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domingo, 29 de janeiro de 2017

OS 99 ANOS DO NASCIMENTO DE MARTINHO TAVARES

Matinho Gonçalves de Almeida aos 32 anos
No limiar aurora de meus dourados anos, na bucólica Graça Aranha-MA, os quintais verdejantes testemunharam uma infância (feliz), que saudosamente meu pensamento agora corteja, para o deleite de minha própria vaidade ou para dá sentido ao que agora sou.

Como era bom viver aquela época em que não se precisava saber definir a própria palavra felicidade. Não precisava de relógio, o tempo passava vagarosamente, prazerosamente, igual um delicioso prato que lentamente se degusta. Como demorava chegar o Natal, como melhor eram aqueles presentes...

As lembranças permanecem na memória, aliás vivíssimas, uma vez que, não tenho como não lembrar de meu velho saudoso pai. Pois, apesar das brincadeiras, dos amigos, das mangueiras e bananais, se eu tiver que resumir a minha infância numa palavra, esta seria sempre: PAI. Nesse retorno ao passado, se apodera de mim, um misto de prazer pela saudade dos tempos idos e bem vividos, em que tive meu pai como o ícone que sintetiza aquela fase feliz, com a nostalgia (saudade com dor) de não tê-lo mais entre nós. Como eu queria que ele tivesse realizado seu grande sonho de me ver adulto e agora dizer o que não tive tempo ou maturidade para dizê-lo.

Meu Velho, era homem de seu tempo, mas ao mesmo tempo estava à frente, com virtudes valorosíssimas que tanto foram e são a minha bússola, e algumas limitações próprias de todo ser humano.

Se entre nós estivesse, Martinho Gonçalves de Almeida, o Martim Tavares, completaria nesta segunda, 30 de janeiro, 99 anos de idade. Nascido no povoado Bacuri dos Tavares, em 1918, atual município de Barão de Grajaú-MA, foi o quarto filho do casal Francisco Tavares de Almeida e Joana Gonçalves de Almeida, que tiveram mais seis: Maria, Elesbão, Benta, Gregório, Josefa e Mariano.
Certificado de alistamento militar, 1950.

Forjado no labor do sertão do antigo Bacuri, fundado por nossos antigos ancestrais oriundos do Ceará desde a segunda metade do século XVIII. Entregue desde cedo a uma vida de trabalho árduo, o menino se fez homem altivo, aguerrido e um exímio mestre em tudo que se dedicou, desde a lida da roça, a arte de construir engenho de moenda, além de hábil comerciante, embora tenha frequentado aulas de alfabetização por apenas um mês, era dono de uma bela caligrafia e um excelente matemático. 

No início da década de 1940, o vigoroso Martinho, respeitado e admirado por todos no Bacuri e arredores, já era um abalizado comerciante no povoado. Contrai enlace matrimonial com a jovem Maria Francisca da Conceição Correia, que após o casamento passa a assinar Maria Francisca de Almeida. Em 1943, o casal recebe como dádiva a primeira estrela da constelação de suas cinco Marias: Maria Creuza, "Maria" Angelina, Maria Albertina, Maria do Socorro e Maria Dalva. Além do aguardado Sebastião, único varão do casamento.

Em 1948, consorciado como um amigo, compra o primeiro caminhão do povoado, uma proeza fabulosa para os habitantes do lugar. Em poucos anos, se desfaz do bem e decide deixar sua terra natal e rumar para a Mata do Japão, itinerário seguido por um grande número dos sertanejos do sul do Maranhão. O ousado Martinho, queria um novo lugar para prosperar e que lhe desse melhores oportunidades para exercitar sua atividade de trabalho preferida, o comércio. 
Caminhão Ford F6 1948, modelo similar ao que Martinho Tavares comprou em 1948 

Então, deixa o Bacuri em 1952 e fixa moradia no Centro dos Periquitos, nome dado pelos seus primeiros moradores devido à grande quantidade do pássaro, posteriormente, o topônimo fora substituído por iniciativa de um padre, insatisfeito com a pronúncia distorcida que alguns moradores faziam, causando desconforto ao religioso e àqueles que defendiam a moral e os bons costumes. Depois de um plebiscito capitaneado pelo padre Eurico Bogéia, o lugar passa a ser denominado Palestina, em alusão a Terra Santa no Oriente Médio. 
Antiga Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Graça Aranha
Em 1959, Martinho Tavares já havia se consolidado como comerciante, além de acumular a função de delegado na povoação. Época em que não havia sala de custódia e os criminosos eram combatidos e presos em verdadeiros atos de coragem e valentia. Uma vez preso, o infrator era posto a ferros e amarrado a árvores, até ordem superior do próprio delegado que, em geral, era o único agente da lei no lugar. Ainda em 1959, o povoado seria elevado à categoria de sede do município com o nome de Graça Aranha, desmembrando-se de São Domingos. O novo topônimo fora em homenagem ao poeta maranhense, nascido em 1868 e que fora um dos destacáveis intelectuais que protagonizaram a Semana da Arte moderna em 1922, em São Paulo-SP.

Em 1963, Tavares, ajudaria a protagonizar as primeiras eleições majoritárias do recém criado município, concorrendo ao cargo de vice-prefeito numa chapa encabeçada por Hilton Bonfim, o Beleza, seu amigo e vizinho. Entretanto, não obtiveram êxito, pois a maioria elegeu para prefeito Nacor Rolins, primo de Martinho, mas históricos adversários políticos, inclusive com rugas pessoais. O dado curioso nessas eleições é que o voto para prefeito e vice-prefeito era feito em separado e Tavares obteve mais voto do que seu companheiro de chapa.

Dando prosseguimentos aos negócios, Martinho se destacava cada vez mais como um importante comerciante na cidade e adjacências. Comprando gêneros alimentícios juntos aos lavradores da região como algodão, milho, arroz e, principalmente, amêndoa de babaçu e vendendo produtos industrializados como açúcar, café, rapadura, biscoito, margarina, sabão, soda cáustica, querosene, vela, moinho para café, ferro de passar, motor-rádio, máquina de costura, etc. Aos domingos, dia de feira livre na cidade, sua casa comercial e residencial eram bastante movimentadas, pois recebia os clientes da zona rural.
O casal José Ribeiro da Silva e Adalgiza Almeida da Silva,
clientes de Martinho Tavares, nos anos 1950-1960.
Moradores do Povoado Cruz, município de Gonçalves Dias.

Residente no povoado Araras, Tuntum, Dona Adalgiza até hoje costura numa máquina marca
Vigorelli, comprada no comércio de Martim Tavares em 1960.

Entretanto, Tavares, em 1965-66 sofreria um revés que marcaria sua vida. Aos 48 anos, o homem até então vigoroso, ficaria deficiente de sua perna direita, devido a um tumor que infeccionou e que não recebeu os cuidados devidos. Em tratamento, na cidade de Codó-MA, sob os cuidados do renomado médico Dr José Ancelmo, Martinho passaria vários meses no leito de um hospital. Lembro-me que nosso pai sempre se queixava de que: “Dr José Alnselmo foi assistir a posse do José Sarney que se elegeu para governador do Maranhão em 1965 e deixou um médico estagiário inexperiente para cuidar de mim e a perna infeccionou, quando se deram conta estava sem jeito.”

