos, nascido em 1908 e pertencente à família Carneiro Santos, uma das pioneiras no povoamento da sede, indagado sobre a existência de silvícolas na região, afirmou que quando sua família chegou a Tuntum não havia índios e que o topônimo não tinha qualquer relação com os “caboclos”, atribuindo o nome som da água que caía sobre as lajes do riacho. 

Entretanto, o Professor Geovane Alves, fundamento na literatura oral discorre sobre vestígios como: 
“[...] mangueiras e laranjeiras de aparência centenária; instrumentos de trabalho, utensílios para o preparo de alimentos e cerâmicas. Tudo cultivado e trabalhado bem ao modo dos índios Guajajaras, que, conforme corroboram os estudos realizados pela Professora Doutora Maria Elisabete Coelho, Universidade Federal do Maranhão, apresentados no livro A Política Indigenista do Maranhão Colonial, e pelo Antropólogo Édson Soares Diniz, da Universidade Federal do Pará, no livro Os Tenetehara-Guajajara e a Sociedade Nacional.” (GAZETINHA DE TUNTUM op. cit). 
Alves cita informações concedidas pelo Sr. Nito, neto de José Naziozeno, considerado o primeiro morador da sede municipal: 
“Dizia esse migrante cearense que ao chegarem (ele, pai e avô) ao local denominado Engenho do Caboclo, encontraram na grota lá existente, um pequeno dique, feito com toras de madeira roliças, cujas frestas estavam vedadas com cera de abelhas. Indícios fortes de que na área, além de índios, habitavam negros, provavelmente, fugidos de fazendas escravocratas de outras regiões.” (GAZETINHA DE TUNTUM, Ano I, Nº 3). 
O ex-prefeito Hélio Araújo, em trabalho monográfico advoga a tese de que Tuntum fora habitada inicialmente por silvícolas da tribo Gaviões, que teriam sido os primeiros habitantes do bairro Tuntum de Cima. Enquanto que no centro (Tuntum de Baixo) “agrupavam-se os índios Canelas” (ARAÚJO, 2013, p.58). 

Também presente na memória coletiva local, há a versão de que o nome TUNTUM teria originado do barulho produzido pela quebra de cocos nas pedras por cutias à margem do riacho. Esta tese é uma das menos aceitas, pois se trata de um animal de pequeno porte. Pois qual o tipo de coco era quebrado? O aqui existente babaçu? Tucum? Macaúba? Muito improvável. 

O Srº Paulo Andrade, antigo morador de Tuntum, 90 anos, atribui o topônimo às batidas produzidas em pilões para descascar arroz, atividade esta realizada por suas irmãs. O saudoso Paulo Andrade, afirma ainda que alguns quiseram mudar o topônimo para Babaçulândia, devido a grande quantidade de palmeiras de babaçu na região, ideia esta que não foi aceita pela maioria. No entanto, esta pesquisa não identificou outros que confirmassem tal versão. 

Por outro lado, uma coisa parece certa: o topônimo “Tuntum” não fora atribuído ao lugar imediatamente após a chegada dos primeiros moradores e, portanto, deve-se investigar mais aprofundamente para se ter uma ideia mais precisa de quando o lugar passou efetivamente a ser denominado como tal. Pois, as moradas dos primeiros ocupantes tinham nomes específicos: os Naziozenos – Engenho do Caboclo ou Brejo do Caboclo; os Carneiros Santos – Alto dos Carneiros (atual bairro Vila Mata); os irmãos Siriácos, no Siriáco (próximo ao riacho de mesmo nome, próximo ao atual bairro do Mil Réis); os Benvidos e Borges, no lugar Pacas, próximo ao olho d’água da Mucuíba; as famílias Morais, Pereira, Araújos e Ferreira, no Tuntum de Cima; Andrades, Tavares, no Tuntum de Baixo.

Assim, cabe indagar: A partir de que momento o lugar passou a ser denominado Tuntum? Ou teria sido uma localidade cujo topônimo prevaleceu em relação às suas contemporâneas? Em caso positivo, o que teria levado os antigos habitantes a aceitarem um termo comum? Questões que não querem silenciar, entretanto, passíveis de uma investigação mais criteriosa e que poderão ser respondidas a partir de novas fontes ainda ignoradas e/ou encobertas com a poeira do tempo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

DOMINGOS SOARES PESSOA IN MEMORIAN



Por Jean Carlos Gonçalves

No limiar da aurora do agosto de 1935, a gosto de Deus PAI, chegaria a este mundo uma criança, cuja trajetória de lutas, sacrifícios e conquistas, o centro-sul maranhense testemunharia. 

Regada às bênçãos do Senhor, sua passagem entre nós seria vida grandiosa, uma verdadeira providência, para aqueles que dele dependeram e para os que o conheceu.

Nascido em 04 de agosto de 1935, em Angico, localidade do município de Passagem Franca-MA, Domingos era o quinto dentre os onze filhos do casal Francisco Soares Pessoa e Ana Soares da Costa.

Forjado desde cedo pelos os ensinamentos do pai no labor diário, em cada palmo de terra cultivado, em cada novilho campeado na Chapada e no Cerrado do Sertão passagense – O menino se fez homem!

Domingos Pessoa, incorporou a figura do típico sertanejo. Homem de coragem, de disposição, no que concerne, a defesa e bem-estar de seus familiares, especialmente, da esposa e dos filhos. Família esta, gestada no enlace matrimonial com Luísa Rodrigues Pessoa. Uma vivência feliz de mais 60 anos, com quem teve oito filhos, dos quais sete vivos, além de, vinte e dois netos e quinze bisnetos.

