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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A CRISE FINANCEIRA DE 2008

Entenda um pouco da Crise Financeira de 2008 e saiba que impacto ele teve no sistema financeiro mundial.

Por Me. Cláudio Fernandes

Um dos acontecimentos históricos de maior importância da primeira década de século XXI foi a crise financeira deflagrada em 2008. Você já deve ter ouvido falar na Crise de 1929, que é mais famosa, por ter atingido proporções imensas, levando a um colapso da economia dos Estados Unidos (episódio que ficou conhecido como a Grande Depressão Americana) e a um agravamento do sistema financeiro mundial, na época. Apesar das semelhanças, a crise de 2008 teve um impacto menor e ainda pode desencadear novos impasses no setor financeiro, nos próximos anos.

Pois bem, a crise financeira de 2008 se deu a partir de uma sucessão de falências de instituições financeiras, nos Estados Unidos e na Europa. Instituições estas que participavam de todo complexo sistema financeiro mundial. Essa onda de falência estava relacionada ao que os economistas denominaram de “estouro de uma bolha imobiliária”. Sendo assim, é necessário entender o que aconteceu no ramo imobiliário dos EUA para que tal bolha viesse a estourar.

Ao longo da década de 1990, especialmente no governo de Bill Clinton, houve uma significativa intensificação de medidas financeiras voltadas para o setor imobiliário, que tinham por objetivo aumentar o número de proprietários, isto é, compradores de imóveis. Os bancos que concediam empréstimos para os compradores de imóveis tinha (e ainda têm) que obedecer a certos limites de concessão. Para que houvesse expansão deste limite, algumas empresas, como Fannie Mae e Freddie Mac, passaram a comprar as carteiras de crédito imobiliário dos bancos americanos. Isso implicava numa manobra financeira que liberava os bancos para emitir mais crédito aos compradores.

Como explica o economista Leandro Roque, em seu comentário “Como ocorreu a crise financeira americana”, a respeito do papel das empresas citadas acima no contexto da crise de 2008:

“Tradicionalmente, quando uma pessoa pega um empréstimo para comprar um imóvel, cria-se uma dívida entre ela e o banco. Se a pessoa irá honrar sua dívida ou não, é problema do banco. No cenário americano, Freddie e Fannie fizeram com que os bancos não mais se preocupassem com nada disso, pois eles sabiam que, tão logo concedessem um empréstimo imobiliário, Fannie e Freddie estavam lá para comprar este empréstimo a um valor acima do montante concedido.”

Esse acordo entre empresas compradoras de créditos e bancos aumentaram a desregulamentação do sistema financeiro mundial, já que a economia americana está intimamente imbricada a bolsas de valores e a bancos do mundo inteiro. Isto se deu porque as pessoas que eram estimuladas a comprar imóveis por meio de crédito bancário praticamente ilimitado acabaram dando o calote – se eximindo de pagar suas dívidas – junto aos bancos, que passaram a falir em 2008. Os calotes em 2005 somavam 20 bilhões de dólares. Em 2008, os números chegaram a 170 bilhões.

A crise começou a se tornar mais grave quando o Congresso americano aprovou a liberação de 700 bilhões de dólares para socorrer o sistema financeiro. O FED, banco central americano, passou a emprestar ainda mais dinheiro para empresas que lidavam com a hipoteca de imóveis e a comprar os títulos hipotecários dos bancos que estavam falindo, configurando uma forte intervenção estatal na economia americana.

Essas medidas interventoras salvaram momentaneamente os bancos e o sistema financeiro como um todo de uma crise de caráter mais catastrófico, mas, a longo prazo, julgam alguns economistas, tais medidas podem tornar mais grave a situação e gerar um colapso no futuro.

