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sexta-feira, 21 de julho de 2017

OS 103 ANOS DE JOÃOZINHO CEARENSE!

Por Marcelo Sousa Fortaleza*
João Vieira Fortaleza, o Joãozinho Cearense.
João Vieira Fortaleza, nascido em 21 de julho de 1914 no município de Pio IX no Piauí, divisa com o Ceará, sendo ele o primogênito dos sete filhos de Raimundo Vieira Fortaleza e Maria Vieira Fortaleza. A chegada de sua família em 1930 ao Maranhão pela Região dos “Pastos Bons”, mais precisamente no município de São João dos Patos, fez parte de um processo de migração muito comum na época, onde pessoas do Piauí, Ceará e outros estados nordestinos vinham em busca de terras férteis e devolutas. Ainda em 1930, deixaram São João dos Patos e vieram à Tuntum - João com 16 anos na época - onde passaram a morar no atual bairro do Tuntum de Cima. 

Em 1937 em uma de suas viagens à Curador (atual município de Presidente Dutra) conheceu Raimunda Macêdo Teixeira, mais conhecida como Zizi, com quem se casou um ano depois, formando uma família de 12 filhos, 62 netos, 102 bisnetos e duas tataranetas. Essa união durou quase 74 anos, e, só acabou com o falecimento de Zizi em 19 de setembro de 2012.

Sua Primeira casa como casado foi no atual bairro da Vila Mata(o), onde nasceram os seus três primeiros filhos, depois mudaram-se para o bairro Campo Velho, onde nasceram e foram criados os demais filhos. Morando ali por mais de 68 anos.

Começou a sustentar sua família trabalhando como tropeiro, atividade muito valorizada na época, levando com os seus animais, produtos para as cidades da região. Essas viagens duravam até quatro dias, como era o casso de Pedreiras. Entre uma viagem e outra, cuidava da roça, onde plantava principalmente, arroz, milho e fava, além de começar a criar gado.

Joãozinho Cearense, como ficou conhecido, é um homem tradicional, correto nos negócios, de educação rígida com os filhos, sempre cuidadoso com a saúde, não dado aos vícios, sempre dormiu e acordou cedo. Chegou aos 103 anos sem a necessidade de uso de medicamentos, a não ser a sua dose diária de Biotônico Fontoura e emulsão.
Profº Marcelo Sousa Fortaleza, neto de Joãozinho  Cearense.
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*Graduado em História pela Universidade Estadual Maranhense - UEMA, é professor da rede pública estadual de ensino, lotado no Centro de Ensino Isaac Martins, o mais antigo estabelecimento de ensino da cidade de Tuntum. Natural de Tuntum, o Professor Marcelo Fortaleza é neto do Srº João Vieira Fortaleza, o Jãozinho Cearense.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Mestre Alderico - Um trabalhador que lê!



PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedras?
E a Babilônia várias vezes destruída
Quem a construiu tantas vezes? Em que casas
de Lima radiante dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A Grande Roma está cheia de arcos de triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritavam por seus escravos
Na noite em que o mar tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?

(BRECHT, B. Perguntas de um trabalhador que lê. Disponível em: http://somoseducadoresleitores.blogspot.com.br/2010/09/perguntas-de-um-trabalhador-que-le-de.html. Acesso em: 28 abr. 2017.)

Analisando o trecho do poema acima percebe-se nitidamente que o autor critica a visão da História que valoriza somente os feitos dos “grandes homens” sem se preocupar com todos os outros envolvidos e que ajudaram nas guerras, nas grandes construções, nas descobertas científicas, enfim, que estavam também fazendo História. Por exemplo, a Igreja Matriz de São Raimundo Nonato em Tuntum não é obra dos frades franciscanos capuchinhos, exclusivamente. Pois se assim considerarmos, como geralmente, tem ocorrido no transcurso do tempo, pernas e braços serão mutilados e vozes silenciadas, enfim, os atores de nossa trama histórico-social ficarão ocultos atrás das cortinas do tempo e se que eles próprios, os atores, não terão a consciência de que seu suor fora “matéria-prima” para as obras memoráveis e das as grandes proezas.


A necessidade de se refletir sobre essa questão se faz cada vez mais urgente, pois com tanta possibilidade de releitura da realidade dada a ampliação dos meios de circulação de informação, prevalece ainda, um falsa noção de que somente os ocupantes dos cargos de poder são os construtores da história, o que nega a protagonismo, o esforço sobre-humano de homens e mulheres para as grandes realizações, ainda que no discurso se reverbere a ideia de que todos fazem história.