Um HOMEM que personificou a coragem, a vontade de vencer, de viver. Desejo, sentimentos e ações orientados pelos valores de honestidade, humildade, simplicidade, serenidade, espírito ordeiro, espírito de paz.

Sim, o pacifismo talvez seja o traço que melhor sintetiza a sua personalidade, pois o modo de encarar aos problemas e desventuras que enfrentou durante sua existência, sempre foram orientadas por muita temperança e paz.

Aliás, em nossas vidas, as dificuldades, os dilemas são constantes. Todavia a esperança, a fé inspira nossas ações. E conhecendo um pouco a história do Srº Domingos Pessoa, é inevitável lembrar de uma passagem bíblica, do livro de Gêneses, “Ora disse o Senhor a Abraão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de te farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção”. (Gêneses, Cap. 12, v.1-2)

Guardada as devidas proporções, acreditamos piamente que Domingos Pessoa, a exemplo do Patriarca Abraão, também atendeu a um chamado divino, quando frente às dificuldades vivenciadas no Sertão de Passagem Franca, resolve partir para estas paragens, que os antigos denominaram: Mata do Japão, “A terra prometida”. Região de chuvas regulares e terras férteis. Elementos essências estes, que unido ao sonho da posse de um pedaço terra para nela plantar e prover o seu lar, motivaram Domingos em sua jornada para cá.

Chegando inicialmente em 1966, no povoado Generosa, município de Joselândia-MA, onde exercer seu ofício de lavrador. Muito afeito e afeto ao trabalho, Domingos Pessoa tornou-se proprietário de terras, pecuarista, e posteriormente, fez empreendimentos, nos municípios de Barra do Corda e Tuntum.

Em 1981, transfere domicílio para a cidade de Tuntum, na qual se destacou no ramo de beneficiamento de arroz, sendo proprietário de uma grande usina beneficiadora, quando Tuntum era destaque na produção agrícola, inclusive exportando para outros estados.

Aqui, juntamente com sua família conquistou o respeito do povo tuntuense, facilmente percebido pela reputação que o sobrenome PESSOA carrega e representa nesta cidade.

Os seus filhos, trilharam caminhos semelhantes ao do pai. Quer no espírito trabalhador, empreendedor, quer no exercício das virtudes atribuídas ao RESPEITÁVEL PATRIARCA.

Assim, sob ou auspícios da misericórdia e das bênçãos de Deus, que lhe concedeu a graça de seu caráter, Domingos Pessoa, formou honrada e abençoada descendência.

E nesse momento de tristeza e consternação pela sua partida, convido a todos: D Luisa, aos filhos: Antônio Luís, João Luís, Miguel, Nilson, Luzinete, Reginaldo, Irisneide, familiares, parentes, amigos, irmãos presentes...Que miremos no exemplo de Esposo, Pai, Avô, Irmão, Cidadão e Ser Humano, que Domingos Sores Pessoa assumiu em sua vida terrena. 

Guardemos o seu legado, como forma regozijo, bálsamo, refrigério para amenizar a dor da separação. Na certeza de que Deus Pai, o abraçou no plano celeste.

O nosso tributo a este grande e honrado PATRIARCA: Domingos Soares Pessoa!



terça-feira, 15 de setembro de 2015

OS GRITOS CONTRA OS DESMANDOS ECOAM

             Recebi agora pela manhã, um texto de um CIDADÃO TUNTUENSE REVOLTADO, com os desmandos do Prefeito de Tuntum. O Cidadão  disse que há tempos tinha vontade de se manifestar, mas tinha receio de retaliações. Entretanto, motivado com a atitude do administrador do Blog Ecos de Tuntum, que ontem escreveu e postou "A ESPERANÇA É A PRIMEIRA QUE MORRE", resolveu enviar um texto, expressando sua indignação com a calamidade promovida por essa horrorosa e desastrosa gestão atual. 

             Segue abaixo o texto na sua íntegra...


COM A RECENTE PERDA DO FPM A ESPERANÇA É A PRIMEIRA QUE MORRE

"A esperança é a primeira que morre junto com a dignidade de toda a população tuntuense. Os constantes atrasos salariais, já se vão 5 meses, deixa toda nossa cidade a beira do colapso financeiro, moral e psicológico.

O prefeito ao não pagar os servidores municipais comente um atentado contra a dignidade de todos os servidores municipais; gera insegurança em todas as relações sociais dos tuntuenses. Como pode um pai ou uma mãe ficar 5 (cinco) meses: isso mesmo 5 meses, sem honrar os compromissos assumidos? Hoje não resta ao menos, força e sentido aos servidores e população em geral.
Senhor prefeito, respeite cada pai e mãe que depende do suor do labor de cada dia para comprar o pão e o leite para suas crianças.

Nesses 5 meses de atraso salarial o prefeito não mediu esforços para gastar e gastar com seus apaniguados: são inúmeros os que vivem às custas do atraso dos salários e sofrimento da população. Também a atual administração realizou verdadeira gastança desgovernada na realização de eventos, com a promoção de atrações e “bem-estar” de alguns poucos; tudo a custas dos salários dos servidores.