A crise financeira de 2008 desencadeou uma série de protestos contra as especulações financeiras **

Nos anos após a crise, alguns protestos contra a especulação imobiliária e financeira americana ficaram conhecidos internacionalmente. É o caso, por exemplo, do movimento Occupy Wall Street (Ocupe “All Street”). Esse movimento se tornou notório no ano de 2011 e recebeu este nome em razão dos acampamentos que muitos jovens montaram em All Street, Nova York, onde está a Bolsa de Valores mais importante do mundo, símbolo do sistema financeiro americano.
A crise financeira de 2008 teve que ser enfrentada por Barack Obama, presidente dos EUA, eleito no fim de 2008 *
A crise financeira de 2008 teve que ser enfrentada por Barack Obama, presidente dos EUA, eleito no fim de 2008 *



____________________* Créditos da Imagem 1: Shutterstock, spirit of america


** Créditos da Imagem 2: Shutterstock, Daryl Lang

O anel de Giges


O anel de Giges
O anel de Giges é uma história contada por Platão na República para discutir se o homem agiria corretamente caso tivesse o poder de fazer maldade sem ser percebido. Num diálogo do livro, Glauco discorda de Sócrates e insiste que justiça e virtude não são de fato desejáveis em si mesmas. O importante é aparentar sem um homem justo e bondoso. Não é necessário ser de fato.
Em apoio a sua afirmação, Glauco oferece a seguinte história que sugere que a única razão pela qual as pessoas agem moralmente é que eles não têm o poder de se comportar de outra forma. Basta retirar o medo da punição, e a pessoa “justa” e “injusta” se comportará da mesma maneira: injustamente, imoralmente.

Veja o texto que descreve a história do anel de Giges:
“Giges era um pastor a serviço do rei de Lídia. Houve uma grande tempestade e um terremoto fez uma abertura na terra no lugar onde ele estava alimentando seu rebanho. Espantado com a visão, desceu até a abertura, onde, entre outras maravilhas, viu um cavalo oco de bronze, com portas. Giges então se agachou e viu o corpo de um homem com apenas um anel de ouro no dedo.  Ele pegou o anel e voltou para a superfície.

“Com esse anel no dedo, foi assistir à assembleia habitual dos pastores, que se realizava todos os meses, para informar ao rei o estado dos seus rebanhos. Tendo ocupado o seu lugar no meio dos outros, virou sem querer o engaste do anel para o interior da mão; imediatamente se tomou invisível aos seus vizinhos, que falaram dele como se não se encontrasse ali. Assustado, apalpou novamente o anel, virou o engaste para fora e tomou-se visível. Logo em seguida repetiu a experiência, para ver se o anel tinha realmente esse poder; reproduziu-se o mesmo prodígio: virando o engaste para dentro, tomava-se invisível; para fora, visível. Assim que teve certeza, conseguiu juntar-se aos mensageiros que iriam conversar com o rei. Chegando ao palácio, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o e obteve assim o poder.

“Agora suponha que existem dois anéis desta natureza e o justo recebesse um e o injusto outro. É provável que nenhum fosse de caráter tão firme para perseverar na justiça e para ter a coragem de não se apoderar dos bens de outra pessoa. Afinal, ele poderia tirar sem receio o que quisesse dos mercados e lojas, introduzir-se nas casas para se unir a quem lhe agradasse, matar uns, libertar outros da prisão e fazer o que quisesse, tornando-se igual a um deus entre os homens. Agindo assim, nada o diferenciaria do mau: ambos tenderiam para o mesmo fim. Isso é  uma grande prova de que ninguém é justo por vontade própria, mas por obrigação, não sendo a justiça um bem individual, visto que aquele que se julga capaz de cometer a injustiça comete-a. De fato, todo homem pensa que a injustiça é individualmente mais proveitosa que a justiça, e pensa isto com razão, segundo os partidários desta doutrina. Pois, se alguém recebesse a permissão de que falei e jamais quisesse cometer a injustiça nem tocar nos bens de outra pessoa, pareceria o mais infeliz dos homens e o mais idiota àqueles que soubessem da sua conduta; em presença uns dos outros, iriam elogiá-lo, mas para se enganarem mutuamente e por causa do medo de se tomarem vítimas da injustiça. Eis o que eu tinha a dizer sobre este assunto.”

Imagine por um momento que você está de posse de desse anel. Como você usaria isso? Se você tivesse uma garantia perfeita de que nunca seria pego ou punido, o que você faria?

