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sábado, 2 de março de 2019

Registro de Uma Época.

Por: Creomildo Cavalhedo Leite.


Barra do Corda, nesta data festiva dos teus 182 anos, de muitos fatos que entraram para a História, teus filhos fazem hoje, uma genuína reflexão sobre o prisma que decompõe a luz, nos seus múltiplos campos do conhecimento histórico, econômico e social, para extrair do teu passado lições que, possam instruir e plantar a boa semente para viabilizar o futuro das gerações que virão e, continuar sempre avançando.
Sabendo que: ‘Escrever para a posteridade, é mergulhar no Oceano profundo da História...’
Entretanto, é algo que o escrevinhador vai perquirindo, navegando em águas sempre revoltas, mesmo tendo os melhores instrumentos para orientação nos momentos de tempestades, é necessário algo que, o impulsione além da razão, é preciso disciplina e garra para ir aprimorando e focar no objetivo de: ‘Decodificar, as entre linhas das páginas da História de um Povo... O Legado construído para as gerações futuras.’
E, para este momento que marca a passagem do teu surgimento - ‘Princesa do Sertão’ - entre tantas outras do teu tempo que, para trás ficaram, banidas da História dos Povos; receba esta justa homenagem nesta memorável data; trago à luz um artigo que tem por título: ‘Barra do Corda’, um texto publicado e veiculado de forma noticiosa na imprensa, da época, onde o articulista, é um: ‘Cavaleiro ali residente*, e muito conhecedor da localidade, as palavras, cuja leitura recommendamos’... faz uma descrição de forma apreciável da então Vila e terce elogios ao Dr Isaac Martins dos Reis, um grande personagem que foi o principal ator no seu tempo e que deixou um rico legado para tua História.
‘Barra do Corda’
‘Senhor redactor – É sempre necessário que uma localidade se faça de quando em vez lembrada por meio da imprensa, principalmente quando deixando-se de parte questões que involvem interesses particulares, se attende somente o interesse e o bem geral.
Este é o móvel que nos determina á traçar estas poucas linhas noticiosas.
Esta Villa fica a 80 léguas dessa Capital, à margem direita do rio Corda, no mesmo lugar em que este recebe do lado esquerdo as águas do Mearim. O seu local é admiravelmente salubre e soffrivelmente bello pelo seu aformoseamento produzido. D’um lado pelo Corda, que deslizando se n’um lindo curvo, dobra-se como que para abraçal-a offerecendo os seus tributos – Água pura, potável e christalina, e banhos incomparavelmente aprasiveis; do outro, por lindos outeiros, que visto de pequena distância assemelhão-se a uma grande e colossal serpente de cor verde, embalando o lusidio dôrso para adquiri o movimento; vistos de mais longe parecem ondas, que se succedem levemente agitadas.
A todos estes dotes naturaes accresce a esta Villa, é actualmente o ponto do interior, mais commerciantes e de mais futuro, já é o que outr’ora foi Caxias, - O empório de todo o commercio do interior da Provincia; basta dizermos que as Villas de Santa Fhilomena (do Piauhy), Victoria, Lôreto, Riachão, Carolina, Santa Thereza, todo o Sertão das Comarcas da Chapada, de Mirador e Pastos Bons, distando quatro, cinco ou seis vezes menos que Caxias, vem de preferência sortir-se nesta localidade.
De janeiro deste anno, á esta data, tem tocado n’este porto 8 vapores com carregamento importante... para esta Villa e seu termo, não fallando nos carregamentos aqui desembarcados com destino às outras localidades.
Bem veem portanto, o commercio do Maranhão, as companhias de navegação a vapor, o Governo da Província e os seus representantes, que esta localidade é a mais digna das vistas de todos, do que talvez tenhão até agora entendido. Se não bastão os títulos allegados, attendão ao menos alguns, ao seu interesse próprio, - que já é uma pequena parcella do bem geral e do interesse commum.
Pelo lado do commercio:
Esta localidade importando a quantidade de mercadorias que já referimos, não consta aqui um agente de vapores, e nem sequer uma casa em que possam ser armazenadas as mercadorias, até que os seus respectivos consignatários de outras localidades, as venham receber; aqui permanecem, em geral, mal acondicionadas, sujeitas a extravios e a deteriorações, em casa deste ou d’aquelle negociante, que com sacrifícios e prejuízos das próprias commodidades, vê-se obrigado a recebel-as.
Quanto à administração da justiça e policiamento do lugar:
Temos felizmente magistrados intelligentes, probos e solícitos cumpridores dos deveres dos seus cargos; as mais auctoridades locais são geralmente idôneas, e preenchem perfeitamente as funcções dos seus cargos; mas lutam com difficuldades invencíveis.
Estamos a 80 léguas distantes dessa Capital, n’uma Comarca de 30 léguas de extensão cercada de índios selvagens e errantes e temos presentemente duos praças (Dois Soldados)... commandados por um Sargento! Há dentro deste Termo diversos criminosos, alguns pronunciados e em lugar sabido, mas o que fazer para capturál-os? Temos uma Cadeia, que nada mais é uma choupana de taipa, sem commodidade e segurança alguma; e não obstante isto nenhum andamento tem tido um prédio para este fim, solidamente principiado em 1862!
Não temos egreja, uma capellazinha velha e em Mao estado, é o lugar em que se celebra os ofícios Divinos. Mas se não há Padre na Comarca, para que egreja? Tivemos a felicidade de vir da Freguezia do Mirador o Padre Joaquim da Silva Mourão, que se acha entre nós, e que, com um sacrifício e uma dedicação verdadeiramente Evangélica, conseguiu fazer um leve reparo na egrejinha, em que, com a pompa e concorrência que é possível esperar desta tão esquecida terra, se tem festejado o mês da virgem Maria.
A População desta Villa e seus subúrbios é relativamente grande, principalmente pelo accrescimo que teve com affluencia da emigração Cearense; é, porém, em geral, atrasada em instrucção: Individuos há em verdadeiro estado de atraso.
Foi criada pelo senhor Isaac Martins dos Reis, uma “Associação Auxiliadora do Ensino Popular”, a qual pela Adhesão que mereceu, pelo grande número de sócios... parece deixar para esta localidade os mais felizes resultados. Além d’algumas aulas que já foram criadas, o senhor Martins estabeleceu Conferencias públicas nos domingos, que tem sido sempre muito concorridas, por grande número de famílias e por pessoas de todas as classes.
Louvamos a ideia do senhor Isaac Martins, e o empenho e actividade com que elle e alguns amigos teem trabalhado em prol de uma tão justa e santa.
Voltaremos, e d’outra vez falaremos sobre um ponto capital, para o qual chamaremos a attenção do Governo da província.’ 
À esquerda, Isaac Martins; À direita, no alto, da esquerda para direita: Rocha Lima, Frederico Figueira e Dunschee de Abranches; À direita, abaixo, imagem do pesquisador Creomildo e Criança (Gustavo seu Neto).

