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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O FARDO DO HOMEM BRANCO: ODE AO IMPERIALISMO



No final do século XIX, a Europa controlava a maior parte do mundo e, nesse domínio, sobressaia o poderoso Império Britânico. Vivendo em uma ilha com limitados recursos naturais e uma população em rápido crescimento, os britânicos tinham colonizado diferentes partes do globo a partir do século XVI. Suas colônias na América e na Índia forneciam importantes matérias primas para as indústrias britânicas e, ao mesmo tempo eram mercado consumidor dos produtos fabricados no Reino Unido. Por essa época, a África voltava a ser fonte de interesse de industriais e políticos europeus, não mais para explorar o comércio de escravos como nos séculos anteriores, mas sim para se apoderar de seus recursos naturais – borracha, petróleo, carvão, cobre, ouro, cacau -, muitos dos quais eram essenciais para a florescente economia industrial europeia.

A França, simbolizada pela mulher com armadura, é
recebida pelas populações coloniais. Em seu escudo
está  escrito: “progresso”, “civilização” e “comércio”.
Capa de livro escolar, ilustração de G. Dasher, 1900.

África devassada 

Se, até 1870, o interior da África permanecia desconhecido dos europeus e era governado por seus próprios reis, rainhas e chefes de clãs, a partir daquela década rapidamente a situação começou a mudar. A miragem de tesouros fabulosos e de uma natureza desafiadora e ainda intocada estimulou aventureiros transformados em heróis pela imprensa europeia e norte-americana. Entre eles, destacou-se o médico e missionário escocês David Livingstone que, de 1849 até sua morte, em 1873, fez diversas expedições à África Central convertendo nativos e curando doentes. 

Já o jornalista galês-americano Henry Morton Stanley não tinha a mesma preocupação humanitária. Suas expedições à África central, de leste a oeste, entre 1874 e 1878, revelaram o sistema de navegação da bacia do Congo – informação valiosa que, repassada a Leopoldo II, da Bélgica, mediante generosa soma em dinheiro, permitiu ao rei belga encontrar uma saída a oeste, pelos portos suaílis, para as riquezas extraídas do Congo Belga. A população nativa, submetida ao trabalho forçado para entregar marfim e borracha aos colonizadores belgas, quase foi exterminada. 

A violência dos métodos da exploração belga, considerada mais eficaz e rentável, foi seguida por outras potências europeias presentes no continente: França no Congo francês, Portugal em Angola, Alemanha em Camarões e na África Oriental Alemã (atual Tanzânia).

A Conferência de Berlim 

A Conferência de Berlim, realizada entre 19 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885 oficializou a partilha da África. A ata geral foi assinada pela Alemanha, Áustria-Hungria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Itália, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Rússia e Suécia, e reconhecida pelo Império Otomano e pelos Estados Unidos. 

As autoridades europeias assinaram “em nome de Deus onipotente” e sob uma justificativa “civilizadora” e “humanitária” que jamais foi aplicada no continente africano. 

O artigo 6 da ata geral alertava para as “disposições relativas à proteção dos autóctones, dos missionários e dos viajantes, assim como à liberdade religiosa”. Estabelecia que todas as potências “comprometiam-se a velar pela conservação das populações autóctones e pelo aperfeiçoamento de suas condições morais e materiais de existências, assim como a concorrer para a supressão da escravidão e sobretudo do tráfico de negros”. 

As potências colonizadoras comprometiam-se “a proteger e favorecer, sem distinção de nacionalidades nem de cultos, todas as instituições e todos os empreendimentos religiosos, científicos ou caritativos criados ou organizados para tais fins ou tendentes a instruir os autóctones e a fazê-los compreender e apreciar as vantagens da civilização”.
A África foi repartida entre as potências europeias. Ao iniciar o século XX, só restavam dois Estados independentes: a Etiópia e a Libéria.
Leopoldo II, o hipócrita 

Nessa retórica de hipocrisia, Leopoldo II revelou-se imbatível. Perante a opinião pública nacional e internacional tratava de aparentar atitudes humanitárias. Organizou, em Bruxelas, uma Conferência Geográfica Internacional (1876) dando entender que seu interesse na África limitava-se a explorações geográficas e científicas. Poucos anos depois, Bruxelas sediou a Conferência Antiescravagista (de novembro de 1889 a julho de 1890) durante a qual, Leopoldo apresentou-se como campeão da luta contra os traficantes árabes. 

Enquanto isso, as populações congolesas tiveram suas terras confiscadas, foram obrigadas a pagar impostos, a fornecer víveres aos colonizadores, e ficaram proibidas de explorar suas riquezas em benefício próprio – o marfim e a borracha foram declarados monopólio do Estado belga. 

O transporte das mercadorias era feito às costas de centenas de nativos, e continuou assim mesmo depois da construção da ferrovia entre Léopoldville (Kinshasa) e Matadi (1890-1898). Uma testemunha, descreve a respeito desse trabalho forçado: 

“Incessantemente encontramos esses carregadores, isolados ou em fila indiana, negros, miseráveis, tendo como única vestimenta uma tanga horrivelmente imunda, a carapinha nua suportando a carga, caixote, fardo, presa de marfim, cesto atulhado de borracha, barril, franzinos em sua maioria, cedendo sob o peso multiplicado pelo cansaço e pela comida insuficiente, feita de um punhado de arroz e de peixe seco infecto (…) morrendo ao longo do trajeto ou, terminando este, indo morrer em suas aldeias.” “O fardo do homem branco”.


Fonte: http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/imperialismo/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues

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