Se tinha razão ou não em suas lamentações, o fato é que nosso pai perdera a perna, uma vez que, foi retirado os músculos da região do perônio (fíbula), comprometendo seus movimentos de locomoção. Além disso, no intervalo de tempo em que esteve hospitalizado, seu gerente aplicou-lhe um golpe, tomando rumo ignorado, o que levou à ruína seu empreendimento. Acrescente-se a tudo isso o diagnóstico de diabetes, que o induziu por 35 anos a uma vida de alimentação regrada. Contudo, Martinho nunca se reclamou da vida, buscando sempre se reerguer, porém como negócios mais reduzidos e como sua limitação física continuou trabalhando com otimismo e perseverança. 

Por aquela época a casa de Martinho já contava com a presença do infante Antônio Humberto, que havia sido adotado com 20 dias de nascido, em 1963. Esse fora reconhecido e registrado em cartório civil como filho legítimo, e sempre tratado como biológico.

Embora não tenha tido a oportunidade de estudar, nosso pai, sempre valorizou muito o saber, e muito incentivou seus filhos a trilhar pelos estudos. Quando aconteceu os infortúnios, alguns dos seus já haviam partido para outras cidades em busca de melhores estudos.

No ano de 1976, inesperadamente, Maria, sua primeira esposa, falece vítima de uma parada cardíaca. Dois anos depois, casou-se pela segunda vez, com Lenir Rodrigues Vieira, e em 1979, na alcova de sua casa na Rua Nossa Senhora de Fátima, nº 262, em Graça Aranha, em parto realizado pela Mãe Eunice, a parteira, proprietária de uma farmácia, localizada na mesma rua, vem ao mundo este inábil escriba. Era uma terça feira, 13 de março, noite de lua nova, a qual cheguei sob os estampidos de revólver calibre 38. Era costume comemorar a chegada de um filho daquela forma, ainda mais depois de todas as perdas sofridas, ser novamente pai aos 61 anos de idade. Imagine a alegria do velho?

Conto tudo isso porque, conforme disse anteriormente, meu pai foi o maior expoente de minha infância e cresci ouvindo dele todos esses fatos até aqui narrados e tantos outros pitorescos que não terei como relatar aqui. Quem sabe no centenário de seu nascimento?

Lembro que eu era ainda bem pequeno, minha mãe, trouxe para nossa casa minha irmão Clenir, filha de seu primeiro casamento e que vivia com a vó. Apesar de chegar ainda bem pequena, ela nunca chamaria Martinho de “pai”, dizem que eu não permitia. Eu, honestamente não lembro disso. Daí Clenir passou a chama-lo de Padrinho. Mas nosso pai terminou se apegando muito a ela.

Em Graça Aranha vivemos até 1987, quando migramos para Tuntum, onde mesmo idoso, nosso pai, continuou fazendo o que mais gostava, comerciar. No dia 26 de junho de 1992, meses após ser diagnosticado com cirrose hepática, o Velho Martim Tavares viria a óbito.

Seus últimos anos foram de vida modesta, sempre disciplinada ao rigor, devido a sua condição de diabético. Dormia cedo da noite e bem mais cedo acordava para abrir sua bodega. Mesmo considerado homem de temperamento forte, intempestivo, sua casa não faltava gente, se não fosse para comprar algo, seria para receber informações. Nosso pai não perdia um noticiário. Pelo rádio ou pela TV, estava inteirado dos assuntos políticos, econômicos, e, sobretudo, previdenciários. Era um verdadeiro porta-voz dos acontecimentos do Brasil e do mundo. Era um homem altamente politizado. Havia dias que formava uma fila de idosos para consultá-lo sobre aposentadoria, dia de recebimento de benefícios, dentre outros assuntos.

Cartão de pagamento de benefício de auxílio doença,
do INPS, atual INSS, por conta da perda da perna direita. 
Costumo dizer, que apesar de nosso pai muito incentivar para que nos dedicássemos aos estudos, aprendi com ele, e não nos bancos escolares, os valores da honestidade e da sinceridade. Ainda assim, não esqueço o tom de sua voz embargada, que tomada de emoção asseverava: “Estude pois é a única coisa que posso te deixar. Sou um velho aleijado, não tenho condições de te ensinar a trabalhar noutro ramo, então estude.”. 

Em cada data de seu aniversário, há dias se encontrava confinado num gradeado um enorme capão, reservado para o almoço em comemoração de sua nova idade, em ritual solene e cerimonioso. Mandava trocar engradado de refrigerantes (era chique tomar refrigerante naquela época), que ele mesmo nunca bebia. Todo dia 30 de janeiro, mais do que qualquer outra data do ano, era um dia de muita reflexão, meditação. O queixo ficava trêmulo, algumas lágrimas corriam sua face, proferia palavras que ratificava sua trajetória de luta e trabalho incessante, de sua fé em Deus, e dos valores que sempre cultivara. Seu discurso parecia um prenúncio do fim de sua trajetória nós, mas sem, contudo, perder a altivez tão própria dele.

Há quase um séculos de seu nascimento, permanece as boas lembranças e o legado de seus ensinamentos, muitas vezes incompreendido, mas sempre pautado em grandes valores, cuja honestidade é a maior expressão de ser caráter incólume.

A mim cabe o desafio e compromisso de não permitir que sua trajetória caia no esquecimento. Meu maior medo é deletar da memória sua fisionomia, a rigidez de seu rosto, as ideias firmes e convictas em que acreditava, mesmo não concordando com algumas delas, ou silenciar na minha consciência o timbre de sua voz, que tanto materializou sua postura rígida da educação inexorável que dispensou aos seus.

Nesta data é inevitável os sons, os ecos de sua fala em nossa memória:


IMPERATIVOS

Coronel Jean, venha aqui. 
Tenho uma missão para o senhor.
Faça isso... Faça aquilo.
Hora de tomar banho.
Não se senta à mesa sem camisa.
Rezar antes e depois das refeições.
Tem que agradecer a Deus.
O homem tem que ser temente a Deus.
Hora de almoço e janta é sagrado.
Todos tem que começar ao mesmo tempo.
Não se dá trabalho para quem está na cozinha.
Já fez a tarefa do colégio?
Sente aqui. 
Teu lugar é aqui no comércio perto do de mim.
O comércio é uma escola. Tem que aprender negociar.
Aqui vou te ensinar a ser HOMEM com H maiúsculo.
Hora de tomar água e deitar, pois amanhã há muito o que fazer.
Levante! Hora de levantar! 
“Os pássaros não devem nada a ninguém, faz horas que cantam...”
Tudo que faço é para o teu bem. Não me contrarie.
Obedeça-me, que você será feliz.
Meu Grande Herói ...!
Teus inesgotáveis imperativos,
Tão incompreendidos em minha aurora
Somente a sucessão das primaveras torna
Signos melhor decifráveis,
Reconhecidamente toleráveis e tão necessários
Como as águas de março.

