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domingo, 13 de agosto de 2017

Uma Página da História - Dr Isaac Martins Reis

Por Creomildo Cavalhedo*
Drº Isaac Martins dos Reis
Sábado : 13 de Agosto de 1898 – Sábado: 13 de Agosto de 2016.Cento e Dezoito Anos depois do falecimento, deste grande guerreiro da Cidadania Republicana do Alto Sertão, um visionário, um líder nato, um paladino da justiça e um emérito defensor obstinado que professava sua fé na liberdade do ser humano como uma conquista através da Educação; na sua Visão e Missão de Vida, conforme deduzimos dos vários artigos inspirados e escritos pela sua própria pena, bem como dos artigos de diversos autores publicados em momentos diferentes, sobre a História e o Testemunho de Vida deste abnegado cidadão.

Nascido: Dia 1º (No Sábado) de abril de 1854, na Fazenda ‘Santo Antônio’, município de Loreto e faleceu na Capital São Luiz – Maranhão em 13 (Sábado) de Agosto de 1898, com quarenta e quatro anos de idade; filho do Capitão Domiciano Martins dos Reis, nascido em 1830, faleceu em 21 (Terça-feira) de setembro de 1886, com 56 anos) e em 1848 casou com Dª Ana Joaquina de Jesus, com a qual viveu por 38 anos; ambos filhos do Estado do Piauí; neto do Coronel Francisco Martins dos Reis.

Quando saiu a confirmação do falecimento do Dr Isaac Martins Reis, vários jornais estamparam a notícia e relataram sua História e seus feitos. Dentre os Jornais que li e tenho cópia irei transcrever o mais sucinto, para melhor e rápida apreciação do transcorrer do sepultamento do Apostolo Republicano do Alto Sertão.

“Dr. Isaac Martins Reis
O sahimento do cadáver do nosso desditoso amigo Dr Isaac Martins effectou-se mesmo no sábbado, às cinco horas da tarde, sendo regularmente concorrido.
Prestaram-lhe esta última homenagem amigos seus, políticos e particulares, notando-se entre estes não poucos do credo político opposto ao que o finado abraçara.
O féretro sahio da casa do Dr Agrippino Azevedo, onde o Dr. Isaac Estivera em tratamento ao voltar do sítio para onde partira ao sentir aggravamento se-lhe os soffrimentos.
Uma lindíssima coroa, em cujas fitas se lia a inscripção – Ao Dr Isaac dos Reis – Os seus Correligionários – Pousava sobre o ataúde.
Da cappela do Cemitério até a catacumba nº 234 em que foi sepultado o nosso desventurado amigo, foi a padiola carregada por vários dos seus correligionários e admiradores, entre os quais notamos os drs. Agrippino Azevedo, Vianna Vaz, Sardinha e Barbosa de Godois, Feliciano Perdigão, Francisco Fernandes Junior e, si a memória não nos é infiel, associaram-se igualmente a esse preito ao amigo morto os srs Desembargador Jesuino Freitas e drs Costa Rodrigues e Pedro Rios.
Sobre o pranteado passamento do Dr Isaac, recebemos o primeiro dos telegramas que adiante publicamos e o directório do Partido Republicano Federal o segundo: 
Caxias, 14.
“Redação da Pacotilha”
Surprehendeu-nos dolorosamente, enlutando-nos, infausta noticia prematuro passamento nosso illustrado amigo Dr Isaac. – Gazeta.
Caxias,14.
Directorio Republicano Federal.
Tomamos parte no immenso pesar que punge o Partido Republicano Federeal Maranhense, com o prematuro passamento do nosso distincto Correligionário e amigo Dr Isaac Martins.
Britto Pereira; Dorotheo Nery; Cyro Vilhena ; Abilio Machado; Domingos Soares.
De facto quer para nós, amigos sinceros do Dr Isaac Martins, e quer para o Partido Republicano Federal, foi uma perda sensibilíssima o passamento daquelle infatigável lutador e prestante Cidadão.”

Uma vida dedicada a dois importantes pilares na construção de uma grande Nação: Justiça e Educação; uma vida que serve de modelo para qualquer Cidadão(ã) do Século XXI.

Palmas – TO, 13 de Agosto de 2016.**
Creomildo Cavalhedo Leite.

