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terça-feira, 26 de março de 2024

"O Inventário do Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles"

Creomildo Cavalhedo Leite (*)

O Inventário do Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles

Povoado Maracanã, ao longo de muitos anos foi uma das Sedes da Fazenda Jacoca, a qual tinha o marco inicial plantado na beira do Riacho Preguiça, e confrontando com a Fazenda Santa Maria do Japão, banhada pelos riachos Japão ao lado do antigo Povoado Curador, hoje Presidente Dutra, e Jacaré, próximo da Cidade de Tuntum;

A Fazenda Jacoca estendia-se desde o Coração da Mata do Japão até o Alto Sertão, chamada pelos antigos Povoadores como a Região das Areias, por ser cabeceira de vários Riachos e Brejos, que alimentam, por um lado o Rio das Flores e no outro extremo o Rio Corda, e ambos são tributários do Rio Mearim;

Esta faixa de Terra, até início do Século XIX, pertenciam ao antes Julgado de Pastos Bons, cujos limites fronteiriços estendiam-se para a antes Aldeias Alta, a atual Caxias e estendia rumo a Oeste para as bandas do Rio Tocantins;

A configuração do relevo geográfico e hidrográfico deste quadrante espacial, na parte central da Província do Maranhão, demorou a ser representada nos Mapas do Império do Brasil, porém, constatamos a existência de mapas que, incluíam este espaço físico desde 1749 (Mapa das Cortes);

No mapa de 1761, que apresenta a Província do Piauí e parte da Província do Maranhão, existem Relatórios, Cartas enviadas para notificar ao Rei na Corte em Lisbôa - Portugal, os quais apontavam, de forma dispersa, alguns Rios como o Mearim, Grajaú, Itapecuru, Serras, Lagoas e outros detalhes inerentes à cartografia da época;

Através de documentos oficiais, podemos citar a comprovação histórica do início do desbravamento, mapeamento, abertura da primeira estrada, nos idos do ano de 1837, pelo então Cidadão Diogo Lopes de Araújo Sales, iniciada no antigo Arraial de Campo Largo, na margem esquerda e beira do Rio Alpercatas, adentrando as antes impenetráveis e densas matas verdejantes, até a confluência do Rio das Flores, com o antes caudaloso Rio Mearim;

O Povoamento, nesta grande região, através dos registros dos primeiros sitiantes que, tomaram posse das Terras, são épicos e de muitas lutas, para combater os desafios postos, pela natureza em sua força indômita, todavia, prevaleceu a garra, a coragem e a determinação do Sertanejo para vencer e se estabelecer, fincando suas raízes;

Eram Terras do Brasil Colonial e depois Brasil Imperial, chamadas de Terras devolutas, um imenso espaço vazio, que bem poucos conheciam, e menos ainda tinham a coragem e intrepidez para penetrar nesta grande zona fértil, chamada de Japão;

No período da deflagração da insurreição chamada Balaiada, que assolou a Província do Maranhão, no período de 13 de Dezembro de 1838 a 1841, é relatada por vários renomados e laureados escritores, sobre este conflito, as consequências para a combalida economia da então Província Maranhense era devastadora;

Nas buscas empreendidas no mundo virtual da redes mundial de computadores, passando pelos muitos Livros e Jornais para encontrar pegadas na história dos meus Ascendentes Genealógicos, fui agraciado com vários documentos, todavia, um é muito especial o qual descreve minuciosamente, os primeiros anos da Cidade Barra do Corda, aquela que seria chamada de pérola do Alto Sertão do Mearim;

Nos idos do Ano 1849, o então Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles, cerca de 1791 a 1865, filho do Capitão Francisco Xavier de Araújo Salles, 1767- (?), conhecido como Capitão Salles do Serrote, já era agraciado com o título de Cavaleiro do Império, Coronel Honorário da Guarda Nacional, Comandante da Legião da Guarda Nacional de Pastos Bons e da Chapada. O citado Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles, em carta, cita textualmente:

"Eu, Diogo Lopes de Araújo Salles,

Nesta Freguesia da Santa Cruz da Barra do Corda, declaro para ser registrado no livro respectivo de Terras desta Freguesia que possuo no Lugar denominado "Santa Maria (do Japão)" uma posse de Terras com légua e meia em quadro pouco mais ou menos, limitando ao Oeste com Antonio de Souza Carvalhêdo, ao Sul com José de Mello Albuquerque, ao Norte e ao Sul com Terras Devolutas cujas Terras me apossei em 1949 para crear gados. E de como cumpre mandei passar duas iguais Declarações nas quais assino.