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

LIÇÕES DO TEMPO

Lições do tempo
Por Jucely Nascimento*
Que amemos mais,
que sejamos mais gentis.
A vida é tão curta; apeguemo-nos ao que é bom,
juntemo-nos com pessoas que em todos os dias nos desejam "bom dia."
e que tenha sempre uma palavra de apreciação,
Tais gestos fazem diferença 
e alegram o coração.
Não sabemos até onde iremos,
nem tampouco quem estará conosco
quando nosso fim chegar.
Portanto, é tempo de rever o tempo, remir o tempo, valorizar o tempo...
uma vez que este - tempo - passa
sem percebermos; é tempo de agregar,
de juntar e não espalhar ou separar.
Os nossos amigos,
ah!, esses são essenciais à vida;
nos convençamos mais, a cada dia,
dessa verdade.
Em tempo de desamor
o amor é a resposta;
na escola da vida "feliz é quem ama."
É tempo, pois, de abraçar mais,
sorrir mais, jogar conversa fora,
perdoar mais que julgar,
é tempo... dá tempo,
dá tempo de sentir a leveza da alma,
de olhar o horizonte
e perceber ser tempo de ser feliz.
É tempo de viver, viver!
É tempo...


Todos os direitos reservados ao autora. Lei de Direitos Autorais – Lei nº 9.610/98. Em caso de utilização do texto, a citação deve ser:

(NASCIMENTO, Jucely. Setembro/2019)

Jucely Nascimento.
_________________
*Jucely Nascimento Graduada História pela Universidade Estadual do Maranhão-UEMA (2007)) e Pós-graduada em Metodologia do Ensino e da Pesquisa em História do Brasil, pela Aventis Educação Superior, de Balneário Camboriú-SC, Pólo de Presidente Dutra -MA (2007). Funcionária efetiva do Estado do Maranhão, exerce a função de Agente Administrativo no Centro de Ensino Humberto de Campos, na cidade de Graça Aranha-MA, de onde é natural e residente.
Moro em Graça Aranha-MA.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Surgimento da Sociologia

A Sociologia surgiu a partir de uma série de fatores que tornou a política, a economia e a sociedade do século XVIII e XIX mais complexa.

Por Francisco Porfírio*

A Sociologia surgiu na primeira metade do século XIX, a partir das ideias do filósofo francês Auguste Comte. Comte entendeu que a sociedade europeia passava por um turbilhão de transformações desde o renascentismo e que a Revolução Industrial teria coroado o ápice das transformações.

Ademais, a necessária Revolução Francesa teria deixado um cenário caótico e instável, que necessitava de correção para que houvesse uma retomada do crescimento econômico, social, moral, científico e político do mundo. Comte formulou, então, as ideias positivistas, que foram o centro dessa primeira produção sociológica.

Porém, a Sociologia somente tornou-se uma ciência, de fato, com um método bem delimitado, a partir das ideias de Émile Durkheim, que foi considerado o primeiro sociólogo a rigor, enquanto Comte é considerado o “pai” da Sociologia.

Émile Durkheim foi o fundador do método sociológico. 

Contexto histórico do surgimento da Sociologia

Uma série de fatores modificou a economia, a política e a sociedade europeia como um todo. Essa série de fatores desencadeou uma nova organização social que precisava ser compreendida por meio de um método de análise social. São os principais fatores históricos que influenciaram o surgimento da Sociologia: 

Renascimento: o renascentismo é o período de transição de uma Europa medieval para uma Europa moderna, que passa a valorizar mais a ciência e as artes, reconhecendo a distinção e a importância da razão e do conhecimento humano, além de separá-los os do conhecimento religioso. 

Surgimento do capitalismo: o mercantilismo, que consiste na primeira fase do capitalismo moderno, desencadeou uma série de fatores que modificaram o cenário europeu. Um deles foi a expansão marítima e comercial, que possibilitou um desenvolvimento econômico mais complexo e a exploração das colônias situadas nas Américas, na África, na Índia e em parte da Ásia. 

Iluminismo: uma nova concepção intelectual e política, surgiu com o iluminismo. As ideias de igualdade e de disseminação do conhecimento intelectual propagaram-se e trouxeram à humanidade o entendimento de que a evolução moral e social está diretamente ligada à evolução intelectual. 

Grandes revoluções: as revoluções ocorridas no século XVIII, de inspiração burguesa, como a Revolução Americana e a Revolução Francesa, (essa última inspirada por pensadores iluministas) trouxeram uma nova forma de se pensar no Estado e no governo, afastando o Antigo Regime e dando lugar ao republicanismo, o que alterou a lógica social e governamental. 

