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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O FARDO DO HOMEM BRANCO

“O fardo do homem branco” 

Foi nesse contexto histórico que o poeta britânico Rudyard Kipling, conhecido pelos ensaios e poemas favoráveis ao imperialismo incluindo The Jungle Book (1894), publicou, em 1899 seu poema The white man’s burden, “O Fardo do Homem Branco” (abaixo, em tradução livre).

O fardo do homem branco 

Tomai o fardo do Homem 
Branco Enviai vossos melhores filhos 
Ide, condenai seus filhos ao exílio 
Para servirem aos vossos cativos; 
Para esperar, com chicotes pesados 
O povo agitado e selvagem 
Vossos cativos, tristes povos, 
Metade demônio, metade criança. 

Tomai o fardo do Homem Branco 
Continuai pacientemente 
Ocultai a ameaça de terror 
E vede o espetáculo de orgulho; 
Ao discurso direto e simples, 
Uma centena de vezes explicado, 
Para buscar o lucro de outrem 
E obter o ganho de outrem 

Tomai o fardo do Homem Branco 
As guerras selvagens pela paz 
Enchei a boca dos famintos, 
E proclamai o cessar das doenças 
E quando o vosso objetivo estiver próximo (O fim que todos procuram) 
Assisti a indolência e loucura pagã 
Levai toda sua esperança ao nada 

Tomai o fardo do Homem Branco 
Sem a mão de ferro dos reis, 
Mas o trabalho penoso de servos 
A história das coisas comuns 
As portas que não devei entrar, 
As estradas que não devei passar, 
Ide, construí-as com as suas vidas 
E marcai-as com seus mortos. 

Tomai o fardo do Homem Branco 
E colhei vossa recompensa de sempre 
A censura daqueles que tornais melhor 
O ódio daqueles que guardais 
O grito dos reféns que vós ouvi (Ah, devagar!) em direção à luz: 
“Por que nos trouxeste da servidão, 
Nossa amada noite no Egito?” 

Tomai o fardo do Homem Branco 
Não tendais impedir 
Não clameis alto pela Liberdade 
Para ocultar sua fadiga 
Por tudo que desejai ou confidenciai 
Por tudo que permitir ou fizer 
Os povos soturnos e calados 
Medirão vosso Deus e vós. 

Tomai o fardo do Homem Branco! 
Acabaram-se vossos dias de criança 
O prêmio leve ofertado 
O louvor fácil e glorioso: 
Vinde agora, procura vossa virilidade 
Através de todos os anos difíceis, 
Frios, afiados com a sabedoria adquirida, 
O reconhecimento de vossos pares.

Nascido em Bombaim, na Índia britânica, em uma família aristocrática, Rudyard Kipling (1865-1936) teve uma infância marcada pelas histórias de encantamento contadas pelos criados indianos que serviam à família. Essas, com certeza, influenciaram seu trabalho de escritor e lhe renderam o Prêmio Nobel de Literatura, em 1907. 

O Fardo do Homem Branco talvez seja o trabalho mais curto de Kipling. Mas aquelas sete estrofes, tornaram o poema emblemático e o mais criticado até hoje. 

A mensagem era bastante simples: Kipling justificava o imperialismo não pela busca e exploração dos recursos naturais, mas sim como uma necessidade para levar a “civilização” aos lugares mais “atrasados” do planeta. 

A línguas europeias, a religião cristã, as técnicas, a educação, a medicina e até mesmo noções de higiene deveriam ser levadas aos “selvagens”, isto é, os não-brancos. Este era o “fardo”, a missão difícil e pesada do homem branco “civilizado” para os “tristes povos, metade criança, metade demônio”.

Charge faz apologia ao poema de Kipling mostrando um americano e um britânico carregando seus respectivos fardos.
O poema traduzia a mentalidade progressista do final do século XIX. Apresentava uma certa generosidade em relação aos povos conquistados – “levar a paz”, “encher a boca dos famintos”, por fim às doenças e “levar a esperança ao nada” – o que, naquele contexto histórico soava como um eufemismo, uma idealização distante da brutalidade do que então ocorria nas colônias europeias da África e Ásia. As teorias do darwinismo social, da eugenia e do racismo científico forneciam justificativas à expansão imperialista. 

O poema de Kipling passou a ser visto como um símbolo do imperialismo. Em resposta à sua publicação, missionários evangélicos e padres foram enviados a todos os cantos do planeta determinados a difundir o cristianismo a qualquer custo. Escolas sob padrão europeu foram abertas para ensinar a árabes, africanos, chineses e indianos a língua da potência imperialista. Estilos de vida e moda europeia foram introduzidos em todo planeta. 

A partilha da África deixou um legado dramático que as nações africanas tiveram de lidar a partir da segunda metade do século XX e que persiste ainda hoje. Estabeleceu fronteiras que não respeitaram grupos étnicos, que misturaram povos rivais ou separaram culturas. A monocultura, o trabalho forçado e o abandono da produção familiar provocaram subnutrição, fome e epidemias, destruíram as trocas internas no continente e deixaram os Estados africanos dependentes do mercado externo.


Fonte: http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/imperialismo/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues

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