Um dia talvez eu seja 10% de seu caráter...Aí poderei dizer que me aproximei de ser o Homem que o meu pai gostaria que fosse.

Enquanto não me torno, agarro-me as minha lembranças e digo-lhe: Obrigado por tudo meu pai! Que DEUS Nosso SENHOR, em sua infinita bondade e misericórdia te presentei com a vida eterna, pois antes de tudo foste na Terra um Homem de bom coração.

Saudade!!!

sábado, 28 de janeiro de 2017

O GOVERNO INTERINO DE ISAAC RIBEIRO - PRIMEIRO PREFEITO DE TUNTUM

Isaac da Silva Ribeiro, primeiro prefeito de Tuntum.
O primeiro a chefiar o poder Executivo no município de Tuntum, Isaac da Silva Ribeiroembora interinamente, o fez por um período considerável, pois iniciou seu mandato em 27/12/1955, por força de um decreto do governador do estado do Maranhão, o Srº Eugênio Barros. Isaac Ribeiro, que permanecera até 31/01/1959, data prevista para a transmissão do cargo ao futuro prefeito, que seria escolhido na primeira eleição municipal em 1958. Foram, portanto, mais de três anos de gestão do prefeito interino.

Nesse período, Isaac Ribeiro, adotou as medidas iniciais para dar à nova cidade um real aspecto de sede do município. Embora, seja importante destacar que, considerando contexto histórico da época, os municípios ficavam a mercê dos irregulares repasses do governo, o que inviabilizava obras de maior vulto.

Outro dado importante é que este primeiro mandato transcorreu sem a existência de Câmara Municipal, que só seria instalada no início do mandato subsequente. Por esta razão Isaac Ribeiro exerceu a seu mandato através de decretos. Os primeiros estão registrados no Livro nº 1 de Registros de Decretos e Leis do Município 1955 a 1964, às folhas 1 e 2:
“Decreto – Lei nº1, 28 de dezembro de 1955 – Criação de cargos, fixação de vencimentos e lotação do quadro de funcionários: 
Artº1 – Fica aprovado o quadro de funcionários do município, bem como seus respectivos vencimentos: -. 
Artº2 – Os funcionários a que se refere este decreto constituirão o quadro único do município, [...] Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e a execução do presente decreto pertencer, que o cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nele contém. 
Prefeitura municipal de Tuntum, 28 de dezembro de 1955, 134º da Independência e 67º da República.  
Isaac da Silva Ribeiro 
Prefeito Municipal"
Cumprindo este decreto, passou a ser lotados: 4 funcionários comissionados na Prefeitura Municipal, incluindo o cargo do prefeito; 34 funcionários na Educação Pública, dos quais 30 na condição de professores municipais. Também foram contratados, guardas municipais, escrivão da Delegacia e carcereiro da Cadeia Pública e com lotação na Segurança Pública. Além disso, evidentemente, o prefeito tratou de providenciar o prédio para a instalação da Prefeitura Municipal, cujo local corresponde atualmente ao Centro Ambulatorial Frei Dionísio Guerra.

O então prefeito, assinaria ainda antes de expirar o ano de 1955 outros decretos, nos quais apontaram para medidas organizacionais do novo município como a criação de escolas públicas – Escola Agrupadora Vitorino Freire, no bairro Tuntum de Cima, Escola Reunida Dr. Isaac Martins na sede e outras em alguns povoados (Decreto Lei nº 3, 28/12/1955). O Decreto nº 7 do dia 30 do mesmo mês e ano considera o riacho Tuntum como de utilidade pública. Outro da mesma data, o de nº 8, fixa o local de realização da Feira Livre. Esta, curiosamente, era realizada aos sábados, onde atualmente corresponde a Rua Vitorino Freire (Gomes, 2007).

É também considerável o decreto nº13/1956 que estabelecera como datas comemorativas e, portanto, feriados municipais a data de criação (12/09/1955,) e instalação do município (27/12/1955). A primeira é a data em que se comemora o aniversário do município, a segunda, no entanto, passa despercebida, relegada ao esquecimento.

Em março de 1956 o Decreto Lei nº 14 assinado pelo prefeito estabeleceu os nomes para os logradouros públicos, observando-se homenagens às primeiras famílias que habitaram a sede, a exemplo da Rua dos Benvindos, Rua dos Andrades, Rua Frederico Coelho. Com a data de criação consta a Rua 12 de setembro. Também foram homenageadas personalidades que prestaram serviços e apoio ao novo município, como: Rua Senador Vitorino Freire, Rua Governador Eugênio Barros, Rua Ariston Leda, Rua Isaac Ribeiro, Avenida Frei Aniceto, Praça Eurico Ribeiro, dentre outras vias públicas.

Outra instituição significativa, fora a criação da Agência Arrecadadora, cuja função era de arrecadar taxas e impostos das casas comerciais, bares, açougues, tanto na sede como nos bairros e povoados. Para a execução deste trabalho o prefeito nomeava um agente fiscal. Também se registra no referido governo a construção da Delegacia de Polícia, que ainda hoje está situada no mesmo local, à Rua Isaac Ribeiro.

Assim sendo, essas medidas de caráter organizacional estabelecidas na gestão do prefeito Isaac Ribeiro, nos leva a concluir que o mesmo cumpriu bem o seu papel dada às circunstâncias históricas do início da autonomia política de Tuntum.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A SAGA DOS FRADES CAPUCHINHOS EM TUNTUM - PARTE I


Por Jean Carlos Gonçalves

Quem ousar compreender, em grande parte, a constituição histórica de Tuntum, deve se debruçar sobre os arquivos da Igreja Católica e recorrer a memória oral dos que testemunharam e guardaram pelas gerações a imensurável legado que a Igreja e os frades franciscanos deixaram à posteridade. 
O pioneiros missionários capuchinhos na vasta Prelazia de São José de Grajaú.
  Da esquerda para direita: em pé, Emiliano Lanoti, Frei Marcelino, Frei Roberto ( que se tornaria posteriormente, Bispo), Frei Carmelo de Bréscia, Frei Heliodoro de Inzago. Sentado no centro, Frei Dom Roberto Colombo de Castallanza.
Ao longo da História, foram várias as ordens religiosas que se fizeram presentes em solo maranhense, entretanto, nenhuma delas, talvez tenha assumido o papel de sujeito histórico na dimensão dos frades franciscanos da Ordem Menor dos Capuchinhos.