Villa da Santa Cruz da Barra do Corda, 9 de Novembro de 1855.

Diogo Lopes de Araújo Salles, n° 22 apresentado em 10 de Novembro.

Lançado no Livro respectivo.

Paguei de emolumentos Mil e Quinhentos e Vinte Reis, a Manoel Ribeiro de Mendonça, Vigário da Vara da Comarca."

A descrição da Terra e sua abrangência:

"Santa Maria, até a Serra das Lagoinhas, onde extrema com Caxias e Codó, compreendendo as Moradas Santa Maria, Lagoa do Mandacaru, José Firmino, Canafístula e Serra das Lagoinhas."

Participaram desta empreitada alguns de seus familiares (genro e sobrinhos), cada um abaixo citado, ocupando terras na região e registrando-as oficialmente em lugar próprio. São eles:

* José de Mello Albuquerque, casado com Francisca Alves Feitosa (genro)

E os sobrinhos:

* Major Antonio de Souza Carvalhêdo, casado com Luzia Carvalhêdo;

* Anastácio Martins Chaves, casado com Dona Joanna Martins Chaves

* Francisco Ferreira de Souza;

* Francisco de Sousa Mil Homens.

Esses desbravadores tomaram posse em 1849, como ocupantes e sitiantes, de grandes extensões de terras situadas na região conhecida como Mata do Japão, e inicialmente passaram a criar gado vacum. As áreas, depois, foram por eles registradas, e logo depois começaram a chegada muitas pessoas para morar e trabalhar nelas. Todas elas foram levadas a registro, em especial a Fazenda JACOCA.

Em pesquisas por mim realizadas, no Ano de 2016, descobri a seguinte menção na obra denominada 'Barra do Corda na História do Maranhão', de autoria do Professor Galeno Edgar Brandes - São Luís: SIOGE - 1994, na página 207, no segundo parágrafo. Mensagem exarada como testemunha do tempo, assim descrita:

"Enquanto isso se passava, antes dos idos de 1866, ocorrera na vila de Barra do Corda, o passamento do coronel Diogo Lopes de Araújo Sales, membro da comissão encarregada de arregimentar voluntários na região (Para a Guerra Brasil/Paraguai). Líder inconteste, amigo e protetor de Manoel Rodrigues de Melo Uchôa, nos choques e desentendimentos existentes entre o nosso fundador e o intelectual e comandante dos Bem-te-vis - Militão Bandeira de Barros. (Vide Registro no Livro do Cartório do 1º Oficio da Comarca de Barra do Corda - Fls. 39, 39 verso e 40). Onde se encontra o Inventário daquele Homem Público que ajudou no desenvolvimento e manutenção da Paz nos primeiros quarteis do século XIX."

Por diversas vezes realizei viagens a Barra do Corda, Maranhão e fui ao Cartório daquela cidade em busca deste citado documento, não tive êxito, entretanto. Depois, junto com alguns amigos, que buscavam documentos de familiares para comprovação genealógica, encontrei o Inventário do Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles, em uma pasta composta por cerca de 400 imagens, trabalho realizado pelo Guerreiro H. Ennes, bem como a transcrição das primeiras páginas do Inventário, conforme segue, a título de apresentação:

"Procuração bastante que faz Dona Joanna Rodrigues de Faria”