Pesquisador Creomildo Cavalhedo
________________________
*Creomildo Cavalhedo é filho do município de Barra Corda-MA, atualmente residente na cidade de Palmas-TO, onde é servidor da Secretaria Estadual de Agricultura daquele estado. Amante das LETRAS e da PESQUISA HISTÓRICA, Cavalhedo é antes de tudo um sertanejo que ama e investiga suas raízes sertanejas, sobretudo, sua ancestralidade.
**O texto acima fora publicado há exatamente um ano, por ocasião do 118º aniversário de falecimento de Drº Isaac Martins.




sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Ser Estudante


Canto, para o mundo ouvir
Minha voz não tem fronteiras
e as barreiras são impulsos que nos tornam gigantes.
Levanto a bandeira da educação
e com a alma regozijada digo que sou estudante
Sou gente...
Sou história...
Sou caminho que nunca se tardia
Eu sou o espelho que doravante
será o reflexo de minha própria face
numa realidade que agora construo.
Ser estudante é ter na alma
a juventude que nunca se apaga;
que nunca envelhece.
É não morrer a esperança
quando tudo parece ser tão irrecompensável e sem valor.
É vencer o cansaço depois de um dia de rotina
e repousar no desejo de que a vida para ser edificada
precisa encarar as dificuldades face a face.
No peito do estudante bate um coração
que pulsa no ritmo das palavras sem limites
Sem limites para um sonho que não se esvai;
Sem limites para a vida que não se finda
entre quatro paredes duma escola
Maravilhado és tu estudante
que agora bem-aventurado conduz teus passos
e repousa na tua Pátria Mãe Gentil.
O estudante vibra, canta, luta
É luz que reluz os olhos de outrem.
Ele tem a juventude que não se escorre entre os dedos
Ser estudante é ser protagonista de sua própria história
vivida, sofrida, dedilhada num acorde de violão,
ou simplesmente declamada nos versos de uma poesia.

(Fábio Russo)

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

DE VOLTA À CASA 30 ANOS DEPOIS – O DESAFIO!!!


Os raios solares que vagarosamente despontara no horizonte naquela manhã de agosto, contrastava com o frio típico da estação, que logo cedo nos afugentava de nosso leito.

Daquela vez não foi necessário meu pai nos despertar, pois a expectativa e ansiedade eram maiores. Eu contava 8 anos e morava na rua Eugênio Barros, bem próximo do colégio, o qual visitamos uma semana antes para efetivar a matrícula, ocasião em que embora percebendo sensível diferença em relação a minha escola em Graça Aranha, não tinha ainda bem clara a noção das diferenças. Talvez não as constatei devido a forma amável que, minha mãe, Clenir e eu, fomos recebidos pela saudosa Valdete Gonçalves, cuja a graciosidade e gentileza me fizeram sentir em casa. 

No entanto, naquela manhã de segunda-feira, 03/08/1987, quando adentrei a Unidade Integrada Isaac Martins (nomenclatura da época), me dei conta da dimensão das diferenças de cenário e logo fui tomado por uma sensação de estranheza e medo. Após direcionado para a sala e ocupar a carteira, onde minha irmã e eu fomos bem recepcionados pela amável Professora Ana Rita, fomos todos convocados para o pátio, no qual todas as turmas se juntava para cantar o Hino Nacional. Lá conheci uma senhora que a primeira vista me causou medo, por conta do rigor que conduzia o trabalho de disciplinar os alunos no cerimonioso ritual. Tratava-se da Ceiça, uma espécie de inspetora escolar. De baixa estatura, aquela senhora de olhar atravessado que impunha autoridade com veemência, mas que sempre tratava a todos com muito respeito. Em pouco tempo, pude perceber o quanto era carinhosa e atenciosa para com os membros da comunidade escolar.

Além disso, daquele pátio carrego outra lembrança indelével, pois no alto da parede da cantina, a frase que habita minha memória: “DRº ISAAC MARTINS DOS REIS, O LÍDER DOS REPUBLICANOS DOS SERTÕES MARANHENSES!”. Enunciado este, que somente fui ter a dimensão de sua importância depois de um tempo. Daí fui fazendo relação com o nome do colégio, e pude reconhecer que se tratava de uma grande personalidade política e social do Maranhão da segunda metade do século XIX e que nenhuma relação tinha com o Srº Isaac da Silva Ribeiro, primeiro prefeito de Tuntum, que muitos, equivocadamente acreditam até hoje, ser o homenageado da escola. Ledo engano.

Um ano e meio depois havia concluído o ensino primário, segui para outro colégio, mas o sentimento de afetividade por aquele educandário permaneceu. O menino se fez homem, conseguiu com muitas dificuldades se graduar em História, daí passou a analisar os acontecimentos, os lugares, os nomes, com o olhar de pesquisador que busca insistentemente o sentido dos objetos de nossa história local. Então o Isaac Martins passou a habitar mais vivamente no universo de minhas preocupações, que urgem por entendimento e desmistificação, tanto o sujeito histórico, quanto o mais antigo estabelecimento de ensino de Tuntum.
Passados exatos 30 anos, nesta data de hoje, me debruço sobre a questão, ainda mais porque depois de tanto tempo retorno à Casa, agora como professor de História. Uma conquista que valorizo muito, porque após alguns breves e superficiais estudos, percebo muitas semelhanças entre a minha história de luta e superação e a trajetória extraordinária do Drº Isaac Martins dos Reis. Além disso, estou convicto de que nossos valorosos estudantes muito se identificarão com a saga de tão emblemático personagem, que infelizmente, é ainda muito desconhecido fora do mundo acadêmico.