Seus membros chegaram a São Luís em agosto de 1893 e no ano seguinte, estabeleceram-se em Barra do Corda, onde iniciaram um projeto de evangelização, junto aos índios. Por conta do crescente sucesso da missão, fundaram a Colônia do Alto Alegre, a qual em 1901, ficaria conhecida mundialmente, devido ao “Massacre de Alto Alegre”. Contudo, não é nosso objetivo aqui, discorrer sobre esse fatídico episódio, mas de referenciar cronologicamente, reconhecendo o fato como etapa constitutiva da saga dos missionários, que após o episódio de Alto Alegre, passaram a evangelizar as populações sertanejas, dando-lhes assistência não só espiritual, mas oferecendo-lhes ensinamentos para melhor resistir em  terras ainda praticamente inóspitas. 

Para melhor organizar as ações, a Igreja cria em 1922 a Prelazia de São José de Grajaú, abrangendo uma vasta extensão territorial do Maranhão, a qual Tuntum estaria integrado.


Mapa – Prelazia de São José de Grajaú
Fonte: NEMBRO, 1972.
É através da desobriga*, que os frades capuchinhos se aventuram pela exuberante floresta e se arriscam ante suas intempéries. Enfrentam animais de grande porte, ferozes e peçonhentos; doenças como a malária, gripe, febres, hanseníase, tétano e tantas outras próprias da floresta.


Geralmente montados em lombos de animais, e alguns circunstâncias a pé, percorriam centenas de quilômetros íngremes, transpondo riachos e correntezas, enfrentando obstáculos de toda a sorte para chegar até os mais isolados lugarejos e levar esperança às populações sertanejas.

A abnegação, o desprendimento, a renúncia, a caridade,  e, sobretudo, o amor, tão peculiar dos frades da Igreja, deve ser pelas novas gerações, objeto de conhecimento, reconhecimento, respeito e exaltação, pois trata-se de uma questão de JUSTIÇA, de honestidade histórica e não de proselitismo religioso.


Dom Adolfo Bossi num gesto espontâneo perante um leproso abandonado.
Segundo a tradição oral, em Tuntum, os evangelizadores se fazem presentes desde o início do século XX. Há relatos, de que no Sítio dos Carneiros (atual bairro Vila Mata) de propriedade da família Carneiro Santos, fora erguida uma capela coberta de palha para a celebração de missas, casamentos e batismos, durante as desobrigas.

São escassos os documentos escritos acerca de nomes e exato tempo cronológico do trabalho missionário  região que seria, posteriormente, o território Tuntum, que até 1943 pertenceu a Barra do Corda e daí, até 1955 a Presidente Dutra. Entretanto, analisando o que se tem, é possível concluir, evidentemente, que foram os frades estabelecidos na cidade de Barra do Corda que desenvolveram o trabalho desobriga  pelos lugarejo do sertão, incluindo Tuntum e Curador (Presidente Dutra), importantes povoados barra-cordenses no final da década de 1920. 

Nas primeiras décadas do séculos XX, o nome de alguns frades podem ser considerados, como: Frei Roberto de Colombo, Frei Carmelo de Bréscia, Frei  Eliodoro de Inzago (vide fotografia abaixo), Frei Emiliano Lonati, Frei Marcelino de Milão, Frei Carmelo de Primolo. Na terceira década destaca-se Frei Adolfo Bossi, e nos anos 1940 Frei Renato e Frei Dionísio, ambos inauguraram em 1949, a Paróquia de São Sebastião em Presidente Dutra. 


Na parte superior da fotografia, pode-se lê:
"Curador - Barra D. C.1929
- transpostando tijolos pª ??????
da Capela
Fra Hiliodoro de Inzago"


No anos 1950, surge de modo mais efetivo em Tuntum, o próprio Frei Dionísio Guerra, Frei Aquiles, Frei Rogério Beltrami, Frei Liberato, Frei Pedro Jorge (este seria o primeiro pároco da Paróquia de São Raimundo Nonato, criada em 1959). Esses atuaram incansavelmente, na construção da Igreja Matriz e de outras obras de vulto em Tuntum.

Entretanto, existe uma fonte valiosíssima, que nos oferece uma noção mais precisa da saga dos frades franciscanos: A Carta de Frei Adriano de Zânica de 1931. A mesma faz referência ao Frei Carmelo de Bréscia, falecido no povoado Canafístula (dos Pacas) em 1925 acometido de malária. Na Carta, Zânica relata: 
“Paramos na primeira palhoça que encontramos, pois a prudência pede não sermos demasiado afoitos em viagens noturnas pela mata. Foi justamente perto deste lugar chamado Canafístula que o nosso querido co-irmão Fr. Carmelo de Bréscia encontrara a morte seis anos antes.” (Zânica, 1931, s/p)
Frei Carmelo Pasini de Bréscia
(1886-1925)

No livro “...Saíram para semear...”, lançado em 1993, por ocasião do centenário da chegada dos Frades Capuchinhos no Brasil, apresenta o frei Carmelo de Bréscia como grande símbolo dos missionários desobrigantes que deram a vida pela causa do Evangelho de Cristo. 
“Frei Carmelo evoca-os a todos, não porque seja o mais esperto ou o mais santo – somente Deus pode estabelecer graduações e assinalar os primeiros lugares –; não porque tenha gastado muitos anos nessa itinerância – com dificuldade conseguiu juntar 4 –; mas porque pagou o preço mais alto, morreu – e quanto tragicamente! – ministrando esse serviço às almas...
Morreu na imensa solidão da floresta numa choupana miserável, assistido piedosamente pelo seu sacristão que segurava a última vela, por um menino de 15 anos e por um velho paralítico, dono do casebre... Morreu aos 39 anos, atassalhado pela malária que levava no corpo há muito tempo, longe dos co-irmãos e das irmãs que poderiam cuidar dele ou, ao menos, aliviar seus sofrimentos...” (CONVENTO DO CARMO, 1993, p. 169)
Nota-se uma representação, que ratifica a eloquência discursiva e literária própria dos intelectuais da Igreja, carregada de sentimentos de exaltação à figura dos abnegados capuchinhos, que Carmelo de Bréscia se torna ícone.

As distâncias nas viagens em  desobrigadas, em geral, eram feitas em montarias
Com o crescimento gradual o povoado Tuntum, a presença dos missionários, foi cada vez mais regular, sempre contando com as montarias de mulas e burros, animais mais resistentes, para as longas jornadas em desobriga, ou, conforme as circunstâncias, utilizando-se até de jumentos e cavalos. A montaria como meio de transporte resistiu até a década de 1980, no período chuvoso. Os velhos jipes e emblemáticas Toyotas Bandeirantes assumiriam posteriormente, o papel nas desobrigas.


Desse modo, os frades “saiam para semear” o Evangelho, a fé, a esperança, a caridade, o amor, representado no assistencialismo, caridade e compaixão para com os idosos, crianças, mulheres, enfermos, em fim, ao sertanejo, levando medicamentos, noções de higiene, amenizando o sofrimento das almas do nosso Sertão.