Revolução Industrial: houve uma alteração na configuração populacional devido à Revolução Industrial, pois a Europa, até então sumariamente rural, observava uma explosão demográfica nas cidades devido à abertura de indústrias, principalmente na Inglaterra. Os grandes centros urbanos que surgiram repentinamente não tiveram estrutura para abrigar tantas pessoas, e os postos de trabalho também não foram suficientes para todos, o que desencadeou problemas sociais e sanitários, que deixaram como rastro doenças, fome, miséria, desigualdade social e alta taxa de criminalidade. Concomitantemente com os fatores negativos, a Revolução Industrial promoveu uma série de benefícios ligados ao desenvolvimento tecnológico, que promoveram um maior conhecimento técnico especializado e a capacidade de produção em larga escala, o que propiciou o crescimento populacional. 

Diante de tantas mudanças que tornaram a vida nas cidades mais complexa, era necessário estabelecer uma forma de entender essa nova Europa, mais desenvolvida em certos aspectos e problemática em outros.

Como a Revolução Francesa contribuiu para o surgimento da SOCIOLOGIA.

Diante dos fatores que influenciaram o surgimento da Sociologia, a Revolução Francesa ocupa um papel de destaque. Os revolucionários acabaram com o Antigo Regime francês e abriram os olhos do mundo para a necessidade de uma política menos exclusiva, que não operasse por meio de um sistema estratificado e que não se justificasse na suposta vontade divina.

Houve, com a Revolução Francesa, o estabelecimento de uma política laica. Para dar lugar à justificação divina e fundar um Estado de Direitos, a França passou a pensar em um sistema político baseado em ideais racionais que abarcassem a totalidade da população.

O cenário pós Revolução Francesa, no entanto, ficou caótico. A instabilidade política deixou marcas severas no modo de vida dos franceses, no início do século XIX. Havia a necessidade de uma reordenação que tornasse a vida econômica, política e social mais estável, e esse foi, talvez, o maior motivador da criação do positivismo, por Auguste Comte. Essa teoria deu o impulso inicial para a criação da Sociologia, que no início era chamada por Comte de Física Social.

Segundo Comte, a Física Social deveria ser uma ciência tão rigorosa como as Ciências Naturais, copiando o método delas, que seria capaz de entender a complexa sociedade europeia para reordená-la e colocá-la novamente nos trilhos do desenvolvimento.

Ilustração retrata a tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789, na cidade de Paris. A Queda da Bastilha deu início à Revolução Francesa. 

O surgimento da Sociologia como ciência

Apesar da intenção de Comte, a Sociologia não se firmou como uma ciência capaz de esgotar os estudos de uma sociedade tão complexa. Émile Durkheim, considerado o primeiro sociólogo, foi o responsável por estabelecer um método preciso e rigoroso que alavancasse os estudos sociológicos e colocasse a nova ciência no rol das ciências autênticas.

Para Durkheim, as ideias de Comte eram muito mais próximas de uma abstração filosófica do que do rigor de uma ciência, o que impossibilitava o crescimento científico da Sociologia. Mediante um método comparativo que visava a buscar os fatos sociais que marcavam as diferentes sociedades e compará-los. Isso a fim de entender os diferentes funcionamentos sociais e compreender os diferentes modos de coesão social, Durkheim fundamentou a Sociologia como um estudo autônomo e rigoroso.
O surgimento da Sociologia no Brasil

Antonio Candido|1|. estabeleceu que houve dois momentos importantes na Sociologia brasileira, um entre 1890 e 1940, e outro a partir de 1940, tendo como intermediária a década de 1930. Segundo Candido, o primeiro período não era movido por sociólogos especialistas, mas por estudiosos diletantes que intentavam conhecer a cultura e a sociedade brasileira de modo global.

A partir de 1933, estudiosos de Sociologia passaram a fomentar uma produção sociológica brasileira mais especializada. Eles eram formados pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, instituição mais tarde vinculada à USP, e a própria USP, que em sua fundação no ano de 1934, trouxe ao Brasil diversos professores franceses já habituados à pesquisa sociológica, política e antropológica.

No início, destaca Candido, a Sociologia era estudada por juristas que tinham como objetivo estabelecer novos parâmetros para um Estado brasileiro, pautados pelo Evolucionismo e por uma política democrática.