A pergunta que não quer calar: o que será feito agora senhor prefeito?
A crise se agravou, o cenário nacional vem se deteriorando dia após dia, o Fundo de Participação dos Municípios – FPM, somente em setembro, teve queda de 38%, o que será feito agora?

Outra questão que não cala: qual o motivo dos atrasos nos últimos meses? Dinheiro certamente havia, caso contrário a gastança desgovernada teria cessado a exemplo das festividades de aniversario dos 60 anos de Tuntum que teve de tudo, afagos, massagens de egos, teve até oposicionista que se melindrou porque o Prefeito não fez fuso da palavra aproveitando que o COLISEU aliás, a praça estava repleta circo armado só faltou pão.  Então só resta concluir que não haverá compromisso da atual gestão com os servidores, usados e abusados pelo atual prefeito. 

Prefeito olhe nos olhos de cada criança, cada jovem, cada pai e mãe tuntuense e diga: qual o motivo dos atrasos salários?


Certamente não haverá resposta, pois não há compromisso com as famílias, não há compromisso coma população que sofre em cadeia os efeitos da desgovernada gestão. Todos sofrem, homens, mulheres, jovens, crianças, o mercado, as padarias, os salões de beleza, os mercadinhos, os agricultores; todos em contínuo sofrimento em razão da inconsequência das ações do prefeito.

Não resta opção a não ser entrar na justiça contra a prefeitura. Somente o Poder Judiciário pode pôr limite aos desmandos do senhor prefeito. Outra opção deveria partir do próprio prefeito admitindo a ausência de capacidade administrativa, tendo o ato de grandeza, renunciando ao seu mandato e livrando a população da sua incompetência administrativa.


Passou do momento de tomarmos uma posição assertiva, escolhermos um lado: o lado da população, o lado dos servidores, o lado dos homens e mulheres de bem de Tuntum!"

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A ESPERANÇA É A PRIMEIRA QUE MORRE

Por Jean Carlos Gonçalves

A primeira vista, o título acima sugere o que há de mais pessimista aos olhos daqueles que exalam otimismo e tem na fé o refrigério para a superação das dificuldades ora vividas em todo o país e, mais especificamente, no caso de Tuntum.

Na verdade, sempre busquei alimentar esperanças de que os problemas mais gritantes ao menos seriam amenizados, até porque na condição de profissional da educação que sou, não posso propagar a desesperança, nem deixar de vislumbrar alternativas e possibilidades possíveis para superação de tais mazelas. 

Entretanto, devo assumir minha posição de responsabilidade e compromisso com a verdade, com a realidade objetiva que assistimos e/ou fazemos diariamente em Tuntum.

Cansado de discursos vazios e hipócritas que propalam justificativas absurdas que expressam a mais fidedigna representação da imbelicidade humana, grito para quem quiser ouvir: CHEGA DE TANTA DEMAGOGIA.

Digo nesses termos, porque já cansei de ver e ouvir algumas pessoas se utilizarem da fé, distorcerem as Sagradas Escrituras, utilizando o nome de Deus em vão para justificar ou para conformar os oprimidos, que ainda não receberam o salário referente ao mês de MARÇO.



Citam versículos da Bíblia, pensamentos de otimismo e esperança porque não estão na mesma condição daqueles trabalhadores ultrajados e da população em geral que assiste a um dos piores governos da história deste município.

É verdade que o discurso dos opressores ganha fôlego em meio a essa crise geral, que só se agrava, especialmente quando o Conselho Nacional dos Municípios divulga em seu portal na internet, uma redução no primeiro repasse do Fundo de Participação do Município-FPM, neste mês de setembro, 38,07% a menos em ralação ao mesmo período do ano passado. 

A questão que incomoda os tuntuenses é: Será que o Prefeito ainda pagará os salários atrasados? 

Alguns mais céticos acreditam que o calote é inevitável. Especialmente, porque o mandatário do município continua suas investidas para cooptar velhos rivais e todos sabem que adversários não costumam aderir sem contrapartida, sem retorno, sem regalias.

Terceiro e quarto, da esquerda pra direita, prefeito Tema e Jairo Brito, este histórico adversário do primeiro.

Segundo e terceiro, da esquerda pra direita, Riba Soró, antigo oposicionista selando acordo de adesão com o Prefeito Tema

A crise é geral. É inegável, posto que está evidente. Sentida na carne pelo brasileiro. Todavia, não podemos admitir que instabilidade econômica seja a mais perfeita maquiagem para camuflar as rugas da ingerência, incompetência, corrupção e má fé do governo em todas a instâncias.

Eis aí o preço pela perpetuação do poder, das negociatas com as empresas, dos favorecimentos aos “amigos” financiadores de campanha, dos privilégios aos apadrinhados, os resultados dessas práticas espúrias está nitidamente no cotidiano de nosso município, evidenciando a condição deplorável de nosso povo. 

Quem não desterra daqui vivencia um caos social: falta de infraestrutura urbana (ruas esburacadas, redes de esgotos a céu aberto, etc.), falta de iluminação pública na maioria das ruas (enquanto pagamos taxa de iluminação que vai para os cofres do município), matadouro público fechado por ordem judicial por questões sanitárias há quase dois anos (o gado é sacrificado em Presidente Dutra, o que aumenta o preço da carne), comércio estagnado (alguns estabelecimentos fechando), salários de servidores (inclusive concursados) em atraso há vários meses, e tantos outros. 