* "A palavra desobriga é uma própria palavra da língua portuguesa e significa: 1) dispor o fiel ao cumprimento de um ônus de consciência. No caso o dever da Confissão e da Comunhão anual; 2) Estratégia missionária, nascida do zelo corajoso e criativo, conatural à pastoral e ao número de agentes pastorais naquele tempo; 3) experiência pastoral empregada sobretudo nos sertões do Maranhão. Antes das chuvas o vigário cooperador das paróquias do centro embrenhavam-se nos sertões, acompanhado do sacristão. Iam e a estrada, mesmo que o sacristão esquecesse, os burros veteranos sabiam decorado, abreviando distâncias através de veredas indistinguíveis." CONVENTO DO CARMO, SÃO LUÍS DO MARANHÃO, 1983)

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

DIVISÃO POLÍTICA E NATURAL DE TUNTUM - BREVES NOÇÕES

Mapa destacado de Tuntum.
"Surgiste sobre o Alto Mearim
Bela cidade com os louros da grandeza
Um povo forte que nasceu para cantar
Os seus recursos transformados em riquezas"


Na primeira estrofe do hino municipal, o autor Alter Colber de Sousa, cuidadosamente, situa Tuntum geograficamente em seu quadro microrregional (Alto Mearim), exaltando a beleza, a grandeza de sua gente,  e, especialmente, dos recursos naturais com lastro da riqueza pelo trabalho de seu bravo povo.

Para quem não conhece o vasto território tuntuense, fica difícil ter uma noção mais precisa de como seus mais de 41. 000 habitantes se distribuem em seus 3. 369, 123 Km² e de como se relacionam com a biodiversidade que sua natureza lhe oferece. 

Localizado na Mesorregião Centro Maranhense e na Microrregião do Alto Mearim e Grajaú, Tuntum se destaca por possuir uma dimensão espacial bem peculiar, pois em seus extremos norte-sul tem uma distância de aproximadamente 150 Km. Além disso, outro dado importante é que Tuntum possui nove vizinhos limítrofes: Barra do Corda, Joselândia, São José dos Basílios, Presidente Dutra, Santa Filomena do Maranhão, São Domingos do Maranhão, Colinas, Mirador e Fernando Falcão. Observe:
  • Ao norte: Joselândia, São José dos Basílios, ;
  • Ao sul: Fernando Falcão, Mirador e Colinas;
  • A leste: Presidente Dutra, Santa Filomena e São Domingos;
  • A oeste Barra do Corda.

Em sua extensão, seu território comporta as matas, ao centro-norte e o cerrado, ao centro-sul. Paisagens naturais essas, que contribuem substancialmente para a formação econômica, social e cultural, obviamente.

Palmeira de Buriti, típica do Sertão ou Areias, 2006

O centro-norte, onde abrange a sede do município, e vários povoados importantes, como o Ipu-iru, Cigana, Creoli do Bina, Araras, Noleto, Capim, Arroz , Centro dos Teixeira, Alto do Coco, Serra Grande, Aldeia, dentre outros, conta com uma paisagem típica da floresta Amazônica, muito embora, se perceba os efeitos devastadores do desmatamento, uma vez que, a prioridade dada à pecuária exigiu cada vez mais a ampliação das áreas destinadas às pastagens. Atividade econômica que favorece a descaracterização da originalidade da Pré-Amazônia, de tal modo, que dificilmente, os mais desavisados, não teriam, atualmente, condições de reconhecer, essa porção do município como pertencente a área da Amazônia. Contudo, ainda nas poucas áreas virgens, encontramos remanescentes da floresta nativa, entremeada de palmeiras de babaçu, na qual ainda se encontra a aroeira, o ipê amarelo, o ipê roxo, a jatobá, o cedro vermelho, a sucupira, a maçaranduba, o angico, a sapucaia, a candeia, o gonçaloalves, o creoli, a sumaúma (barriguda), a canafístula, o xixá etc. Árvores de alto porte que outrora abrigavam sob suas imponentes copas uma fauna bastante diversificada, da qual é representante  a guariba, o macaco, a onça pintada, a anta, o caititu, a capivara, o tamanduá, o quati, o veado, a paca, o tatu, o peba, a cutia e inúmeros outros.


Floresta ou Mata
O centro-norte integra a região da Mata do Japão, denominação essa atribuída pelos colonizadores do sul-maranhense, em referência a essa porção do estado, caracterizada pela vegetação exuberante, parte constituinte também da Pré-Amazônia. Do mesmo modo, o município também faz parte da Mata dos Cocais. O babaçu é a árvore nativa mais característica do Maranhão, sendo o maior produtor dessa amêndoa do mundo.

Mata dos Cocais
Já no centro-sul, importantes e seculares povoados e lugarejos como o Belém, Marajá, São Bento, Brejo do João, Já Vem, São Loureço (Mucura), São Joaquim do Melos, Corrente, Anajá, Canto Grande, Campo Largo, São Marcos, Mangabas, Baixão, Santa Rosa, Maravilha, Mutuca, Folguedo, Furrudungo, etc., estão envoltos, também de uma paisagem natural diversificada, pois, além de se encontrar variedades da fauna e flora próprias da mata, contam com o predomínio do cerrado, contando com árvores de médio porte, como o pequi, o bacuri, a bacaba, a mangabeira, o cajuí, a braúna, a juçara, o açaí, o buriti que pontilham brejos e lagoas, comportando aves, galináceos, roedores, felinos, como o urubu-rei, a seriema, o gato-maracajá, onças, etc.

Brejo da Mucura, no povoado Já Vem

Percebe-se desse modo,  de modo inconteste a riqueza da biodiversidade encontrada no território do município, o que confirma a coerência que o autor do hino municipal materialiou de sua aguçada inspiração, advinda de um cenário natural que precisa ser conhecido, reconhecido, respeitado,  e, sobretudo, preservado pelas novas gerações, posto que hoje se encontra em grande parte devastado pela ação antrópica.


Profº Leno Carlos, cruzando do cerrado, no extremo sul do município
FOTO: GONÇALVES, 2006


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

MARANHÃO GEOPOLÍTICO - Breves noções ...

Localizado na parte mais oeste da região Nordeste, o Maranhão é considerado uma transição entre essa região do semiárido nordestino e a Amazônia. Por isso, na divisão segundo critérios físicos, o Maranhão está inserido na sub-região nordestina denominada Meio-Norte, parte territorial também conhecida como Nordeste Ocidental.

Segundo Eloy Coelho Neto, o Maranhão é um: 

“... quadro misto, composto de florestas, campos baixos, cerrados, chapadões, alagadiços e tesos, várzeas e brejais, sempre os palmeiras, do que se pode dizer um tapete na mira do homem, com o desafio constante para que o habite e o faça produzir mais”. (COELHO NETO, 1985 p. 25).
Assim, podemos perceber claramente que o estado possui uma paisagem natural bastante diversificada, devido a sua considerável extensão territorial e pela própria localização geográfica acima destacada. Logo, podemos afirmar que o Maranhão é indiscutivelmente um estado privilegiado por apresentar em seu vasto território uma variedade de relevo, clima, vegetação, hidrografia, e, por conseguinte, grandes contrastes regionais.