Saibão quantos este público instrumento ou procuração bastante ou procuração bastante [sic] virem que no anno de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos sessenta e seis nesta Villa do Tamboril, termo da Comarca do Ipu da Província do Ceará, em meu cartório me apareceu Dona Joanna Rodrigues de Faria, moradora no lugar Campo Largo [?] deste termo, conhecida de mim e das testemunhas abaixo assinadas pela própria de que dou fé, e por ella foi dicto na prezença das mesmas testemunhas que pela presente instituia por seus bastantes procuradores na Villa da Barra do Corda da Província do Maranhão ou em qualquer parte que [ilegível] esta se apprezentar a seus filhos, Firmino Rodrigues de Faria e seus irmaons Doutor Herculano de Araújo Salles e Diogo Lopes de Araújo Salles Junior e a elles in solidum ou a cada um de per si dá planos e especiaes poderes todo o seu direito e justiça no inventário e partilha amigável ou judicial que [linha corroída] [fl.20].

Illustrissimo Senhor

Diz Firmino Rodrigues de Faria, como procurador de sua Mãe Dona Joanna Rodrigues de Faria, que tendo requerido inventário nos bens ficados por falecimento do Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles, para o que foi por Vossa Senhoria marcado o dia de hoje e não tendo voltado a deprecada, que foi expedida para a Villa da Chapada, afim de ser citado o herdeiro Manoel de Mello Albuquerque, como cabeça de sua mulher Dona Maria de Araújo Mello, e nem tão bem sido citada a inventariante cabeça de casal; por isso o Supplicante requer a Vossa Senhoria haja de marcar novo prazo para o referido fim.

Nestes termos

O Supplicante Pede a Vossa Senhoria Illustrissimo Senhor Juiz Municipal o justo deferimento e Espera Receber Mercê.

Barra do Corda, 5 de setembro de 1866.

Firmino Rodrigues de Faria

[fl.23]

Termo de Juramento e Declaração de Cabeça de Cazal e Auto de Inventário

Aos vinte dias do mez de Setembro de mil oito centos e sessenta e seis no, digo, seis nesta Villa de Santa Cruz da Barra do Corda, do termo da comarca da Chapada, Província do Maranhão, em as cazas de morada de Francisco de Mello Albuquerque onde foi vindo o meretissimo Juis Municipal e de Orphãos em exercício deste termo o capitão Joze Martins de Arruda com migo escrivão interino de seu cargo assima nomeado ahi prezente a Excellentissima Senhora Dona Maria Jose de Araújo Salles, viúva que ficou do Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles, por elle Joze lhe foi deferido juramentos nos Santos Evangelhos, de baixo do qual lhe encarregou que declarado o dia em que tenha falecido o dito seu marido e se tinha feito alguma despocisão testamentaria, quais eram os herdeiros que lhe havião ficado; que idade tinhão e o que disse a curreição todos os bens, sem ocultar algum, debaixo da pena de perda do direito que nelles tiver, pagar o dobro da sua avaliação e incorra no crime de perjuria. E sendo por ella dicta disse que [ilegível] óbito dito seu marido Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles ti [fl.23v] Tinha fallecido no dia onze de Novembro do anno passado com testamento que se acha junto deixando cinco filhos cuja idade declararia no título dos Herdeiros e que prometia dar a Carregação todos os bens debaixo das pennas que elle tinhão sido carregados do que fiz este termo que assigno com o juiz. Eu Raimundo [ilegível] Ribeiro escrivão interino que a escrevi.

(Capitão José Martins de Arruda)

Maria José de Araújo Salles

Título dos Herdeiros

Cabeça de Cazal

Dona Maria Jose de Araujo Salles

Filhos:

. Dona Joanna Rodrigues de Faria, 50 annos, Viúva do finado Jose Rodrigues de Faria

. Doutor Herculano de Araujo Salles, 47 annos, Cazado

. Donna Francisca de Mello Albuquerque, 46 annos, Cazada com Jose de Mello Albuquerque.

. Dona Maria de Araujo Mello, 40 annos, cazada com Manoel de Mello Albuquerque

. Advogado Provisionado Diego Lopes de Araújo Salles Junior, 31 annos, Cazado, digo, Diogo Lopes de Araujo Salles Junior, Cazado, trinta e sette annos.

Fonte: Arquivo Judiciário Desembargador Milson de Souza Coutinho – TJMA.