De volta ao presente, externo aqui minha alegria Terra amada, meu berço e de muitos dos meus antepassados que nasceram, amaram, lutaram e participaram da construção da tua História que hoje contemplamos.


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*Segundo o historiador Creomildo Cavalhedo, esse artigo foi assinado por um pseudônimo que se intitula ‘Um cavaleiro ali residente’. 
Mas as pesquisas seguem para se constatar se o ‘Um cavaleiro ali residente’ poderia ser Frederico Figueira

3 comentários:

José Pedro Araújo disse...

Parabéns ao blog, assim como ao ilustre pesquisador, pelo texto de incomparável valor histórico. Para nós que cultivamos o hábito de mergulhar(sem escafandro e em águas sempre muito turvas) na história da região do Japão maranhense, é sempre uma alegria quando nos deparamos com documentos de indizível valor histórico, situação essa que nos acontece muito raramente, infelizmente.
Att.
José Pedro Araújo, um nativo da região.

Creomildo04@gmail.com disse...

Shalom...

Somos passageiros do rio tempo, e como outros que, por aqui passaram, sendo que, uns como meteoros brilharam como perilampos e não deixaram rastros; outros, suas marcas eternizaram-se, exaradas nas páginas da história sua passagem no seu tempo, presenteando as futuras gerações com o seu Legado os quais, em determinado momento, algum viajor ao perquerir meticulosamente, encontrariam dentro do alçapão do tempo, tesouros da historia fragmentados e cobertos pela poeira e pelo véu do esquecimento, e ao expor à luz continuará sua missão de propagar sua mensagem.

Obrigado Professor Jean Carlos, por fazer do Blog Ecos de Tuntum um farol que lança luzes sobre as escuras nuvens que teimam em cobrir a nossa rica e esplêndida Historia.
Um abraço fraterno deste filho das barrancas do Mearim, que tanta admira e respeita a coragem dos primeiros desbravadores do território fértil chamado de Japão.

Creomildo.

Ecos de Tuntum disse...

É uma satisfação enorme contar com você aqui, nobre José Pedro. De fato, Creomildo Cavalhedo, traz a baila um importante documento sobre nosso sertão. Muito obrigado pela cortesia, nobre escritor.