(*) Por Jean Carlos Gonçalves
Em fins da década de 1920 e início dos anos 1930, Tuntum aparece ao lado do Curador como um importante povoado do município de Barra do Corda.
O Arquivo Público guarda o Livro de Registro das atividades do interventor Natal Teixeira Mendes, de 1930 a 1933. Nele, constata-se o desenvolvimento de grandes povoados, que, hoje, são sedes de municípios, tais como Curador, Tuntum, (BRANDES, 1994. p. 285).
Entretanto, Tuntum não usufruiu oficialmente da categoria de vila ou distrito. Não há registro oficial de sua elevação a tais níveis. Por outro lado, o termo “Vila”, fora largamente utilizado em referência ao lugar. Inclusive a “Vila de Tuntum” ficou eternizada na carta de Frei Adriano de Zânica destinada ao Provincial em São Luís, em que relata sobre sua viagem da capital à cidade de Barra do Corda, em janeiro de 1931. Porém, não há dúvidas de que a terminologia utilizada foi para se referir ao expressivo povoado.
Por outro lado Presidente Dutra fora elevado à categoria de distrito ainda em 1896 subordinado a Barra do Corda, assim permanecendo em divisões territoriais de 1936 e 1937. Elevado à condição de município pela lei estadual nº. 820 de 31 de dezembro de 1943 com nome de Curador e através da lei estadual nº. 269 de 31 de dezembro de 1948 o município passa a ser denominado Presidente Dutra. “Sob a mesma lei fica criado o distrito de São Joaquim dos Melos, anexado a Presidente Dutra”. Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1950, este município continua constituído dos distritos: a sede Presidente Dutra e São Joaquim dos Melos (IBGE, 2012).
Com a criação do município de Tuntum, o distrito de São Joaquim dos Melos passa a sua jurisdição. A mesma Lei cria o distrito de Tuntum, conforme o item b, do art.2º - divisas distritais: “O município será constituído de dois distritos, São Joaquim do Melos e o de Tuntum, que fica criado na presente lei.”. Assim, alguns políticos interessados em controlar o eleitorado do futuro município, passaram a articular uma proposta para emancipar Tuntum.
Nesse processo, tanto a conjuntura política estadual como as circunstâncias locais favoreceu a emancipação política de Tuntum.
As eleições estaduais de 1950 foram marcadas por escandalosas fraudes, fato este que desencadearia a famosa “Greve de 1951”, movimento organizado de grupos populares da Capital liderado pelos políticos oposicionistas com o fim de impedir a posse do postulante ao governo estadual, o declarado eleito, Eugênio Barros. Contornada a situação e garantida à posse do governador, o Maranhão passa por um relativo período de estabilidade, graças à postura conciliadora de Eugênio Barros junto aos oposicionistas, garantindo-lhe, desse modo, o controle inconteste da situação.
É também nesse contexto, que se destaca a figura do jovem deputado estadual Eurico Bartolomeu Ribeiro. Eleito em 1954, Eurico apresentou junto a Assembléia Legislativa do Estado o projeto de lei para a criação do município de Tuntum, cumprindo deste modo um compromisso de campanha engendrado em consórcio com seu tio, o chefe político local Ariston Arruda Leda, que havia sido prefeito de Presidente Dutra anos antes e exercia naquele momento o cargo de presidente da Câmara Municipal e tinha planos de comandar o futuro município.
As eleições majoritárias de 1955 mais uma vez reeditaria as negociatas politiqueiras e o clima de tensão devido às disputas e brigas paroquiais pelo controle dos municípios interioranos, fato que tanto marcam a história política deste estado. Presidente Dutra, nesse período, registrara um verdadeiro cenário de tensão e incertezas, pois os grupos políticos se embatiam pelo o controle do poder local.
O grupo dominante, desde a primeira eleição municipal em 1948, reunia uma coalizão de importantes clãs encabeçados pelos os Lédas, os Gomes de Gouveia e os Serenos. Na aludida eleição se elege Ariston Arruda Leda, após disputa acirrada com Virgulino Cirilo de Sousa, que por sua vez fora declarado eleito do pleito após apuração presidida pelo juiz Raul Porciúncula de Morais (Filho, 2007). Entretanto, Ariston não aceitou a derrota e recorreu a Justiça Eleitoral em São Luís. Obtendo êxito em sua reclamação, sendo, portanto, reconhecido como legítimo eleito, cujo mandato se estendeu de 17/05/1948 a 31/01/1951.
Para sua sucessão, a maioria dos governistas, concordou com o nome de José de Freitas Barros. Insatisfeito, Honorato Gomes de Gouveia rompe com Ariston Léda e passa às fileiras da oposição, lançando inclusive sua própria candidatura a prefeito para a eleição de 1950. Porém, não logrou sucesso.