Pesquisador Creomildo Cavalhedo Leite.

(*) Creomildo Cavalhedo Leite, é Funcionário Público do Estado do Tocantins, Pesquisador, Cronista e Genealogista.



quarta-feira, 20 de março de 2024

Perguntas de um Operário que Lê

Bertold Brecht
O mural Glorious Victory, de Diego Rivera, com 4 metros de largura (1954, topo), permaneceu em um depósito do Museu Estadual de Belas Artes de Pushkin, em Moscou, por cerca de meio século.

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China,
para onde foram os seus pedreiros?
A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes?
Até a legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua Invencível Armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos.
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória...
Quem cozinhava nos festins?
Em cada década um grande homem...
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias,
Quantas perguntas!

Bertold Brecht (Alemanha)

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

PARA QUE SERVE A HISTÓRIA? POR QUE OS ALUNOS DO SÉCULO XXI DEVEM ESTUDAR HISTÓRIA?

Por Joelza Ester Domingues

No mundo de hoje onde o foco é o presente e o futuro, a História é vista como um conhecimento praticamente dispensável para a vida e o mercado de trabalho. Para quê estudar coisas que aconteceram há muito tempo? Que importância tem a História no currículo escolar e na vida prática? Os historiadores não salvam vidas como os médicos, não constroem edifícios, pontes ou rodovias, não prendem criminosos, nem apagam incêndios e sequer inventam equipamentos eletrônicos ou remédios para a cura do câncer. Enfim, qual a importância em estudar o passado diante de tantas necessidades do presente? 

Com todos esses questionamentos contrários à História, ainda assim essa ciência atrai muita gente. Não somente estudantes, mas, também profissionais com carreiras consolidadas que decidem voltar à faculdade para fazer História. É possível que o interesse imediato desse público seja conhecer o passado, o que parece óbvio, mas essa não deveria ser a única razão para alguém estudar História. Há muitos outros motivos, menos tangíveis e imediatos do que os de outras ciências, mas indispensáveis para se estudar História, como comentaremos abaixo. 

Que passado a História estuda? 

Conhecer o passado é da natureza do conhecimento histórico. Mas, a História não é a necrologia do passado, não é uma lista de nomes, datas e feitos de pessoas mortas. São as questões do presente que orientam a pesquisa do passado. Assim, o passado interessa na medida em que ajuda a responder nossas perguntas sobre o que vivemos hoje. 

Os estudos históricos têm se concentrado em compreender questões atemporais, por exemplo, as formas pelas quais pessoas, comunidades e nações interagem; a natureza do poder e da liderança política; as dificuldades do governo e da gestão econômica; o impacto da guerra e do conflito nas sociedades; a interferência de valores e fundamentos religiosos nas sociedades; as relações entre as diferentes classes, riqueza, capital e trabalho etc. Temas e questões como essas nunca morrem, apenas as pessoas, os lugares e os detalhes mudam. 

A História fornece um reservatório das múltiplas experiências humanas em espaços e tempos diferentes – a única base de evidências reais de que como as sociedades se comportam. Se a nação está em paz, como avaliar o impacto de uma guerra sem recorrer à História? Como avaliar a ameaça contra a democracia sem usar nossos conhecimentos ou experiências de ditaduras do passado? 

Esse é o sentido em conhecer o passado: fornecer referências para compreender como as pessoas agem, que fatores as impulsionam crescer e mudar, ou porque resistem às mudanças, o que impacta nossas vidas de maneira positiva e negativa. Esse conhecimento amplifica nossa compreensão sobre o mundo moderno e sinaliza outras possibilidades de experiências.

“Em resumo, prestem atenção a esta aula e vocês não serão facilmente enganados como seus pais.”, diz a professora de História
Para que serve a História? Que habilidades ela desenvolve?

Nem todo estudante de História se torna um historiador profissional. Mas, certamente, o estudo da História desenvolve habilidades e competências indispensáveis para qualquer outra ciência e profissão. Comentamos abaixo as habilidades específicas do estudo da História mas que não se limitam a ela, mas são essenciais para outros campos do conhecimento.

