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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

DRº ISAAC MARTINS - ECOS DO SILÊNCIO NO TEMPO



Como você deseja ser lembrado? Qual é o teu legado?



Essa é uma indagação que poucos param para refletir nos dias atuais, dado o imediatismo e a superficialidade do verdadeiro sentido da vida. Segundo a mitologia grega, certa vez, um jovem se aproximou do guerreiro Aquiles, para avisá-lo de sua convocação pelo rei Agamenon de Esparta, para travar um duelo com o gigante Tessálico Bógris, e, em uma só luta, decidiriam quem subjugaria o reino adversário sem que fosse necessário a morte de milhares de soldados.

Aquiles, questionado pelo mensageiro se, não temia o gigante Tessálico, o guerreiro simplesmente respondeu: “Por isso, seu nome nunca será lembrado.”. Eis aí o ideal grego, o sentido da vida: “Viver para ser lembrado.”, ainda que, na brevidade da vida, o guerreiro não deveria temer a morte, e sim, buscar a glória, por isso, teria que, realizar proezas para que, seu nome fosse lembrado e cantado pela posteridade.

Séculos depois dos tempos homéricos, no Centro-Sul Maranhense, surge um guerreiro, lapidado e obstinado a protagonizar algo inédito e épico no Sertão e no Brasil Império, cujas marcas indeléveis, ecoam há mais de um século. Não sabemos se, Dr Isaac Martins, fora questionado sobre as intempéries que, a vida lhe reservaria, nem se isto, foi alvo de suas preocupações, porém, é inegável que seus feitos são dignos de profunda admiração, tal qual, os grandes heróis da história.

Nascido no município de Loreto-MA, em 1º de abril 1854, Isaac Martins vivera 54 anos de vida intensa, até o seu silêncio eterno em 13 de agosto de 1898. Neste breve intervalo de tempo, sacudiu os Sertões, a Província do Maranhão e o Brasil, assistiram seus esforços em defender os ideais em que acreditava. Forjado no labor das dificuldades cotidianas, tornou-se respeitado e admirado no Maranhão, na segunda metade do século XIX.

Alfabetizado em idade adulta, conseguiu a façanha de cursar Direito em Recife-PE, e antes de concluir o curso, assumiu a promotoria de justiça em Barra do Corda, posteriormente outros cargos na Comarca. Ao lado, de outros baluartes do sertão, Frederico Figueira, Rocha Lima e Dunshee de Abranches, fundou o periódico, O Norte, instrumento na luta abolicionista pela propagação das idéias republicanas, as quais implodiram a monarquia. Sua militância fora ininterrupta. Ocupou e exerceu cargos eletivos importantes, após a instauração da República.
Drª Isaac Martins dos Reis, o líder do republicanos nos sertões maranhenses.
Após 120 anos de seu falecimento, para seguir a “profecia do homem grego”, trazemos à lume, uma página importante da história, que ratifica as referências acerca do Drº Isaac Martins, dada a repercussão nacional de sua morte: A publicação do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, capital do país. O texto na íntegra, segue, respeitando o vernáculo da impressão original, como forma de preservar a autenticidade do valioso pergaminho:
DR. ISAAC MARTINS
Telegrammas recebidos hontem recebidos nesta capital confirmam o despacho do nosso serviço especial, noticiando em S. Luiz do Maranhão o falecimento prematuro do ilustre brasileiro dr. Isaac Martins.
Descendente de uma das mais distintas famílias do sertão maranhense, nasceu o finado na cidade de Loreto, onde passou a primeira infância, seguindo mais tarde para Caxias, afim de dedicar-se os estudos secundários.
Cursou depois a Faculdade de Direito, bacharelando-se em 1883, tendo conseguido nos fastos acadêmicos os louros que mais tarde haviam de granjear-lhe a alta influência de que gozava actualmente no seu Estado natal.
Filiado ao partido liberal, ainda estudante salientou-se nas lutas política, então renhidas e sangrentas no sertão maranhense, lutas que ficaram conhecidas como pelos crimes monstruosos do Grajahú e durante as quaes o seu ardor cívico nunca esmoreceu na defesa dos oprimidos, merecendo o respeito e a admiração dos seus próprios adversarios.
Um vez formado, foi nomeado promotor publico de Barra do Corda e, mezes depois, juiz municipal da mesma comarca, onde fixou residencia e dedicou-se aos estudos jurídicos sobre o qual deixa notáveis trabalhos.
Em 1888, depois da abolição, que dia a dia pregava, sustentando formidáveis campanhas que ficaram memoráveis na história do Maranhão, publicou um manisfesto republicano com Rocha Lima e Dunchee de Abranches e com este seguio todo o sertão a serviço da propaganda fazendo meetings , fundando clubes e organizando o partido historico que, mezes mais tarde, empenhava-se aos pleitos eleitorais, A 12 de novembro desse mesmo anno fundava O Norte, o órgão do partido ocupando o lugar de redactor chefe, em que até agora se manteve.
Proclamada a Republica, foi dias depois nomeado juiz de direito, sendo também sendo eleito senador a primeira constituinte maranhense.
Orador brilhante e erudito, os seus discursos foram modelo de sabedoria e moderação; e nos annaes da assembléa maranhense deixaram paginas que hão de ser lidas sempre com grande proveito.
Nas eleições da presente legislatura federal o nome do dr. Isaac Martins foi suffragado por enorme e expressiva votação, não sendo, comtudo, reconhecido na verificação de poderes.
Chefe dos mais prestigiados na politica maranhense, deixa o finado um nome querido e venerado pelos seus próprios adversários que nunca lhe desconheceram as eminentes qualidades do seu rígido caracter e de seus numerosos serviços à causa publica.
É justo, portanto, o luto que neste momento cobre o Maranhão, que acaba de perder um dos mais dilectos e ilustres filhos.
Jornal do Brasil – Edição nº 227
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 1898.

As façanhas dos nossos heróis do passado, a exemplo do Drº Isaac Martins, somente terão lugar na memória das futuras gerações se os mais abalizados peritos da história, pesquisadores e memorialistas, lançarem mão do verdadeiro estado da arte do seu ofício. É preciso abnegação para que, faça justiça com os personagens históricos, seu lugar à luz da memória. É inegável que o Drº Isaac Martins dos Reis, o líder dos republicanos nos sertões maranhenses, merece ser objeto de investigação dos historiadores e pesquisadores. Não pode e não deve permanecer no ostracismo da Academia.

Assim sendo, o Blog Ecos de Tuntum apresenta-lhes esse achado histórico que estava coberto de poeira do tempo e do alçapão do esquecimento humano. Agora, o denso véu começar a dissipar...

Que os ecos de sua grandeza sejam objetos de apreço à posteridade.

"Se um dia contarem a minha história.
Que digam que andei com gigantes.
Homens se erguem e caem como trigo, mas esses nomes jamais perecem.
Que digam que vivi na época de Heitor, o domador de cavalos.
Que digam que vivi na época de Aquiles”

Palmas - Tocantins, 15 de agosto de 2018 – Creomildo Cavalhedo Leite.
Tuntum – Maranhão, 15 de agosto de 2018 – Professor Jean Carlos Gonçalves.

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