José de Freitas Barros, vulgo Zeca Freitas, se elegeria, mas “Pouco afeito aos meandros da política partidária, logo renunciaria ao mandato em razão da oposição acirrada que seus inimigos políticos lhe faziam, pouco mais de cinco meses após ter tomado posse” (Filho, 2007, p. 173). Na verdade, como se sabe, as disputas extrapolavam o jogo partidário e atingia práticas nefastas, como ameaças, agressões físicas e até assassinatos. Não suportando a pressão Zeca Freitas, abre espaço para o então vice Gerson Sereno assumir a chefia do município. Esperava-se que, com tal medida, os ânimos se acalmassem. Contudo, a conjuntura se agravou.
O grupo de Honorato tinha maioria na Câmara Municipal e pressionou também Gerson Sereno a renunciar, que por sua vez resistiu. Mas temendo o estado de insegurança, resolve recorrer ao juiz Dr. Macieira Neto, titular da Comarca de Codó, que arbitrou pela legalidade. Mesmo assim, “O juiz não teve sua determinação acatada pelo Secretário de Segurança e somente após ameaça do magistrado de requisitar forças federais, foi enviado um contingente militar para Presidente Dutra”. (FILHO, op. cit.). No intervalo entre a renúncia de Zeca Freitas e a posse de Gerson, assumiu a chefia do Executivo, o Presidente da Câmara Municipal, José Ferreira dos Santos, popularmente conhecido como Zeca Belizário (19/06 a 30/10/1954), aliado de Honorato.
Ainda assim, o Capitão Honorato Gomes de Gouveia, organizou um grupo armado para impedir a posse do substituto, mas o contingente policial vindo da Capital, mais bem armado e numeroso, aniquilou rapidamente o levante do bando de Honorato, aprisionando-o e enviando-o a São Luís, garantido desse modo, a tranqüilidade necessária para a posse de Gerson Sereno. No entanto, o grupo de Honorato Gomes não se dava por vencido, que se utilizando de sua maioria na Câmara Municipal, articulou uma manobra para derrubar o então prefeito. Estratagema consumado em sessão extraordinária na Câmara e na qual imediatamente foi dada posse ao então presidente, o Sr. Ilídio Fialho de Souza (21/01 a 10/04/1955), também aliado de Honorato. Contudo, por força da justiça, Gerson seria reintegrado ao cargo de prefeito.
Mas qual a relação existente entre os episódios de Presidente Dutra e emancipação política de Tuntum?
O cenário de rivalidades e disputas não só ajuda a compreender o processo de emancipação de Tuntum na perspectiva do desmembramento, mas de entender como tal processo foi caracterizado por um aspecto bastante singular de nossa história: O município criado possui uma extensão territorial superior ao “Município Mãe”.
Diante dessa conjuntura, aproveitou-se muito bem Ariston Leda, que após o término de seu mandato como prefeito, conseguiu se eleger para vereador nas eleições de 1950, ocupando inclusive, a presidência da Câmara. Desse modo, Ariston se colocava como uma importante liderança local e com fortes relações com o governador Eugênio Barros e também com o Senador Vitorino Freire que a época reinava absoluto na política maranhense. Somado a isto, o quadro de turbulências inclinaria Ariston a articular um plano para separar Tuntum de Presidente Dutra. De outro lado, Eurico Ribeiro via com bons olhos a separação, pois, tal medida lhe daria amplo controle do eleitorado do novo município.
Como se percebe o nascimento do município de Tuntum se dar sob uma forte teia de relações de interesses entre figuras centrais alinhadas a ala governista do Estado do Maranhão, pois embora na década de 1950 o Brasil estivesse sob a bandeira da redemocratização, a população se quer era consultada sobre questões tão impactantes.
É por conta de tais pactos, negociatas entre essas lideranças e das lutas políticas em Presidente Dutra que Ariston Leda vai articular nos bastidores o projeto de emancipação de Tuntum. O popularmente conhecido Mestre Elias, antigo mecânico da cidade e que chegou à Tuntum em 1954 relata: “Enquanto os Serenos e os Gomes de Gouveia travavam o embate pelo controle do poder, Ariston contratou secretamente um topógrafo em São Luís para percorrer e traçar as linhas limítrofes do mapa que viria constituir no território do município Tuntum”.
Ainda em 1955 seriam realizadas em Presidente Dutra eleições municipais, que comprovariam o prestígio dos Lédas, visto que se elegera Adilon, irmão de Ariston, frente ao grupo de Honorato Gomes. Assim, consolidavam-se suas bases para a consumação do projeto de emancipação e controle político do novo município.
Deste modo, fora encaminhado pelo deputado Eurico Ribeiro, o projeto de Lei para Assembléia Legislativa do Estado, propondo a criação do município. O mesmo fora aprovado em 1º de setembro de 1955, o qual previa obviamente, o desmembramento do município de Presidente Dutra. Eugênio Barros, através da lei nº. 1362/55 sanciona e publica no Diário Oficial do Estado em 12 de setembro de 1955.
Assim nasce Tuntum...
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