1. Extrair evidências e significados em fontes diversas. 

Pesquisar, localizar e interpretar material escrito, artefatos, fontes orais, digitais e visuais desenvolve as habilidades de extrair informações e interpretações avaliando sua confiabilidade, credibilidade, utilidade, significado e relevância. A capacidade de examinar e confrontar dados variáveis permite distinguir verdade, mentira, manipulação e distorção de fatos e objetivos – habilidade importante para enfrentar os desafios das tecnologias de informação e comunicação. 

2. Avaliar interpretações conflitantes. 

Estudar as sociedades e as experiências humanas é lidar com contradições, ambiguidades, conflitos e interesses divergentes que interferiram no passado. O estudo da História é um laboratório de treinamento para identificar e avaliar situações conflitantes que atuam no presente – na política, na sociedade, na cultura por exemplo – fornecendo subsídios para distinguir objetivos, perceber mudanças ou continuidades e identificar tendências.

A História ensina como avaliar interpretações conflitantes.
3. Analisar mudanças e continuidades. 

A História não estuda o passado morto e acabado, mas as mudanças que ocorreram, suas causas e desdobramentos, sua magnitude e importância no processo histórico. É uma habilidade essencial para entender nosso mundo atual em constante mudança. Há um consenso, hoje, de que o trabalhador do futuro deve ser capaz de se adaptar à mudança. As transformações ocorridas no passado fornecem pistas que ajudam refletir sobre as mudanças exigidas no presente. O que aconteceu com os artesãos urbanos na Revolução Industrial? Como as famílias se recompuseram depois de guerras ou epidemias devastadoras? 

À luz da História, é possível avaliar se um determinado fator é gerador de mudanças profundas ou superficiais. O aprendizado da História permite avaliar, por exemplo, até que ponto uma inovação tecnológica, uma nova política educacional ou uma rebelião social são, de fato, geradores de mudanças significativas ou só reacomodaram velhas estruturas. 

4. Relacionar e confrontar diferentes tipos de evidências 

O estudo da História desenvolve uma visão mais ampla dos acontecimentos ao estabelecer conexões entre fatores diversos buscando entender como eles interagem. A História lida, também, com diferentes interpretações e versões de sujeitos, culturas e povos. Isso possibilita confrontar pontos de vista, fazer inferências claras e pertinentes, estabelecer inter-relações e compreender situações mais complexas em que é necessário “olhar a floresta e não somente a árvore” – uma habilidade fundamental em nosso mundo globalizado que não comporta explicações simples nem únicas. 

5. Produzir conhecimento e resolver problemas 

A pesquisa histórica é, muitas vezes, um salto no escuro. À medida que se aprofundam no passado, os historiadores quase sempre encontram perguntas não respondidas, informações obscuras, datas e nomes que não correspondem, ausência ou inconsistência de dados, documentos incompletos ou inexistentes. É como montar um gigantesco quebra-cabeça sem imagem para servir de guia. O pesquisador deve avaliar suas evidências, selecionar informações relevantes e confiáveis, buscar referências para as peças que faltam em sua pesquisa, formular hipóteses, desenvolver argumentos apoiados em teorias confiáveis – enfim, o estudo da História produz conhecimento para solucionar problemas apontados pelas grandes perguntas que norteiam o trabalho do historiador. 

6. Utilizar múltiplos conhecimentos de diferentes ciências 

A História se interessa por todos os aspectos da vida humana – política, economia, cultura, cotidiano, infância, mentalidades, artes, guerras, trabalho etc. – o que abre um enorme leque de temas de pesquisa e de abordagens. Para isso, a pesquisa histórica utiliza conhecimentos e ideias de outras ciências como a Antropologia, a Geografia, a Psicologia, a Linguística etc. 

Além disso, todos os campos do conhecimento têm a sua história o que torna a História uma ciência de múltiplas dimensões: há uma História da Música, da Matemática, das Ciências, da Medicina, do Direito, da Educação, da Religião e, até mesmo, a História da História. Essa habilidade torna o historiador e o estudante de História mais apto para “pensar fora da caixinha” unindo criatividade ao pensamento científico e crítico. 