Depois, estudiosos como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior publicaram obras centrais da Sociologia brasileira, que transitam entre a Sociologia e a História. Florestan Fernandes foi um dos primeiros sociólogos de destaque formados nessa primeira geração de sociólogos brasileiros.

Resumo

A Sociologia surgiu na França com as ideias de Auguste Comte para uma reordenação social, devido à instabilidade política deixada pela Revolução Francesa e por fatores que mudaram a configuração social europeia. Apesar de Comte ser o “pai” da Sociologia, foi Durkheim quem criou um método de análise social capaz de estabelecer a Sociologia como ciência autêntica.

No Brasil, a Sociologia adentra no fim do século XIX, mas ganha força no início do século XX, com pensadores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr.

Uma nova geração de sociólogos brasileiros mais especializados no assunto surgiu a partir de 1933, com a fundação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, e 1934, com a fundação da USP, que trouxe ao Brasil diversos sociólogos franceses para integrar o corpo docente da universidade. O nome de maior destaque dessa primeira geração de sociólogos da USP é Florestan Fernandes.


|1| CANDIDO, A. A Sociologia no Brasil. In: Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 18, n. 1.

PORFÍRIO, Francisco. "Surgimento da Sociologia"; Brasil Escola. Disponível: em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/surgimento-sociologia.htm. Acesso em 05 de fevereiro de 2020.

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*Professor de Sociologia

Condições para o surgimento da Filosofia

Por João Francisco P. Cabral*
Adicionar legenda
A Grécia (Hélade) nada mais foi do que um conjunto de cidades-Estados (Pólis) que se desenvolveram na Península Balcânica no sul da Europa. Por ser seu relevo montanhoso, permitiu que grupos de pessoas (Demos) fossem formados isoladamente no interior do qual cada Pólis desenvolveu sua autonomia.
Constituída de uma porção de terras continental e outra de várias ilhas, bem como também em virtude da pouca fertilidade dos seus solos, a Grécia teve de desenvolver o comércio como principal atividade econômica. Assim, e aproveitando-se do seu litoral bastante recortado e com portos naturais, desenvolveu também a navegação para expandir os negócios, bem como mais tarde sua influência política nas chamadas colônias.

A sociedade grega era organizada segundo o modelo tradicional aristocrático, baseado nos mitos (narrativas fabulosas sobre a origem e ordem do universo), em que a filiação à terra natal (proprietários) determinava o poder (rei).

Esse modo de estruturar a sociedade e pensar o mundo é comumente classificado como período Homérico (devido a Homero, poeta que narra o surgimento da Grécia a partir da guerra de Troia). Mas com o tempo, algumas contradições foram sendo percebidas e exigiram novas explicações. Surge, então, a Filosofia. Eis os principais fatores que contribuíram para o seu aparecimento:

- As viagens marítimas, pois o impulso expansionista obrigou os comerciantes a enfrentarem as lendas e daí constatarem a fantasia do discurso mítico, proporcionando a desmitificação do mundo (como exemplo, os monstros que os poetas contavam existir em determinados lugares onde, visitados pelos navegadores, nada ali encontravam);

- A construção do calendário que permitiu a medição do tempo segundo as estações do ano e da alternância entre dia e noite. Isso favoreceu a capacidade dos gregos de abstrair o tempo naturalmente e não como potência divina;

- O uso da moeda para as trocas comerciais que antes eram realizadas entre produtos. Isso também favoreceu o pensamento abstrato, já que o valor agregado aos produtos dependia de uma certa análise sobre a valoração;

- A invenção do alfabeto e o uso da palavra é também um acontecimento peculiar. Numa sociedade acostumada à oralidade dos poetas, aos poucos cai em desuso o recurso às imagens para representar o real e surge, como substituto, a escrita alfabética/fonética, propiciando, como os itens acima, um maior poder de abstração.

A palavra não mais é usada como nos rituais esotéricos (fechados para os iniciados nos mistérios sagrados e que desvendavam os oráculos dos deuses), nem pelos poetas inspirados pelos deuses, mas na praça pública (Ágora), no confronto cotidiano entre os cidadãos;

- O crescimento urbano é também registrado em virtude de todo esse movimento, assim como o fomento das técnicas artesanais e o comércio interno, as artes e outros serviços, características típicas das cidades;

- A criação da Política que faz uso da palavra para as deliberações do povo (Demo) em cada Pólis (por isso, Democracia ou o governo do povo), bem como exige que sejam publicadas as leis para o conhecimento de todos, para que reflitam, critiquem e a modifiquem segundo os seus interesses.