Matadouro público interditado há quase dois anos, por questões sanitárias e de infraestrutura

A situação é tão caótica que o Vigário da Igreja Católica, Frei Leonardo Trotta, na missa das 6:00h do último domingo 13/09, dissecou todo o panorama vivido pelo povo.

Num discurso coerente e lúcido, citando diretamente o nome do prefeito Tema, o Padre disse aquilo que a maioria gostaria de dizer. A crítica de Frei Leonardo, parte da prioridade que governo deu às festividades do aniversário de cidade nos dias 11/09, com um show católico do cantor Davidson Silva do Rio de Janeiro e com o Mega Show do dia 12/09, que contou com a apresentação de Mara Pavanelly, uma das maiores estrelas do Forró na atualidade. Foram destinados ao Município a cifra de $154.500,00 reais. Gastos exorbitantes e desnecessários na opinião do Religioso, diante do cenário de crise vivido em Tuntum, principalmente, no tocante aos salários em atraso de boa parte dos servidores públicos.


Frei Leonardo Trotta, à esquerda

A atitude do laborioso Frei Leonardo carrega um sentido simbólico muito forte, uma vez que está investido de credibilidade e autoridade para tratar dos desmandos em Tuntum, pois o mesmo NUNCA se alinhou a qualquer grupo político partidário.

Infelizmente, aqueles que são beneficiados e/ou não estão com salários atrasados relutam em reconhecer a incompetência do governo municipal e ainda, tentam desqualificar o discurso do Vigário.

De um lado, gestão pífia e alienação, com justificativas absurdas, do outro, tensão, desespero, ansiedade, e desesperança. Assim, diante do exposto, sem ações, ou se quer, satisfação pública em relação aos problemas de Tuntum por parte de quem governa, nos resta concluir com puro realismo e não como chiliques de oposicionismo desvairado, de que alguns vassalos bajuladores de plantão acusam - “A ESPERANÇA É A PRIMEIRA QUE MORRE”

sábado, 12 de setembro de 2015

A EMANCIPAÇÃO DE TUNTUM

Antiga Prefeitura Municipal de Tuntum

      A proposta de emancipação de Tuntum, partiu da iniciativa pessoal do Srº Ariston Arruda Léda, que era residente em Tuntum e havia sido prefeito de Presidente Dutra (1948-1951).

     Os anos 1950 foram muito turbulentos na política em todas as esferas de poder, federal, estadual e municipal. Devido ao panorama de instabilidade e tensão, se assiste, em Presidente Dutra, uma ferrenha disputa pelo poder local entre as famílias Gomes Gouveia e Sereno.



     Diante da instabilidade local, Ariston Leda que após o término de mandato de prefeito ocuparia a Presidência da Câmara Municipal, passa a articular na época com o seu sobrinho, o Deputado Estadual Eurico Ribeiro, o plano de separação de Tuntum do município de Presidente Dutra.



    Ex-Promotor de Justiça em Comarcas do interior do Estado, o jovem Eurico Ribeiro, era muito influente. Ambicioso politicamente, o deputado via na proposta de emancipação uma excelente oportunidade de controlar o eleitorado do futuro município.


     Assim, em 1º de setembro de 1955, o projeto de lei fora aprovado na Assembleia Estadual, sendo a Lei Nº 1362/55 sancionada e publicada pelo então governador do Maranhão, Eugênio Barros, em 12 de setembro do mesmo mês, data escolhida para o aniversário da cidade. 

     Entretanto, a instalação do município somente ocorreria em 27 de dezembro do mesmo ano, ocasião em que o Governador, nomeou por decreto, o Srº Isaac da Silva Ribeiro para o cargo de prefeito do município recém criado. 

     Com eleições previstas para 03 de outubro de 1958, Isaac Ribeiro permaneceria no cargo até 31 de janeiro de 1959, quando da posse do futuro eleito.
     Sem poder legislativo local e governando o município por meio de decretos, o Prefeito Isaac Ribeiro, permaneceu até 31/01/1959. O mesmo adotou as primeiras medidas no sentido de dar a cidade um aspecto de sede administrativa do município.
Rua Frederico Coelho

Rua Senador Archer

       Logo, nomeou os primeiros funcionários, e articulou a instalação de instituições públicas. Criou, ainda, as primeiras escolas primárias e agências arrecadadoras, além de nomear ruas e logradouros da cidade, com nomes de importantes personagens de nossa história. 
Escola Reunida Isaac Martins

      A partir daí, os mandatos que se seguiram, resultaram da expressão da maioria do povo, em campanhas eleitorais nem sempre tranquilas. Contudo, Tuntum com sua emancipação em 1955, passa a escrever de forma autônoma sua própria história.
Casa Comercial, Armazém de tecidos de propriedade do Sr. Gerardo Uruçu

A FORMAÇÃO DO POVOADO TUNTUM

Por Jean Carlos Gonçalves
Praça São Francisco de Assis, centro de Tuntum

Surgida nas últimas décadas século XIX, Tuntum tem sua origem diretamente relacionada à iniciativa de retirantes de outros estados nordestinos, especialmente do Ceará, que impulsionados pelas secas periódicas, especialmente a grande seca de 1877, se estabelecem nessas paragens fascinados pelo sonho de posse da terra e de usufruir de sua fertilidade.
Retirantes, 1944, Cândido Portinari

Localizada no centro-maranhense, Tuntum se situa numa porção, a qual os antigos denominaram de: A Mata do Japão. Em referência a uma terra distante e de difícil acesso, pois se situava numa região de densa floresta, quase intransponível, o que também explica o seu desbravamento tardio.