7. Argumentar e expressar-se em diferentes linguagens de forma clara e fundamentada. 

A História trabalha com uma enorme diversidade de documentos: textos, fotografias, caricaturas, gráficos, tabelas, mapas, artefatos, áudios, artes plásticas etc. Isso habilita o historiador a utilizar diferentes linguagens, a ler criticamente e a questionar todo material que examina seja uma notícia de jornal, uma entrevista, uma carta medieval ou uma caricatura do século XIX. Em um mundo onde as fake news podem influenciar as eleições, as habilidades dos historiadores são mais do que nunca necessárias. 

Com base no material coletado e analisado, o historiador formula e defende suas ideias com afirmações claras, ordenadas, fundamentadas e compreensíveis. Isso pode ser feito em diferentes linguagens e plataformas: livros, ensaios, artigos, resenhas, blogs e, também em exposições orais, vídeos, entrevistas etc. A História desenvolve uma forte capacidade de comunicação, de questionamentos, formulação de hipóteses e argumentação. 

O estudo da História ilumina sobre nosso passado e nossas escolhas do presente.
Charge de Ivan Cabral, 2016.
Conclusão 

O pensamento crítico e criativo, e a capacidade de investigação criteriosa, entre outras habilidades desenvolvidas pelo estudo da História, têm sido requisitos importantes na seleção de candidatos para as grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos e do Reino Unido, levando-as a empregarem estudantes de humanidades junto aos graduados em engenharia e ciência da computação. 

A importância da História, contudo, é muito mais ampla do que as habilidades que ela desenvolve. Ela nos ilumina sobre nossa rica herança cultural e é essencial para despertar e fortalecer os laços de coesão de uma comunidade. A consciência histórica, essa memória coletiva e individual de pertencimento, é um elemento crucial para superação de marcas do passado que levaram a desigualdades, preconceitos e estigmas sociais. 

A História instiga o indivíduo a questionar seu próprio mundo e a buscar maneiras de torná-lo melhor. É um repositório de experiências humanas que fornece uma compreensão real da interdependência entre sociedades. Inspira a reconhecer a importância da ética, da tolerância, da empatia, do acolhimento e valorização da diversidade. 

Por fim, como lembra Marc Bloch, “mesmo que julgássemos a história incapaz de outros serviços, seria certamente possível alegar em seu favor que ela distrai (…). Pessoalmente (…) a história sempre me divertiu muito”. Isso não deve ser subestimado: um dos fundamentos da atividade intelectual consiste no prazer, na satisfação derivada do conhecimento – o que responde porque todo historiador, professor ou estudante de História é apaixonado pelo seu estudo. 

Fonte 
  • SCHMIDT, M. A. O ensino de História e os desafios da formação da consciência histórica. In. MONTEIRO, Ana Maria (org.). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: Mauad X: Faperj, 2007 
  • BLOCH, Marc. A Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. 
  • LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1994. 
  • MARROU, Henri-Irenée. Sobre o conhecimento histórico. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. 
  • DUBY, Georges. “O historiador, hoje”. In: DUBY, Georges, ARIÈS, Philippe, LADURIE, E. L. R., LE GOFF, Jacques (org.). História e Nova História. Lisboa: Teorema, s/d, p. 07-21.
  • STEARNS, Peter. Why study History? (1998). American Historical Association. 
Artigo copiado de: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/para-que-serve-a-historia-por-que-estudar-historia/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Pegadas na História - Uma Ponte Rumo ao Passado - Parte II

 Por Creomildo Cavalhedo Leite*
Creomildo Cavalhedo Leite, genealogista da Família Carvalhêdo.

Em 30 de março de 2013, às 3h09m, concluía em um caderno de anotações uma crônica que tem o seguinte título: 

"Pegadas na História - Uma Ponte Rumo ao Passado". 