As discussões em assembleias (que era onde o povo se reunia para votar) estimulava o pensamento crítico-reflexivo, a expressão da vontade coletiva e evidencia a capacidade do homem em se reconhecer capaz de vislumbrar a ordem e a organização do mundo a partir da sua própria racionalidade e não mais nas palavras mágico-religiosas baseadas na autoridade dos poeta inspirados. Com isso, foi possível, a partir da investigação sistemática, das contradições, da exigência de rigor lógico, surgir a Filosofia.

______________________
*Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

As Fontes Históricas


Como já sabemos, o historiador precisa fazer uma pesquisa para fazer seu trabalho. Procurar pistas, como um detetive, para saber o que aconteceu e chegar mais perto da verdade. Essas pistas, são chamadas pelo historiador de Fontes Históricas.


Mas e as Fontes Históricas, o que são exatamente? São todas iguais???

Vamos entender isso direito!



As fontes históricas são todos os vestígios deixados pela humanidade ao longo do tempo, e que servem de material de pesquisa para o historiador. Como por exemplo: restos fósseis, pinturas em cavernas, registros escritos, pinturas, objetos como ferramentas, panelas, armas, roupas e muitas coisas mais. 

As fontes históricas são classificadas em vária categorias, as principais são as seguintes:

1- Fontes Escritas: São documentos, cartas, jornais, livros, revistas e tudo aquilo que é registrado na forma escrita.

2- Fontes Visuais: (também chamadas de iconográficas ): São imagens, pinturas, fotografias, quadros e obras de arte,etc.

3-Fontes Orais: As fontes orais incluem toda a informação e tradição que se mantém conservada na memória das pessoas e passada oralmente de uns para outros.

Ex: as histórias que nossos avós contam,entrevistas, gravações, programas de rádio, lendas contadas ou registradas, etc.

As fontes históricas se dividem em dois grandes grupos que são: 
Fontes Históricas da Cultura Material e Fontes históricas da Cultura Imaterial

Fontes Históricas Materiais - tudo o que for materialmente construído e que possa fornecer informações para análise: objetos, esculturas, roupas, fotografias, móveis, esculturas, etc.
Fontes Históricas Imateriais- Tudo aquilo que não for materialmente construído como crenças, o modo de fazer uma comida, as brincadeiras que são passadas de geração em geração, as lendas, línguas faladas, as historias contadas, etc.

Entendendo melhor:
A capoeira é uma fonte histórica imaterial faz parte do patrimônio histórico e cultural e sua arte é passada de geração a geração.
As histórias que nossos avos nos contam são também uma fonte histórica oral.
A história dos povos indígenas até recentemente era passada apenas oralmente de geração em geração.
a famosa pintura de Pedro Américo é um exemplo de fonte histórica visual e também faz parte da cultura material.

Fonte: http://historiasemcomplicacoes.blogspot.com.br/2016/01/as-fontes-historicas.html

1- O que são Fontes históricas e por que elas são importantes para os historiadores?


2- Se você fosse escrever a história da sua escola que fontes você poderia utilizar?


3- Cite um exemplo de uma fonte da cultura material e outro da cultura imaterial.


4- Quem produz as fontes que o historiador pesquisa?





Brasi de cima e Brasi baxo

Patativa do Assaré


Meu compadre Zé Fulo,
Meu amigo e companhêro,
Faz quage um ano que eu tou
Neste Rio de Janêro;
Eu saí do Cariri
Maginando que isto aqui
Era uma terra de sorte,
Mas fique sabendo tu
Que a misera aqui no Su
É esta mesma do Norte.

Tudo o que procuro acho.
Eu pude vê neste crima,
Que tem o Brasi de Baxo
E tem o Brasi de Cima.
Brasi de baxo, coitado!
É um pobre abandonado;
O de Cima tem cartaz,
Um do ôtro é bem deferente:
Brasi de Cima é pra frente,
Brasi de Baxo é pra trás.