Enquanto que os demais estados da região Nordeste historicamente sofrem com o flagelo da seca, fato este que obrigou levas e levas de nordestinos desde o início do século XIX a migrarem para outras regiões do país em busca de melhores condições de vida, o Maranhão tem em sua história o "status" de ter sido um dos estados que mais recebeu retirantes dos demais estados que integram a região, principalmente, devido a suas boas condições naturais (solos férteis, regularidade do índice pluviométrico, etc.), fatores importantíssimos para a ocupação e povoamento de grande parte de seu território, principalmente as porções leste, sul e central. Por outro lado, apesar de todo o potencial apresentado, o Maranhão é na atualidade um dos estados da federação que apresenta os piores indicadores sociais, necessitando de iniciativas políticas que viabilizem geração de renda para as camadas populares, como forma de reduzir, os muitos problemas enfrentados por seu povo.

Então, devido a todas essas características apresentadas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, órgão do Governo Federal responsável pelos estudos e levantamentos de dados sobre o espaço geográfico brasileiro e de sua população, dividiu o Maranhão em cinco grandes mesorregiões, com forme o mapa 1.


Fonte: Wikipédia



























  1. Centro Maranhense
  2. Leste Maranhense
  3. Norte Maranhense
  4. Oeste Maranhense
  5. Sul Maranhense

           Essas mesorregiões subdividem-se em 21 microrregiões, sendo que as mesorregiões Norte e Leste são as que mais possuem microrregiões, seis cada. As demais integram três. Vejamos:





MESORREGIÃO NORTE:
16 - Baixada Ocidental
1 - Microrregião de Aglom. Urb. de São Luís
3 - Microrregião Baixada Maranhense
21 - Microrregião de Rosário
14 - Microrregião de Itapecuru
15 - Microrregião de Lençóis Maranhenses

MESORREGIÃO OESTE
12 - Microrregião Gurupi
18 - Microrregião Pindaré
13 - Microrregião Imperatriz

MESORREGIÃO CENTRO-MARANHENSE
2 - Microrregião Alto Mearim e Grajaú
17 - Microrregião Médio Mearim
20 - Microrregião de Presidente Dutra

MESORREGIÃO LESTE MARANHENSE
6 - Microrregião Alto do do Parnaíba e Itapecuru
5 - Microrregião de Caxias
10 - Microrregião de Coelho Neto
9 - Microrregião de Codó
8 - Microrregião de Chapadinha 
4 - Microrregião do Baixo Parnaíba

MESORREGIÃO SUL
19 - Microrregião de Porto Franco
11 - Microrregião Gerais de Balsas
7 - Microrregião da Chapada das Mangabeiras


domingo, 22 de janeiro de 2017

MEU EXÍLIO


Da varanda da saudade
Contemplo a recordação 
Da minha infância feliz 
Lá na Mata do Japão

Desta selva de concreto
Que enclausurado me vejo
Remonto às minhas raízes
Com nostalgia no peito

Sei que esse sentimento
Não se trata de trama inédita
Quem nunca foi um Gonçalves Dias?
Quem nunca cantou sua terra?

Humano é quem alimenta
Um laço de afetividade
Em relação ao seu velho Torrão
Matriz de sua ancestralidade

Cada um consigo carrega
A lembrança que arrepia
Mas a substância que o sangue acelera 
Se converte em melancolia

Por não mais pisar o solo sagrado
Que lhe nutriu um dia
Nem mergulhar nas águas límpidas
Onde sua alma renascia

Meu DEUS, onde estão agora,
Os imponentes bem-te-vis?
Que majestosamente orquestravam
A sinfônica da floresta feliz?

Daqui não os ouço mais
Nem miro a velha palmeira
Onde o pica-pau com altivez
Penetrava seu bico na madeira

Só o pesar da tristeza
De quem não mais reverencia
O alegre rebuliço da Mata
Ou Ipê que na primavera floria

Aqui pareço mais a cigarra
Emitindo som estridente
Um peixinho fora do riacho
A fogo-pagô murmurando incessantemente

Mas no pulsar do peito, o desejo 
De regressar à Terrinha um dia
Recuperar o brilho nos olhos
Personificar novamente a alegria

Tal qual o sabiá
Que as manhãs contagia
Encantando as deleitosas fêmeas
Afugentando os rivais com ousadia

Ou a destreza das jaçanãs delirantes
Que desfilam nas lagoas sombrias
Flutuando sobre gélidas águas 
E predadores frustrando com maestria

Do mesmo modo que fazia
Ante represálias de meus pais
Em fins de tarde fugia
Mangueiras subia, adentrava bananais

É o que nutri a esperança
Alenta o meu coração
Encarnar os dons da floresta
Da minha Mata do Japão

Para meus campos avistar
Meus babaçuais contemplar
Aos pares testemunhar
E às musas poemas declamar

Os medos que vivenciei
As lembranças que me agarrei
As dores que superei
As forças que arranquei

Para novamente feliz evocar
Com a mais sublime paixão
A nota de alegre música
E fincar os pés no bendito chão

Assim nunca mais sofrerei
A angústia da desilusão
O temor de exilado ficar
Da minha amada Mata do Japão!

sábado, 21 de janeiro de 2017

O POVOAMENTO DO MUNICÍPIO DE TUNTUM - A PRIMAZIA DO SERTÃO

Por Jean Carlos Gonçalves

Ao contrário do que a maioria equivocadamente pensa, a região sul do município, que possui aspectos naturais típicos de cerrado, até por considerarmos como uma extensão da paisagem natural do antigo “Pastos Bons”, fora a primeira parte do território desbravada e ocupada pelo colonizador, ainda no primeiro quartel do século XIX. Muito embora, sejam raríssimas as obras, os livros, os documentos, enfim, fontes históricas que tratem da ocupação inicial e povoamento do município de Tuntum. As referências escritas existentes são muito vagas e imprecisas, exigindo, portanto, bastante acuidade.
A matriz de todo pesquisador que se propõe a conhecer o processo de formação histórica do sertão maranhense é a grandiosa e memorável obra “O Sertão” de Carlota Carvalho. Publicada originalmente em 1924, autora além de tratar sobre a vasta região de Pastos Bons, também faz um relato épico sobre a ocupação e povoamento de parte daquilo que mais tarde, acreditamos, viria a ser território de Tuntum e, que nos permite, ainda que sem exata precisão cronológica, reconhecer a ocupação meridional como a mais antiga do município. 