Tratava-se, naquela ocasião, de uma rápida e concisa coletânea de dados, sobre alguns personagens chaves da história genealógica da Família Carvalhêdo, tendo como pontos chaves dois grandes personagens históricos que, muito contribuíram em várias áreas e atividades públicas e privadas nas Províncias do Ceará, Piauí e Maranhão, eram eles: 

* Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles e seu sobrinho, 

* Major Antonio de Souza Carvalhêdo.

Entretanto, tinha um outro Antonio de Souza Carvalhêdo, nascido em Portugal do qual tínhamos pouquíssimas informações, e ao longo jornada, após muitas pesquisas e leituras, permutas de informações com alguns escritores que já estavam na 'caçada' há vários anos, sobre o dito Capitão Mór Antonio de Souza Carvalhêdo.   

Hoje, deixo aqui exarado com ponteira de diamante na pedra do tempo, uma cópia e a transcrição do assento de Batismo de Antônio de Souza Carvalhêdo, o Primeiro Carvalhêdo que temos notícias que, aportou no Brasil, fixando residência em Penedo das Alagoas, quando pertencia ao Bispado e antiga Capitania de Pernambuco.

Assento batismal de Antonio de Souza Carvalhêdo, (extraído do livro de batismo) o primeiro representante da família Carvalhedo no Brasil. O documento data de 23 de novembro de 1679.

Segue a tradução paleográfica de forma parcial.

"Aos vinte e três dias do mês de novembro de mil seis centos e setenta e nove anos; Baptizei eu o Padre Paschoal Correa cura desta Parochial Igreja de São Miguel de Perre a Antonio, filho de Antonio Affonso Carvalhido, e de sua mulher Anna Affonso do lugar (...) 

forão Padrinhos João Miguel (...) 

da Freguesia de São Martinho de (...), e Domingas Solteira, filha de Francisco Miguel Pequeno, do lugar da (...) e desta Freguesia Dia, mês, e era (anno) (...) supra.

Padre Paschoal Correa".

Bandeira de Portugal e a Bandeira do Brasil - Símbolo utilizado nos sites de Genealogia para apresentar as pessoas que nasceram em Portugal e que vieram para o Brasil e aqui permaneceram.

Brasão da Família Carvalhêdo.


Fonte: FamilySearch.

Crédito: Diego Duque.

Palmas, Tocantins, Brasil, 

9 de janeiro de 2024.

Creomildo Cavalhedo Leite.

E-mail: creomildo04@gmail.com

*Creomildo Cavalhedo Leite - Fiscal da Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins.
Pesquisador da História do Sertão Maranhense e Genealogiasta da Família Carvalhêdo.

domingo, 22 de outubro de 2023

O CEM ESTADO DO MARANHÃO CONQUISTA O 3º LUGAR NA 20ª SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA.

Equipe de estudantes oriententada pelo Profº Marcos Cosse realiza feito histórico em participação inédita do CEM Estado do Maranhão.

Estudantes da equipe do Dessalinizador com fogão solar: Maria Eduarda S. Caripunas e Laura Tereza S. Moreira, Joyce Layne L. Viana, Gustavo Martins N. Lopes, Franklin Martin A. da Silva.

Encerrou-se na última sexta-feira, 20/10/2023, a 20º Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que pela primeira vez contou com a participação de duas equipes do Centro Educa Mais Estado do Maranhão.

Não bastasse a façanha de ter dois projetos selecionados para a apresentação no evento científico, que ocorreu na cidade de Imperatriz-MA, recebemos a feliz notícia, ainda no dia 20, de que o projeto "Dessalinizador com Fogão Solar" foi premiado com o 3° lugar na categoria Mostra Científica - Ciências Exatas e da Terra.


É de fato uma proeza diante das inúmeras dificuldades enfretadas, mas que se tornou possível graças a dedicação, competência e perseverança dos jovens estudantes e do Profº Marcos Cosse, bem como o apoio da gestão da Escola, de toda a Equipe Escolar que mobilizou a comunidade escolar para a realização de rifas e angaraiar recursos da para as despesas de alimentação na viagem, dentre outros gastos. Além do providencial do suporte oferecido pela Gestão Pública do município de Tuntum-MA, mediante doação de veículo para as duas viagens à cidade de Imperatriz-MA e através da mediação do pai da estudante Maria Eduarda Caripunas, o Srº  Ronald Caripunas, que é comante do Departamento de Trânsito da cidade de Tuntum e que foi o motorista da viagem do dia 17/10/2023.