Agora me lanço ao desafio!!! Pesquisar sobre a vida e obra do Drº Isaac Martins e de nosso Centro de Ensino Isaac Martins. Há muito por fazer, mas com ajuda da comunidade escolar, do povo tuntuense, das instituições públicas, dos amigos pesquisadores, me proponho ao desafio.

Aguardem!!!!!!!!!!!

DE GRAÇA ARANHA PARA TUNTUM - A PARTIDA.


O sol emerge no horizonte, resplandecente no límpido céu azul, adentra, incandescente pelas frestas do telhado do velho casarão que jamais imaginei deixar. 

Antes da luz natural, ouvi ainda quase desfalecido, os sons (os tun-tuns) da muletas de meu inquieto pai no piso rubro que semanalmente, tantas vezes assisti minha mãe lustrar, após lavarmos todos os cômodos ouvindo os vinis de Rei Roberto, Cláudia Barroso, Ângela Maria, ou dos Trepidantes e outros, na velha vitrola, que mais parecia um piano. 

Os barulhos da bengala de papai ficaram cada vez mais forte até pausar bem próximo, e despertando-me rapidamente com sua pesada mão em meu ombro e sua voz aguda em brado:

- Levanta-te! Hoje vamos embora deste lugar! Anda. Tem muita coisa para arrumar.

Naquele instante fiquei estático, intrigado, e silenciosamente, para não questionar a autoridade do velho, indaguei: Se há mais de uma semana arrumávamos a nossa mudança, então como ainda havia o que arrumar? 

Eu contava apenas 8 anos naquela terça-feira, 28 de julho de 1987. Não tinha como ajudar com aqueles pesadíssimos móveis. Mas meu pai como sempre nos tratou como um adulto em miniatura, queria que estivéssemos a postos para ajudar no que fosse necessário ou no que estivesse dentro de nossas possibilidades. 

Ainda no início da manhã, da calçada de casa vi estacionar em nossa frente o caminhão de Seu Zé Gomes e a D-20 do Crézio, ambos vizinhos e grandes amigos de meu pai e que fariam o transporte de nossa mudança. Deu um nó na garganta. Aos poucos do alto da minha inocência de criança fui me convencendo que de fato deixaríamos o lugar, aquela casa, os amigos, o nosso bananal, o quintal e aquelas dezenas de mangueiras de tão variadas espécies. 

O Casarão aos poucos foi ficando maior, na medida em que era esvaziado pelos arrumadores vizinhos, amigos, alguns vieram do Centro do Dé, dos Piaus, eram clientes de meu pai, com quem nutriam muito respeito e consideração, resultado de muitos anos de relações comerciais (seus nomes guardarei para um livro de memórias). Aqueles amigos, desde bem cedo estavam à disposição para carregar os carros. Gradativamente a casa foi sendo ocupada, por vizinhos, moradores de Graça Aranha, gente dos povoados... Ninguém acreditavam que o velho Martim Tavares e família estavam deixando a terra depois de tantas décadas, e após ter feito  tanto por aquele lugar.

Na verdade, a oficialidade nunca reconheceu, mas a gente simples, humilde e que em algum momento da vida precisou de um favor do velho comerciante, nunca deixou de reconhecer sua generosidade e honestidade. O choro dos que assistiam aquela movimentação era incontido, inevitável, afinal eram muitos anos de convivência. Lembro das vizinhas, das mulheres do interior que vieram para fazer comida, o almoço para todo aquele mutirão.

Eu ficava andando pela casa, em cada cômodo, triste, visitei cada parte, por várias vezes fui ao fundo do enorme quintal. Não conseguia compreender. Mas estava convicto que não tinha volta. O Carlos da Delta e o Gleisson do Jó (meus amigos de infância), me acompanhavam por toda a parte, pedindo para eu não ir embora. Quanta inocência! Absolutamente compreensível, afinal tínhamos 8 anos de idade. 

Os carros foram carregados, estavam prontos para partir, o almoço pronto, as pessoas participavam da última refeição naquela casa. Eu assisti sem nada comer, enquanto minha mãe, doava para as vizinhas e amigas alguma lembrancinha: um prato, uma panela, o simples copo. Quem lá estava não saiu de mãos vazias. Por  um momento, um clima de alegria e descontração que logo fora interrompido pela voz:

- Estamos no ponto. Vamos!!!!

Havia chegado o momento. Muitas faces, muitas lágrimas. Entrei no carro, os motores foram ligados. O Carlos foi último, se aproximou, estendeu a mão e disse: 

- Adeus, meu amigo!

Um aperto de mão, uns segundos de silêncio... 
E mais uma vez, o choro foi inevitável!