Ilustração da Mata do Japão

O pioneirismo do povoamento do que se tornaria a cidade de Tuntum é atribuído ao cearense José Naziozeno dos Santos e família, que aí fixaram moradia por volta de 1890, no lugar Brejo do Caboclo Naziozeno*, atraído pelas terras férteis e pela abundância de caça e mananciais de água. 

Nos início do século XX, chegaram outras famílias com as mesmas motivações de Jose Naziozeno. Logo em 1902, também supostamente cearenses, vindos de Barra do Corda, chega o casal Manoel José Pereira e Alexandrina, que para cá trouxeram os genros Alípio Benvida, Manoel Benvida e Anunciato Borges, onde fundaram morada no lugar Pacas, próxima à fonte d’água Mucuíba, no final da rua 12 de setembro.

Proveniente do sul do estado, região de mais antiga ocupação, a família Carneiro Santos chega em 1906 e se estabelece no Sítio do Alto dos Carneiros, hoje, bairro Vila Mata. Na mesma década os irmãos Siriáco, no bairro Mil Réis. Na década de 1910, chega os Coelhos no povoado Arroz, os Pereira Araújo e os Morais no Tuntum de Cima e outras famílias, em vários casos devido à seca de 1915. Em 1920, chega Francisco Andrade e nos anos seguintes a família Correia Lima, Tavares Viana, Pinheiro, etc.. 
Em fins da década de 1920 e início dos anos 1930, Tuntum aparece com um importante povoado do município de Barra do Corda.
Na década de 1930, destaca-se a chegada do Srº João Fortaleza, o Joazinho Cearense. Segundo o IBGE os Correias teriam chegado no mesmo período, entretanto, há relatos que desde 1916, Estevam Correia, já havia se estabelecido no Olho D'água dos Correias. Várias outras famílias também se fixaram, em sua maioria, fustigadas pela seca de 1932. 

Em 1936, Estevam Correia inaugura o primeiro comércio varejista. Nos anos 1940 a família Leda, a Família Cruz (Juá) e outras famílias chegam ao já promissor povoado. Na mesma década o Srº Paulo Andrade se destaca como importante comerciante do atacado e verejo. No ano de 1948, Frederico Coelho, um grande empreendedor, compra o primeiro caminhão, além disso instala a primeira indústria de beneficiamento de algodão, indicativo de uma vida social e econômica considerável.
Rua Frederico Coelho, na imagem o primeiro caminhão de Tuntum

Nos anos 1950, os Uruçús, Gonzaga da Cunha, Tavares Araújo.  Além disso, chegam definitivamente os frades capuchinho, importantíssimos na história da cidade. É na mesma década que Tuntum assiste a uma grande leva migratória, motivada pela seca de 1952, e que de tão numerosa, credencia o expressivo povoado à emancipação.

Construção da Igreja Matriz de São Raimundo Nonato

É nesse contexto de formação, longe as das lentes do Estado, ou seja, sem o devido conhecimento das autoridades do governo e de crescimento desordenado, mas se constituindo como um dos mais importantes povoados, agora do município de Presidente Dutra, que nasce o jovem município de Tuntum.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

CONHECER PARA INTERVIR NA REALIDADE SOCIAL!


Foi com esse lema do título acima, que os estudantes das turmas de 3º Ano de ensino médio do Centro de Ensino Estado do Maranhão, o Bandeirante de Tuntum, se digiram à Câmara Municipal de Tuntum, para uma aula diferenciada.





Sob a orientação do Profº Jean Carlos Gonçalves, que ministra aulas de História e Filosofia, os alunos compareceram a sessão plenária que tinha na pauta a votação do  projeto de lei que prever a autorização para a Prefeitura contratar uma instituição para promover o tão aguardado concurso público municipal.

Além de buscar informações acerca dos assuntos em pauta e assistir aos debates entre os representantes do vereadores situacionistas e oposicionistas, os estudantes tiveram uma conversa informal com o Presidente da Casa, Nelson do Nanxi, e com os líderes dos blocos governista e oposicionista, Marcos Cunha e Jeová Soares, respectivamente.





Com o Presidente a conversa foi motivada devido aos problemas de acessibilidade identificados no prédio do Legislativo municipal. 
A atual gestão da Casa construiu recentemente uma rampa de acesso para portadores de necessidades especiais e idosos. Entretanto, está totalmente fora dos padrões exigidos, visto que é bastante inclinada, não possui corre-mão e não garante acesso a algumas dependências da área externa do prédio.



Após ser questionado pelo aluno Raimundo Francisco do 3º Ano A, que é cadeirante, o vereador e Presidente Nelson do Nanxi, se comprometeu imediatamente em providenciar as devidas adequações, e garantiu que em até 30 dias o problema estará solucionado.

O ápice da visita se deu quando da entrevista com os líderes do governo e da oposição, momento no qual a estudante Alice Alves (3ºB) e Douglas Aquino (3ºA), fizeram indagações sobre o concurso público, no tocante a quantidade bem abaixo do esperado (298 vagas), visto que a demanda cinco vezes maior. Além disso, os alunos pediram esclarecimentos sobre políticas publicas que favoreçam o respeito e dignidade de jovens, mulheres e idosos.
Um momento marcante, de exercício cidadania, bastante elogiado por todos os presentes, especialmente pelos vereadores Idaspe, Josivan Bílio, Jeová Soares, Elias Brasil, Ivaldo Bílio, Manoel Paca e Marcos Cunha, que se pronunciaram na tribuna.






