Por Jean Carlos Gonçalves.
Elenco do Atalanta de Tuntum, na temporada 1999. |
Em pé (da esquerda para a direita): Técnico Baiano. Jogadores: Lydyogley, Jean Carlos, Zé Nildo, Fabinho, Valdenes, Maurício, Toinho, Zoni e Rivaldo. Agachados: Manelinho, Francisco, Cleones, Geofran, Edmilson, Silvinho e Remi.
Um álbum empoeirado na estante, começo a folhear as páginas me deparo com uma velha fotografia, por um instante me desprendo do presente, viajo no tempo... O ano é 99, precisamente a 28 de março de 1999. É dia de final do campeonato municipal relativo ao certame de 1998. Aos 14 minutos do primeiro tempo a explosão nas arquibancadas do velho estádio, lotado em sua capacidade. Ah! Velho cenário, de tantas glórias... Nunca havia marcado naquela arena. Aconteceu justamente, no dia em que a alegria seria momentânea, pois perderíamos o jogo de virada pelo placar de 2x1, para o arqui-rival São Raimundo.
A fotografia acima retrata o elenco do Atalanta Futebol Clube na partida da semi-final entre Atalanta e Vila Nova (4x1 em favor do primeiro) no domingo que antecedeu a grande final, acima destacada. O aludido elenco participou dos campeonatos de 1998 e 1999. Maior parte desses jogadores formou a base do time do campeonato de 2000. Além dos jogadores que aparecem na imagem, também fazia parte do grupo o talentoso meia Alexandre do Bacabal que estava suspenso para essa partida e o Chiquinho, que se encontrava lesionado.
Continuo a buscar nos arquivos de minha memória, as cenas, os personagens, protagonistas e coadjuvantes, destaques e anônimos daqueles tempos áureos de nosso majestoso futebol. Fico rememorando os momentos de fulgor, reflexos de pura alegria que de forma tão marcante e que exercia tamanho poder de influência em nossos comportamentos, sociabilidades, no cotidiano. Mesmo com os antagonismos, as rivalidades entre as grandes agremiações locais, que por vezes deixavam os ânimos acirrados... Como éramos felizes e só nos damos conta disso agora.
De repente, embora envolto na minha memória, retorno ao presente e começo a comparar o que se tinha e o que se tem com relação ao futebol local, percebendo que existem muito mais diferenças do que semelhanças. Fico pensando, refletindo, dividido entre a nostalgia do passado e a lamentável situação de hoje.
Isso fica evidente, na crise, ou mesmo, perda de identidade que passa o nosso futebol (para ser generoso, pois os adjetivos adequados seriam outros menos afáveis) e a para falar de falta de ações efetivas para resgatar o brilho, a magia, o fascínio de uma das manifestações culturais de nossa terra.
A crise atual não encontra resistência concreta. Isso é fato. Mas o que poderia ser feito diante do descaso, da desorganização e da descredibilidade constatada nos últimos campeonatos realizados?
O segmento governista, motivado por seus interesses, ou o senso comum, cuja visão não-crítica compromete por demais a compreensão da realidade, pode até refutar tal ponto de vista e argumentar se utilizando dos patrocínios da Prefeitura Municipal, das premiações, da construção do novo estádio, dentre outros. Entretanto, que fique claro: As medidas adotadas atualmente são totalmente despidas, da espontaneidade, do encanto daqueles certames realizados no estádio paroquial Dom Adolfo Bossi.
Ah! O ESTÁDIO DOS PADRES! Que nostalgia!
Saudade de uma época em que a população desportista, tinha nas tardes de domingo o seu programa favorito. Antigo palco, onde a torcida se maravilhava com as belas jogadas dos nossos craques do passado, Expedito Pé de Ouro, Walber, Celino, Eba, Dejó, e tantos outros. Mas também de figuras folclóricas como Osano Saraiva, Inácio, Lourdes (a mão do jogador Fiúsa), pessoas cuja irreverência perdeu a originalidade, o sentido, que abrilhantava as arquibancadas ou seu “lugarzinho sagrado” atrás da trave da entrada e hoje sobrevive apenas em nossos lampejos de memória, talvez a única forma de resistência ante a falta e/ou ineficiência de eventos esportivos, que quando realizados, são exclusivamente utilizados como mecanismo ideológico, de cunho propagandístico, pelo governo local, e, aliás, nem pra tal fim, tem alcançado êxito.
Cabe enfatizar: a “política futebolística implementada” é um desrespeito para com a população desportista, com a tradição do melhor futebol da região central do Maranhão. Competições sem graça, sem empolgação. Um estádio novo, cujo projeto foi executado de forma duvidosa, desprovido de drenagem, que não resiste a qualquer chuva mais demorada.
Portanto, que fique registrado nossa indignação, e se no momento nós insatisfeitos com a organização do futebol tuntuense não reunimos condições para oferecer uma alternativa ao modelo atual, utilizemos então, pelo menos, a memória para criticar, refletir e analisar a condição atual, a nossa realidade.
Afinal, eis aí o grande papel da história.