Carvalho em sua obra, narra a saga dos perseguidos políticos durante os episódios, que marcaram o processo de construção do Estado Nacional, inclusive os ocorridos posteriores à Independência, (principalmente a Confederação do Equador de 1824). Os insurgentes buscavam nas matas do sertão maranhense o refúgio e a tranquilidade negada pela tirania do governo imperial:

"Um dos muitos lugares em que os refugiados se domiciliaram foi o Campo Largo, arraial e campo do mesmo nome entre os riozinhos Alpercatas e Capim, este tributário do Mearim, no qual entra com o nome mudado em Corda, e o outro é o principal formador do Itapecuru.
Em 1823-1825 o povoado ou arraial Campo Largo já era populoso e nele havia, para o sexo masculino, uma escola que era ensinada leitura, escrita, aritmética, gramática e latim.
A figura principal era o cearense Diogo Lopes de Araújo Sales, que foi chefe político da Chapada.
Sob os auspícios dessa figura primacial, meu avô, José Joaquim de Carvalho. Baiano, natural da vila Santa Rita do Rio Preto, comarca da Barra, fundou a dita escola no interesse de ensinar também a seus filhos mais velhos, então meninos, Benício, José Irineu, Antônio e Miguel, meu pai."
(CARVALHO, 2004, p.101).

Este relato é uma importante fonte de informação, não somente pelo que concerne ao povoamento inicial do que mais tarde seria Tuntum, mas também sobre o contexto político vivido no Brasil durante o processo de independência e Primeiro Império, marcado pela instabilidade político-social e, sobretudo, por incertezas vividas pelas populações dos mais longínquos rincões brasileiros, tendo no Campo Largo o domicílio preferido dos refugiados (Coelho Netto, 1979).

Com relação a primazia da ocupação pelo colonizador, podemos concluir que a parte sul do atual município tem merecido destaque, visto que o aludido Campo Largo está incluso no território de Tuntum desde a sua emancipação em 1955. Quando Diogo Sales fundou o povoado, suas terras pertenciam ao vasto território colonial de Pastos Bons, posteriormente Grajaú, mais tarde Barra do Corda, Presidente Dutra e finalmente Tuntum.

Dunshee de Abanches, outro importante memorialista em “A esfinge do Grajaú” reforça sobre o contexto das perseguições enfatizando:
"Foram em geral perseguidos atrozmente e tiveram que homiziar-se em Pastos Bons e outros pontos dos altos sertões maranhenses onde muitos se fixaram, constituindo famílias numerosas e honradas. Um desses emigrados, José Joaquim de Carvalho, filho da Bahia, homem culto e probo, estabeleceu-se em Campo Largo [...]."(ABRANCHES, 1993, p. 100).
O “Campo Largo é um marco da penetração e do povoamento, sob a orientação de Diogo Lopes de Araújo Sales” (Coelho Netto, 1985, p. 145). Esse personagem se destacaria posteriormente por ocupar lugar de destaque na agitada vida política dos sertões, principalmente, na Chapada (hoje Grajaú) para onde se deslocou com sua família anos mais tarde. Sobre esse desbravador e seu engajamento político nos sertões maranhenses, Abranches registra:
"Emigrado de sua província natal (o Ceará), estabelecera-se este em Campo Largo, região que mais tarde faria parte da Comarca da Barra do Corda. Audacioso e possuidor de certa instrução, enriquecera rapidamente; e, abrindo aí uma escola para os seus escravos e conterrâneos que nessas terras vieram se fixar fugindo das secas, [..]." (ABRANCHES, 1993, p. 117).
Além da postura política desse desbravador, outro ponto destacável seria a sua preocupação com a educação de seus pares e também de escravos (Op. cit. CARVALHO), indício de uma vida social “intensa” no Campo Largo, ou mesmo, de sua formação ilustrada. Outro dado curioso e passível de mais apurada análise, é a inclusão de cativos, algo no mínimo atípico para a época e que pode ser um expressivo indício de uma particularidade nas relações entre senhores e escravos no sertão maranhense. Elementos estes que podem colocar esses pioneiros na categoria daqueles ilustrados embebidos do ideário do liberalismo, ainda que adaptado ao contexto brasileiro, em expansão desde meados do século XVIII e que teria norteado os independentes e também os rebelados da Confederação do Equador em 1824.
Profº Leno Carlos, Sr Josué Simpaúba, morador do Campo Largo e Profº Jailton Santana
FONTE: GONCALVES, 2008.

Ainda sobre Diogo Lopes sabe-se que “(...) torna-se rival do chefe da Chapada (Militão Bandeira Barros). E as rugas partidárias não tardariam a degenerar as rixas odientas entre famílias, servindo a política de pretexto para vinganças pessoais, assassínios e depredações de propriedades”. (Abranches, 1993, p. 117). O fato mais marcante dessa rivalidade ocorreu quando da prisão de Militão, pois o mesmo declarou a República dos Pastos Bons, tendo sido aprisionado por Diogo Lopes, então chefe do partido conservador na Chapada (Grajaú). Outro capítulo importante dessa disputa entre os coronéis se deu durante a Balaiada, quando Lopes fora um dos principais comandantes socós (conservadores) e rechaçara os bem-te-vis que no sertão tinha sua maior expressão em Militão.

Voltando a questão do Campo Largo como marco inicial da ocupação do território tuntuense, Maria do Socorro Coelho Cabral em “Caminhos do Gado – Conquista e Ocupação do Sul do Maranhão”, discorrendo sobre Carlota Carvalho lança a assertiva: “No início do século XIX, seu avô paterno, José Joaquim de Carvalho, veio estabelecer-se no Maranhão, em Campo Largo, na época pertencente à ribeira do Grajaú, no distrito de Pastos Bons”. (Cabral, 1992, p.41).

O termo “ribeira do Grajaú” pode causar dúvida quanto à localização do Arraial de Campo Largo, porém preferimos aqui entender que Cabral se referia ao vasto território de Grajaú, visto que a própria Carlota é clara quando afirma, conforme citamos anteriormente: “o Campo Largo, arraial e campo do mesmo nome entre os riozinhos Alpercatas e Capim, este tributário do Mearim, no qual entra com o nome mudado em Corda, e o outro é o principal formador do Itapecuru”.

Galeno Brandes, historiador barra-cordense advoga a mesma ideia: “A sudeste da Vila de Santa Cruz de Barra do Corda, pelas cercanias da estrada que conduzia ao famoso povoamento do Campo Largo, ribeirinho do Alpercatas [...]”(Brandes, 1994). Deste modo, não há dúvida de que o Campo Largo citado por Carlota Carvalho é o mesmo povoado situado às margens do rio Alpercatas no extremo sul do atual município de Tuntum.

Ainda sobre o Campo Largo, Galeno Brandes, aponta uma monografia escrita na década de 1930 sobre Barra do Corda e de sua ligação via terrestre por uma antiga estrada carroçal, considerada a primeira a ligar Barra do Corda a Mirador, Fazenda Picos (origem da cidade de Colinas), Caxias das Aldeias Altas, e outros. Essa estrada compreendia de Barra do Corda ao Campo Largo num percurso de aproximadamente 100 km passando por vários lugarejos, pela seguinte rota: Missões – Belém – Olho D’água – Escondido – Bacury – Jacaré – Inhuma – Corrente – São Joaquim – Santa Rosa – Campo Largo. Assim, identificamos também outros importantes povoados do município, como é o caso dos centenários São Joaquim dos Melos (hoje distrito de Tuntum) e Santa Rosa. 