Desse modo, a proposta pedagógica apresentada pelo Profº Jean Carlos, foi devidamente executada pelos educandos, que passaram a entender o sistema de funcionamento do Legislativo municipal; conhecer a dependências internas da Prédio; registrar e documentar através de fotografias e vídeos/entrevistas a atividade; puderam, ainda, analisar e avaliar o nível de comprometimento de cada vereador; comparar os discursos dos edis, a partir daí;  elaborar suas conclusões no tocante ao posicionamento da ala governista e oposicionista, em relação a projetos de interesse público. 


Além disso, tiveram a oportunidade de exigir empenho dos vereadores no tocante a efetivação de políticas públicas que favoreçam a sociedade em geral. 



FALECE EM SÃO LUÍS O PATRIARCA DA FAMÍLIA PESSOA EM TUNTUM.

                                             Domingos Pessoa



          Veio a óbito no final da manhã de hoje, em São Luís-MA, aos 80 anos de idade, o Srº Domingos Soares Pessoa, devido a complicações no sistema cardiovascular.


          O patriarca da família Pessoa em Tuntum, era natural do município de Passagem Franca, e chegou a região no início dos anos 1960.

          Inicialmente, fixou residência no povoado Generosa, município de Joselândia-MA, onde trabalhou como lavrador. Muito trabalhador, Domingos Pessoa tornou-se proprietário de terras e pecuarista, fazendo investimentos posteriormente, nos municípios de Barra do Corda e Tuntum.

          Em seguida, transferiu domicílio para a cidade de Tuntum, residindo no mesmo endereço, Rua Ariston Leda, por mais de 40 anos.

          Nas décadas de 1980 e início dos anos 1990, se destacou no ramo de beneficiamento de arroz, sendo proprietário de uma grande usina beneficiadora que funcionava em ritmo intenso, quando Tuntum se destaca na produção agrícola, inclusive exportando para outros estados.

          Alguns de seus filhos seguiram o seu espírito de empreendedorismo, destacando-se na economia de Tuntum, como empresário Miguel Pessoa, com investimentos no comércio varejista, hotelaria e pecuária. Além de seus irmãos, os empresários e comerciantes Reginaldo, Luzinete e Antônio Luís, este seu primogênito. E ainda os criadores Nilson e João Luís. Este residente no povoado Cajazeiras, município de Barra do Corda, localidade em que o pai tinha uma grande propriedade. A lista de filhos se completa com Irisneide, que embora não seja filha biológica, fora criada na condição de filha legítima, nunca havendo qualquer tratamento desigual em relação aos demais.

          Domingos Pessoa, deixa, portanto sete filhos, que lhe renderam 22 netos e 15 bisnetos. O mesmo formou essa honrada e numerosa família com sua esposa Luiza Pessoa, com quem viveu feliz por mais de 60 anos.

         Assim, registramos aqui a importante contribuição desse Cidadão de honrada prole, trabalhador e empreendedor, e sobretudo, um pacifista por excelência, para os municípios da região, especialmente, Tuntum. 

         O blog Ecos de Tuntum se solidariza com a família enlutada, prestando as mais sinceras condolências, expressão de nosso sentimento de consternação!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

PROJETO FRANÇA EQUINOCIAL: A tentativa francesa de colonização do Maranhão no século XVII