Aqui no Brasil de Cima,
Não há dô nem indigença,
Reina o mais soave crima
De riqueza e de opulença;
Só se fala de progresso,
Riqueza e novo processo
De grandeza e produção.
Porém, no Brasi de Baxo
Sofre a feme e sofre o macho
A mais dura privação.

Brasi de cima festeja
Com orquestra e com banquete,
De uísque dréa e cerveja
Não tem quem conte os rodete.
Brasi de baxo, coitado!
Vê das casa despejado
Home, menino e muié
Sem acha onde mora
Proque não pode pagá
O dinhêro do alugue.

No Brasi de Cima anda
As trombeta em arto som
Ispaiando as propaganda
De tudo aquilo que é bom.
No Brasi de Baxo a fome
Matrata, fere e consome
Sem ninguém lhe defendê;
O desgraçado operaro
Ganha um pequeno salaro
Que não dá pra vive.

Inquanto o Brasi de cima
Fala de transformação,
Industra, matéra-prima,
Descoberta e invenção,
N0o Brasi de Baxo isiste
O drama penoso e triste
Da negra necissidade;
É uma cousa sem jeito
E o povo não tem dereito
Nem de dize a verdade.

No Brasi de Baxo eu vejo
Nas ponta da spobre rua
O descontente cortejo
De criança quage nua.
Vai um grupo de garoto
Faminto, doente e roto
Mode caçá o que come
Onde os carro põem o lixo,
Como se eles fosse bicho
Sem direito de vive.

Estas pequena pessoa,
Estes fio do abandono,
Que veve vagando à toa
Como objeto sem dono,
De manêra que horroriza,
Deitado pela marquiza,
Dromindo aqui e açula
No mais penoso relaxo,
É deste Brasi de Baxo
A crasse dos margina.

Meu Brasi de Baxo, amigo,
Pra onde é que você vai?
Nesta vida do mendigo
Que não tem mãe nem tem pai?
Não se afrija, nem se afobe,
O que com o tempo sobe,
O tempo mesmo derruba;
Tarvez ainda aocnteça
Que o Brasi de Cima desça
E o Brasi de Baxo suba.

Sofre o povo privação
Mas não pode recramá,
Ispondo suas razão
Nas colunas do jorná.
Mas, tudo na vida passa,
Antes que a grande desgraça
Deste povo que padece
Se istenda, cresça e redobre,
O Brasi de Baxo sobe
E o Brasi de Cima desce.

Brasi de Baxo subindo,
Vai havê transformação
Para os que veve sintindo
Abandono e sujeição.
Se acaba a dura sentença
E a liberdade de imprensa
Vai sê lega e comum,
Em vez deste grande apuro,
Todos vão te no futuro
Um Brasi de cada um.

Brasi de paz e prazê,
De riqueza todo cheio,
Mas, que o dono do podê
Respeite o dereito aleio.
Um grande e rico país
Munto ditoso e feliz,
Um Brasi dos brasilêro,
Um Brasi de cada quá,
Um Brasi nacioná
Sem monopólo estrangêro.

(Patativa do Assaré)

Sou cabra da peste

Patativa do Assaré
Sou cabra da peste

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas nunca esmorece, procura vencê,
Da terra adorada, que a bela caboca
De riso na boca zomba no sofrê.

Não nego meu sangue, não nego meu nome,
Olho para fome e pergunto: o que há?
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.

Tem munta beleza minha boa terra,
Derne o vale à serra, da serra ao sertão.
Por ela eu me acabo, dou a própria vida,
É terra querida do meu coração.

Meu berço adorado tem bravo vaquêro
E tem jangadêro que domina o má.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.

Ceará valente que foi munto franco
Ao guerrêro branco Soare Moreno,
Terra estremecida, terra predileta
Do grande poeta Juvená Galeno.

Sou dos verde mare da cô da esperança,
Que as água balança pra lá e pra cá.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.

Ninguém me desmente, pois, é com certeza,
Quem qué vê beleza vem ao Cariri,
Minha terra amada pissui mais ainda,
A muié mais linda que tem o Brasí.

Terra da jandaia, berço de Iracema,
Dona do poema de Zé de Alencá.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.
____

Patativa do Assaré em Cante lá que eu canto cá: filosofia de um trovador nordestino (Editora Vozes, 15 ed., 2008).