Brandes defende ainda em sua obra “Barra do Corda na história do Maranhão”, que o fundador de Barra do Corda – Manuel Rodrigues de Melo Uchoa, percorreu o referido trajeto antes de chegar ao seu destino final, bem como os “[...] acossados pelas secas e rechaçados pelas lutas que se processaram em todo o País – Guerras de Independência – e até mesmo pelas di Oisputas entre Coroa e a Província, na ocupação das terras férteis e livres”. (Brandes, p. 87, op. cit). O autor não só reitera a tese das perseguições como fator motivador da ocupação e povoamento, como também aborda sobre as secas que em diversos momentos de nossa história fora, indiscutivelmente, como importantes fatores de povoamento da região, conforme discorreremos oportunamente.

Atualmente, o secular arraial do Campo Largo se resume a uma meia dúzia de habitações, pois perdera sua importância como “portal de entrada” para os bandeirantes e boiadeiros que partiam do sul do Estado transpondo o Rio Alpercatas rumo às feiras de Caxias, Campos das Pombinha (próximo a Itapecuru) e São Luís, sendo relegado ao abandono, ao isolamento, cuja relevância histórica não se apagou de nossa memória, graças aos nossos mais célebres historiadores e memorialistas.´

Da direita para a esquerda: Os professores-pesquisadores Jean Carlos Gonçalvese Jailton Santana; Em seguida membros de uma família remanescente do antigo povoado Campo Largo.
Foto – Família de Campo Largo
FONTE: GONCALVES, 2008.
Localidade Brejo da Cobra, próximo ao Campo Largo, 2008.
Brejo da Mucura, Povoado Já Vem, 2008.
Garimpando referências e pistas sobre a ocupação e povoamento do centro-maranhense no primeiro quartel do século XIX encontramos outro importante registro:
[...] é feita no médio Maranhão, entre as matas do Japão e do Nascimento, por nordestinos, vítimas de perseguições políticas, que através de Pastos Bons, atravessaram o Alto do Itapecuru e rumo adentro do território maranhense, num verdadeiro bandeirantismo, ficaram na região onde havia brejos e lagoas nos municípios, hoje, de Presidente Dutra, Dom Pedro, Gonçalves Dias, Tuntum, Graça Aranha e São Domingos. (COELHO NETTO, 1985. p. 143)
Isto só confirma o que inicialmente apresentamos: a parte central do Maranhão, na qual está localizado o município de Tuntum, tem seu povoamento inicial, a partir de Pastos Bons como portal de entrada, em que perseguidos políticos adentram o atual território de Tuntum no contexto de consolidação do Estado Brasileiro, período este, marcado por profunda instabilidade política e social.

Coelho Netto em sua “Geo-História do Maranhão” também destaca um importante movimento da História do sertão maranhense ainda pouco estudado, mas que pode servir como elemento de explicação no panorama conturbado dos primeiros anos de nossa emancipação política – “A República de Pastos Bons”:
[...] embora que não passasse do terreno das idéias, mas mesmo assim veio merecer toda a atenção do Governo que em circunstanciada Exposição de Motivos do Ministro da Justiça obrigariam a S. M. o Imperador a lançar mão de medidas enérgicas, ordenando pelo decreto de 27 de fevereiro de 1829, na conformidade do art. 179, § 15 da Constituição, a suspensão ali provisoriamente das garantias e liberdade individual, a fim de que por meio se pudesse ter o verdadeiro conhecimento da extensão que poderia ter aquele atentado, como prevenir o progresso. (COELHO NETTO, op. cit).
Percebe-se deste modo, a preocupação das autoridades imperiais com a insatisfação da população sertaneja ante a política autoritária do Primeiro Reinado, a qual Carlota Carvalho denominou: “morte paternal”, e que as medidas repressivas, levaram famílias sertanejas a buscarem uma vida mais tranquila nas terras que correspondem hoje aos municípios da região, na qual Tuntum se insere.

Outro movimento social que pode ter contribuído para a ocupação dessas paragens, foi A Balaiada (1838-1841), pois se sabe que este acontecimento histórico foi motivado também pela insatisfação de vários segmentos populares dos sertões maranhenses com o governo imperial e pela estrutura socioeconômica em que se encontravam durante o Período Regencial (1831-1840). A historiografia registra sobre a campanha repressiva, implacável e sanguinária promovida pelo Estado e chefiada por Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. É muito provável que os balaios em fuga tenham adentrado pela floresta mais densa – a nossa Mata do Japão.

Outra pista que pode subsidiar em “nossa aventura”, (às vezes quase que no escuro), sobre a ocupação dos domínios pertencentes atualmente a Tuntum, foi o papel assumido por Manoel Rodrigues de Melo Uchôa, considerado fundador de Barra do Corda em 1835, e que, a partir de então, passou a exercer o papel de autoridade política local e representante do governo da Província do Maranhão, sendo que uma de suas atribuições era distribuir terras aos emigrados, principalmente cearenses e piauienses, que vinham para habitar a região. Considerando que a esta época o território de Tuntum era uma terra quase totalmente inóspita e sob o domínio de Barra do Corda, certamente Melo Uchôa, além de conceder terras para os emigrantes, também, obviamente, distribuiu glebas entre membros de sua própria família. Para isto, serve como indício, o antigo povoado de São Joaquim dos Melos, localizado na parte sudoeste de Tuntum, e que até nos dias atuais ainda vivem descendentes dos Melos, Milhomens e Carvalhos, e inúmeras outras que se entrelaçaram e até hoje protagonizam a vida sertaneja do Médio e Alto Sertão de Tuntum-MA.

Assim sendo, é preciso reconhecer a primazia da ocupação do sul do município, posto que o povoado Tuntum, teve sua ocupação inicial por volta de 1890, com a chegada de José Naziozeno. Desse modo, tal reconhecimento é importante, necessário e oportuno, pois coloca o Sertão, a Região das Areias de Tuntum, no seu devido lugar de importância na constituição histórica do município de Tuntum.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRANCHES, Dunshee de. A esfinge do Grajaú. – 2º ed. São Luís: ALUMAR, 1993.

BRANDES, Galeno Edgar. Barra do Corda na História do Maranhão. – São Luís: SIOGE, 479 p., 1994.

BUZAR, Benedito. Vitorinistas e Oposicionistas. – São Luis: Lithograf, 2001.

CARVALHO, Carlota. O Sertão: subsídios para a história e geografia do Brasil. 2ª ed. – Imperatriz: Ética, 332 p., 2000.

COELHO NETTO, Eloy. Geo-História do Maranhão. São Luís, SIOGE, 396 p. 1985.

CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Caminhos do Gado: conquista e ocupação do Maranhão. – São Luís: SIOGE, 1992.