Por Euges Silva de Lima*

Palácio dos Leões, sede do Governo do Maranhão, marco zero da cidade

           A presença francesa no Norte do Brasil, no século XVII, deve ser entendida dentro do contexto das disputas franco lusitanas. Num primeiro momento, meramente restrito à concorrência da indústria extrativa do pau Brasil e outros gêneros tropicais, para depois se tornar projeto de colonização com vistas a um estabelecimento permanente. Embora de iniciativa particular, o projeto de colonização francesa em terras do Maranhão contou com a chancela real.
          Na medida em que a colonização portuguesa foi se tornando mais efetiva ao longo do litoral brasileiro, os franceses foram sistematicamente avançando em direção ao norte, as incursões francesas à costa do Brasil no decorrer dos séculos XVI e XVII, ocorreram no sentido sul/norte. Observe que as invasões gaulesas iniciaram-se no Rio de Janeiro em 1555 e culminaram no Maranhão em 1615.
          Isso se deve principalmente em razão da união ibérica, em 1580. A exigência espanhola era que a ocupação e colonização do Brasil se desse em direção ao norte, ao contrário do que estava acontecendo até então (sentido sul). A intenção espanhola era proteger suas minas localizadas na região do Peru, de possíveis invasões estrangeiras.
          O Maranhão e o Amazonas constituíam portas de entradas para essas regiões mineradoras. É nesse sentido que a colonização portuguesa, pós união peninsular, coincidiu com o banimento dos franceses dessas regiões mais localizadas ao norte. O Maranhão passou a ser alvo dos franceses, na medida em que constituía ainda uma das poucas áreas restante do litoral brasileiro livre da ação portuguesa.
          Embora o nome de Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière seja comumente evocado como o principal líder da expedição francesa às terras maranhenses, é necessário, contudo, ressaltar a imprescindível participação de François de Razilly nos preparativos e administração dessa empresa, não só em termos religiosos como sugeriu o capuchinho francês Claude d’Abbeville, mas principalmente no que diz respeito à articulação para reunir recursos para o bom andamento dos negócios.
         O projeto: França Equinocial era uma empresa cuja liderança era dividida entre Razilly e La Ravardière, sendo que em momento algum, o Senhor de Razilly assumira papel secundário. Se La Ravardière assume posição de liderança principal nos acontecimentos finais de 1614 a 1615 no Maranhão, isso se deu, certamente devido à ausência de Razilly que se encontrava na França.
        Se por um lado, não podemos negar a intenção francesa em fundar uma colônia em plagas do Maranhão, por outro lado, os três anos e quatro meses que aqui permaneceram os franceses não foi tempo suficiente para que eles se consolidassem, no sentido de estabelecerem uma colônia propriamente dita ou até mesmo uma cidade. A chamada França Equinocial não conseguiu criar raízes, o projeto francês ainda estava em andamento quando da chegada dos portugueses.
         A experiência francesa no norte do Brasil, em todos os seus aspectos, não chegou a se consolidar enquanto modelo de colonização típica do século XVII, as relações entre metrópole e colônia durante 1612 a 1615 não foram tão regulares assim, a ponto de se estabelecerem ali os fundamentos necessários que envolviam as relações metrópole e colônia, típicas do sistema colonial. Portanto, mais pertinente seria entendermos essa ocupação dos gauleses no Maranhão, como uma tentativa de colonização que foi frustrada pela vinda dos portugueses e não fundação de algo no Maranhão, seja uma colônia, seja uma cidade.
          Na aventura francesa do Maranhão seiscentista, os indígenas eram peças- chave nos métodos de cooptação dos brancos. As alianças entre mairs (franceses) e Tupinambás, demonstram uma relação com o “outro”, feita com base em negociações comerciais, ao mesmo tempo em que também se constituía uma política para se viabilizarem em terras da América.
          Sem o apoio das tribos Tupinambás do Maranhão, dificilmente os franceses tinham condições de se estabelecerem por estas terras. Os “Papagaios Amarelos”, como eles eram chamados pelos indígenas, tinha tanta consciência disso que procuram estabelecer leis que protegessem os índios, pois sabiam que o sucesso da empresa, dependia, do bom relacionamento entre os europeus, mas principalmente da relação amistosa entre franceses e nativos.
          Os Tupinambás que foram descritos por cronistas franceses do início do século XVII, apesar de terem apresentados características semelhantes dos que habitavam outras regiões do Brasil, estavam razoavelmente preservados em sua cultura primitiva, visto o isolamento do Maranhão da ação de colonizadores portugueses antes da chegada dos franceses. Abbeville e d’Evreux, quando chegaram ao Maranhão em 1612, encontraram esses índios quase nada modificado culturalmente, ao contrário de franceses lançados em terras maranhenses, anterior à expedição de La Ravardière que já se encontravam praticamente “indianizados”.
          Os Tupinambás maranhenses procuraram proteger sua comunidade, nesse sentido, a iniciativa em aliar-se aos franceses ocorre da necessidade desses índios de se protegerem da dominação lusitana, preservar sua cultura e suas próprias vidas. Emigrados de Pernambuco, fugindo da escravidão imprimida pela ação colonizadora portuguesa, assim como, em busca de uma possível “terra sem mal”, os Tupinambás buscaram estabelecer alianças com os franceses que disputavam com Portugal a posse do norte do Brasil.
          O sonho francês acalentado há muito tempo em fixar um estabelecimento colonial no Brasil, mais uma vez não dá certo. O norte brasileiro não pertenceria aos mairs e a dúvida que durou muito tempo acerca da posse do território brasileiro, como assinalou o historiador Capistrano de Abreu, se definiria a favor dos perós (portugueses). Depois da derrota fragorosa na batalha de Guaxenduba e a partir da expulsão definitiva comanda por Alexandre de Moura, chega ao fim a pretensão francesa em colonizar o Maranhão. A França Equinocial entra, portanto para o rol das tentativas mal sucedidas de ocupação francesa em terras brasileiras.
 

EUGES SILVA DE LIMA é professor de história das redes públicas de educação estadual do Maranhão e municipal de São Luís, com especialização em teoria e metodologia para o ensino da história pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), secretário de Cultura do Sinproesemma e vice- presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O grito do Ipiranga: uma fraude?

Por Joelza Ester Domingues

O quadro O grito do Ipiranga ou Independência ou morte, de Pedro Américo é uma das mais emblemáticas imagens da História do Brasil. A obra foi feita por encomenda do governo da província de São Paulo para ocupar o salão de honra do Monumento do Ipiranga, prédio que estava em construção (atual Museu Paulista/USP).
Pedro Américo a executou em Florença, na Itália, onde residia então, e a concluiu em 1888. É um painel enorme, com 7,60 m x 4,51 m (sem contar a moldura), que foi chumbado na parede do museu. Hoje, com o museu em restauração, a tela não pode ser removida e, mesmo que pudesse, não passaria por nenhuma porta do lugar.