Desse modo, a Escola e toda a comunidade escolar se alegra e se orgulha do feito histórico, expressa pelas diversas manifestações nas redes sociais e grupos da escola, congratulando todos os envolvidos. 

Sempre é importante ressaltar que a equipe fora formada pelos jovens: Maria Eduarda S. Caripunas e Laura Tereza S. Moreira, Joyce Layne L. Viana, Gustavo Martins N. Lopes, Franklin Martin A. da Silva, especialmente ao Profº Antônio Marcos Cosse Fernandes, que nestes três últimos anos letivos vem realizando um excelente trabalho através de projetos e participação em eventos de conheciemnto científico, dando visibilidade positiva ao Centro Educa Mais Estado do Maranhão.

No encerramento da 20º Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a Escola foi representada pelos Professores Thiago Sousa e Jhonny Érick  da Frente de Inovação Científica da SUPCETI, posto que a equipe do Profº Marcos Cosse, regressou a Tuntum ainda no dia 17/10, logo após o término de sua apresentação.

À esquerda, Thiago Sousa e Jhonny Érick  da Frente de Inovação Científica da SUPCETI, recebendo o troféu e certificado da Equipe do CEMEMA.


Assim sendo, o Blog Ecos de Tuntum que ora se coloca como porta-voz da Comunidade Escolar do CEM Estdo do Maranhão também registra sua gratidão em face de mais esse importante e exitoso trabalho.

Parabéns a todos!!!







quarta-feira, 18 de outubro de 2023

A INÉDITA PARTICIPAÇÃO DO CEM ESTADO DO MARANHÃO NA 20ª SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


A 20ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e, no Maranhão, é coordenada pelo Governo do Estado.
Trata-se de um evento científico que reúne professores, pesquisadores, cientistas, estudantes e interessados na pesquisa do que é produzido no Maranhão, na área de ciência, tecnologia e inovação.
A edição deste ano está ocorrendo na cidade de Imperatriz-MA e tem como tema "Ciências básicas para o desenvolvimento sustentável", cuja início ocorreu na última segunda-feira,16, e se estenderá até a próxima sexta-feira, 20/10/2023.
Com participação inédita, o Centro Educa Mais Estado do Maranhão da cidade de Tuntum-MA tem dois projetos aprovados para esta edição.
Na última terça-feira, 17/10, a equipe coordenada pelo Profº Marcos Cosse, apresentou blilhantemente o "Dessalenizador com fogão solar". Já nesta quinta-feira, 19/10/2023, conforme o cronograma, será exposta a proposta da BOMBA DE CANO PVC A ENERGIA EÓLICA DE BAIXO CUSTO, orientada pelo competentíssimo Profº Francisco Raposo, que é graduado em Física pela Universidade Federal do Piauí-UFPI. 
Professor Francisco Raposo e sua equipe em ação para a construção da BOMBA DE CANO PVC A ENERGIA EÓLICA DE BAIXO CUSTO.


O projeto consiste na construção de uma bomba de água movida a energia eólica, o qual tem por objetivo o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar, mediante a utilização de materiais de baixo custo e reutilizáveis, contribuindo deste modo para a preservação do meio ambiente.


A equipe do Profº Francisco Raposo é formada pelos jovens: Erick Kauan de Sousa Conceição, Lauro Madeira Pinhero Neto, Luís Felipe de Sousa Silva, Luis Henriique Carvalho Silva e Weylon Davinne Araújo de Almeida. Todos estudantes da 2ª série do Ensino Médio Integral. 

Confiamos muito no trabalho e parabenizamos a todos os envolvidos, ao passo que, agradecemos o empenho em representar com excelência o nosso CEM ESTADO DO MARANHÃO, cumprindo assim a missão de ofertar ensino de qualidade e com corresponsabilidade social.

Sigamos!!!