Diante do exposto, hoje apresento-lhes um desses anônimos, silenciados, que a oficialidade da história local, não reconhece, ao contrário, o tornou invisível, assim como outros milhares de homens e mulheres que fizeram e fazem Tuntum. Trata-se de Alderico Pereira da Silva, homem simples mas que carrega sobre si a aura de uma das mais nobres almas, artífice de nossa vida citadina.
Mestre Alderico segurando uma válvula de transmissão, peça que possui há mais de 40 anos. Trata-se de uma verdadeira relíquia que Alderico guarda a sete chaves.
Nascido no Curador (atual cidade de Presidente Dutra) em 1942, chega a Tuntum aos 10 anos, antes, portanto, da emancipação do município. Aqui desde de cedo começou a trabalhar. Ainda jovem entre os 15 e 16 anos trabalhou como auxiliar de pedreiro para um irmão mais velho. E foi justamente num daqueles dias de trabalho, após preparar um traço de massa, e que, parando para descansar se deparou com um amigo de seu irmão que veio visitá-lo. O visitante que morava noutra cidade, empunhava um exemplar da revista “O Cruzeiro”, ocasião em que o jovem Alderico não resistiu em pedir ao estranho para dar uma olhadinha nos breves instantes de pausa da labuta. Prontamente atendido, as páginas daquela revista apresentou-lhe um mundo de descobertas, pois dentre tantas informações e imagens, a revista estampava uma publicidade do Instituto Universal Brasileiro, instituição que ofertava (e oferta até hoje) cursos na modalidade “a distância”, por correspondência. A empolgação transbordante contagiou o jovem, de tal modo, que sensibilizou o dono da revista, que o presenteou com a mesma.
Alderico e seu neto, Lucas. Na imagem o técnico empunha  uma antiga revista especializada em eletrônica. 
Alderico, agora tinha outro desafio: convencer sua mãe a pagar os cursos, pois considerando a época e as condições materiais de sua família, não eram de baixo valor. Além disso, alguns pessimistas trataram de desestimulá-lo apontando as dificuldades de se aprender aquele tipos de saber especializado. Contudo, percebendo o brilho nos olhos do filho, Dona Maria Pereira Lima, não hesitou em investir no sonho de seu rebento.

A partir daí, Alderico, não parou mais de ler, foram incontáveis cursos e certificados com excelente notas. Tornou-se assim um amante do conhecimento, com sede cada vez maior pela pesquisa. Seus conhecimentos teóricos foram postos em prática, pois, uma vez inclinado para área das ciências da natureza, especialmente, a física, tratou de criar seus circuitos elétricos, ao passo que ampliava as leituras e experimentos.

Cabe ressaltar que nos 1950, o Brasil vivia um momento de abertura ao capital estrangeiro e passa a ser com mais intensidade inundado de produtos industrializados, principalmente, a partir do governo presidente Juscelino Kubitschek, período em chega ao país as primeiras montadoras de automóveis, a televisão e outros eletrodomésticos. É bem verdade que há muito tempo o rádio já se fazia presente no cotidiano do brasileiro, mas nos longínquos rincões do interior do Brasil, estava cada vez mais consolidado, mesmo porque a televisão em muitos municípios do Maranhão, chega apenas no final da década de 1970 e início dos Oitenta. O rádio, portanto, era produto dos desejos dos moradores do sertão, através do qual, se acompanhava os noticiários, programas musicais, jogos de futebol e outros de entretenimento, como as novelas de rádio.