A pintura de Pedro Américo faz parte da chamada escola romântica, um estilo artístico que vigorou na Europa em meados do século XIX e que teve, entre suas características, a exaltação dos sentimentos nacionalistas. Os temas históricos que glorificavam o passado nacional tornaram-se muito populares. Em suas obras, os pintores procuravam comover o espectador, exaltar a coragem, dignificar e heroicizar os personagens nacionais.
Pedro Américo, que estudou e viveu na Europa na segunda metade do século XIX, já tinha executado outras pinturas no estilo nacionalista romântico como A Batalha de Campo Grande (1871), Fala do Trono (1873) e Batalha do Avaí (1874). O sucesso de O grito do Ipiranga (1888) foi seguido de muita polêmica pois a obra foi acusada de plágio da tela 1807, Friedland, de Ernest Meissonier, pintada em 1875, apesar de Pedro Américo só vir a conhecer a obra anos depois.
Sendo uma pintura romântica de cunho nacionalista, O grito do Ipiranga glorifica e idealiza o passado usando, para isso, de figuras e composição de cena nem sempre fiéis à história. O próprio Sete de Setembro é hoje objeto de discussões pelos historiadores que tem refletido sobre a data como uma construção histórica (veja a respeito aqui).

O que O grito do Ipiranga mostra:

No centro, em posição mais elevada, está D. Pedro, príncipe regente, montado a cavalo, com uniforme de gala e erguendo a espada.
A comitiva, à direita do príncipe, é formada por dez homens que erguem seus chapéus.
A frente deles, trinta soldados, os Dragões da Independência, com uniforme de gala, formam um semicírculo e erguem suas espadas.
Os soldados, foram pegos de surpresa pelo gesto de D. Pedro, o que se percebe pelo movimento dos animais e pelo quinto soldado (da esquerda para a direita) que se apressa para montar o cavalo. Ao fundo, à direita, outros dois soldados também estão começando a montar seus cavalos.
Próximo a eles, há um civil usando cartola que ergue um guarda-chuva; segundo alguns estudiosos, seria Pedro Américo que se autorretratou no quadro.
À esquerda, três figuras populares: um homem conduzindo um carro de boi carregado de toras de madeira e que olha a cena assustado (ou curioso?); atrás, um outro montado a cavalo e mais ao fundo, um negro conduzindo um jumento que segue de costas ao grupo.
O riacho do Ipiranga está em primeiro plano e suas águas respingam na pata do cavalo.
Um casebre, ao fundo à direita, compõe a cena reforçando o caráter rural do lugar; apelidado de “Casa do Grito”, seria um local de pouso para as tropas que viajavam naquele caminho.


O grito do Ipiranga, Pedro Américo, 1888. Museu Paulista/USP, São Paulo.

Elementos que não correspondem ao momento retratado:

Cavalos: D. Pedro e seus acompanhantes não estavam montando cavalos; na época, em viagens longas, se utilizavam jumentos e mulas, mais resistentes.
Número de acompanhantes: a comitiva de D. Pedro era formada por poucos integrantes e não quarenta pessoas.
Trajes: D. Pedro I e sua comitiva não viajaram com uniformes de gala que, aliás, sequer existiam na época; eles foram criados depois da independência, assim como os “Dragões”.
Postura de D. Pedro: é improvável que o príncipe regente estivesse com uma aparência tão sadia e posição ereta uma vez que, naquele momento, estava sentindo fortes cólicas causadas pelo cansaço da longa viagem ou pelo jantar na noite anterior.
Casa do Grito: não existia na época; o casebre retratado no quadro foi construído por volta de 1884, portanto muito tempo depois da proclamação da independência.
Pedro Américo sequer tinha nascido quando aconteceu a independência, portanto, não foi testemunha do fato que só foi pintado décadas depois de ocorrido.

 D. Pedro ergue a espada

O riacho do Ipiranga

Dragões da Independência em seu traje de gala

O quadro é uma fraude?

Não, exatamente. Pedro Américo não se preocupou em fazer um retrato fiel do fato (nem os filmes e as novelas são fiéis à história). Trata-se de imagem idealizada que faz uma representação heroica do passado e exalta a monarquia (naquele momento, em franco declínio, às vésperas da proclamação da República).
Além disso, Pedro Américo era um artista que havia tempos vivia na Europa e que, certamente, respirou as transformações tecnológicas e políticas ocorridas na segunda metade do século XIX: segunda revolução industrial com todas suas invenções, imperialismo e disputas coloniais, corrida armamentista, movimentos nacionalistas e outros. Seu quadro acabou recebendo essas influências que transparecem no caráter militarista e faustoso da composição: soldados perfilados, espadas erguidas, uniformes de gala, cavalos robustos e com belos arreios e selas – elementos que dignificam e dão imponência ao episódio retratado.
O Príncipe é a figura de destaque: no centro e na parte mais elevada, ele ergue a espada passando a ideia de líder vitorioso, como se ele fosse o único responsável pela independência. É dele que parte o “grito”, praticamente uma ordem militar que é imediatamente acatada por todos que o acompanham. Aliás, o nome da tela O grito do Ipiranga já é indicativo da visão autoritária e personalista sobre o fato retratado, diferente do quadro de François-René Moreaux, A proclamação da independência, de 1844 (veja a respeito aqui).

 A "Casa do Grito"

Homem a cavalo e negro conduzindo o jumento

Homem conduzindo carro de bois carregado de toras de madeira

A casa de pouso, o carroceiro e outras figuras populares fazem um tímido contraponto à atmosfera militar e ufanista do quadro. São figuras secundárias, decorativas, que assistem à cena. Não são protagonistas e, sequer partidárias. Estão inertes. A independência não mudou suas vidas, o que não deixa de ser verdade. Talvez essa seja a principal mensagem de O grito do Ipiranga. Neste sentido, o quadro não é uma fraude histórica.