Posso assegurar com convicção que o rádio é uma das grandes paixões de Alderico. Com seus conhecimentos adquiridos nos cursos do Instituto Universal Brasileiro, o “nosso físico”, técnico em eletrônica, não só dava reparos aos aparelhos dos moradores de Tuntum, mas como também passou a criar circuitos elétricos e fabricar de sua própria engenharia um rádio com capacidade receptora num raio de mais de 200 km.
Alderico ladeado Lucas,seu neto. Lucas é filho do saudoso Gean, primogênito de Alderico e que também era técnico em eletrônica
Sempre estudioso, leitor-pesquisador, Alderico acompanhou e ainda acompanha as transformações no setor de eletroeletrônica desde a década de 1950 e quando a televisão chegou a Tuntum já era um abalizado técnico na érea, para quem os tuntuenses sempre recorriam quando seus aparelhos apresentavam problemas. Entretanto, insaciável como o nosso físico sempre foi, tratou de instalar as primeiras estações de rádio de nossa história durante a década de 1970. As rádios AM e FM por ele instaladas não possuíam licença e acabavam tendo vida efêmera. Numa delas os desportistas de Tuntum e comunidade em geral tiveram a alegria e de ter as partidas de futebol realizadas no desativado Estádio Dom Adolfo Bossi, transmitidas ao vivo, com direito a narração do saudoso Júlio Dantas, o Advogado dos Pobres, acompanhado dos comentários de Odílio Cruz, o Seu Dodô, que em agosto próximo completada 100 anos de vida.

Com uma vida intensa de prestação de relevantes serviços a Tuntum, o grande Mestre Alderico, sentiu a necessidade de buscar outras praça, e assim, levar o seu conhecimento, buscar novas experiências e aprendizagens. O mesmo chegou a prestar serviço em rádio amador Brasília-DF pelos idos da década de 1980, além de ensinar seu ofício no município de Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Atualmente, contando 75 anos de idade, o Srº Alderico, Pai de 9 filhos e dezenas de netos, está aposentado e leva vida como sempre modesta ao lado de sua esposa, a Srª Rita Oliveira da Silva. Há décadas residente na rua dos Uruçus, o nosso “Físico” tem em sua rotina, a viagem diária de casa para sua chácara que fica próxima ao balneário da Tiúba, cujo trajeto realiza de bicicleta. Na chácara, o pesquisador guarda boa parte de seus livros, desenhos, escritos, revistas, além de peças e dispositivos que o acompanham há mais de 40 anos.

Em visita a sua chácara no mês de março, pude constatar a quão Alderico é depositário de um riquíssimo e profundo conhecimento na área. Confesso que me sentir incapaz de acompanhar seus raciocínios quando tratava de circuitos elétricos e de ondas eletromagnéticas. Fiquei maravilhado, e, portanto, sentir a necessidade de compartilhar com todos, a sapiência e determinação desse homem de origem humilde que através da leitura e da pesquisa, adquiriu um saber técnico especializado, que contribui  de modo relevante para a vida social e cultural da cidade e região, pois o mais antigo técnico em eletrônica de Tuntum também trabalhou em cidades vizinhas, especialmente, em sua natal, Presidente Dutra.
Alderico à direita explicando as propriedades de antigo transmissor para o Profº Jean Carlos.
Diante do exposto, alerto a todos, especialmente os jovens, da necessidade de reconhecermos Alderico e tantos outros que fizeram e anonimamente fazem nossa cidade e município. Reservar-lhes o seu devido lugar na história, é antes de tudo, uma honrosa ação de fazer justiça com os trabalhadores e trabalhadoras, valorizando os que foram, intencionalmente silenciados, para não ofuscarem o “feitos” dos detentores dos cargos de poder.

Que não se permita, que tão somente o sol, intransigente que surge no horizonte, continuamente, delimitando os dias, testemunhe a grandeza e a importância de nossos sujeitos históricos. Que não se negue o protagonismo de nossos homens e mulheres, que inominados, tecem o cotidiano desta terra. Mas que se estenda esse conhecimento às gerações mais recentes e se garanta à posteridade, o legado dos construtores da história, a exemplo do técnico em eletrônica, o pesquisador, o “físico”, Alderico Pereira da Silva - Um trabalhador que lê!

OBRIGADO MESTRE ALDERICO!!!

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Bandeirante - 50 anos fazendo educação em Tuntum-MA



Esse trabalho foi realizado em outubro de 2013 por uma equipe de alunos do 1º, 2º e 3º Ano do Ensino Médio, turno matutino, do Centro de Ensino Estado do Maranhão, o Bandeirante de Tuntum, por ocasião dos 50 anos de inauguração da instituição. O projeto foi executado sob a orientação dos professores de História, Huiratônio Silva e Jean Carlos Gonçalves. Além do apoio da então Gestora Geral Lucilene Pinheiro. O documentário apresenta trecho de entrevistas com antigos moradores, trabalhadores da obra, antigos funcionários, servidores atuais, alunos dentre outros.