ECOS DE TUNTUM: OS 100 ANOS DE FRANCISCO PEREIRA LEITE

Por Jean Carlos Gonçalves.

Francisco Pereira Leite e Pastor Isaías Brasil

Uma cidade se faz pela participação de homens e mulheres que diariamente trabalham para assegurar sua sobrevivência individual, dos seus, ao passo que (des)pretensiosamente, (in)conscientemente garante vida social, uma vez que, sua existência depende substancialmente dos outros e vice-versa, ou seja, sua condição habitante da cidade, digo, de ser social, está condicionada pela relação com os demais citadinos.

Tuntum não fora fruto de uma ação organizada do Governo da Província do Maranhão, assim como fora Barra do Corda, por exemplo. Para esta parte da Mata do Japão*, vieram muitos emigrados, em geral, oriundos dos demais estados nordestinos, em especial, do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e do Piauí, que pelos portais de entrada ao logo do curso médio e alto do rio Parnaíba adentravam o Estado do Maranhão, sem se tratar de missão oficial do Estado.

Os destemidos desbravadores que para cá vieram, em geral, desde o início do século XIX, estabeleciam-se inicialmente, por algum período nos campos abertos e verdejantes da vasta região de

Pastos Bons e, posteriormente, seguiam sua missão histórica rumando para a Mata do Japão, região de floretas exuberantes que se situam, entre os vales do rio Alpercata, principal tributário do Itapecuru e da ribeira do Rio Flores, importante afluente do Mearim.

Nessas paragens de matas quase intransponíveis, a natureza cimentou um verdadeiro Eldorado de solos ubérrimos, rico em mananciais de água potável, de caça abundante, de flora diversificadíssima. Seria, portanto, o bálsamo para os muitos inumerados e inominados que fincaram os pés neste abençoado chão e construíram pelo trabalho árduo uma peculiar civilização no coração do Maranhão.

Um desses emigrados é o Srº Francisco Pereira Leite, natural do município de Limoeiro-PI, que juntamente com sua família, mudou-se para a localidade Salobro no município de São João dos Patos-MA, margem esquerda do Parnaíba, território do Antigo Pastos Bons. Após um período de permanência, é convencido, por um cunhado de nome Vicente, que já morava em Tuntum, a estabelecer-se também na Mata Japão.

Francisco Pereira Leite aos 80 anos

Chico Crente, como é conhecido, viajou 7 dias a pé, tocando carga de animal, juntamente com sua mãe e alguns irmãos de São João dos Patos até uma pequena localidade próximo a São Domingos do Zé Feio, hoje cidade São Domingos do Maranhão. Depois de uma breve estada naquele lugar, recebe uma carta de seu cunhado Vicente, que o convidava para se fixar definitivamente em Tuntum. Assim, Chico Crente, chega em Tuntum por volta de 1950, onde se tornou um sitiante de parte das terras da Guabiraba, próximo ao perímetro urbano de Tuntum. Terras essas que hoje, pertencem ao Srº Raimundo Cunha, empresário local.

O Srº Francisco Pereira Leite, o Chico Crente, faz jus à alcunha, leitor diário da Sagradas Escrituras, é seguidor da doutrina protestante e se congrega no Templo da Igreja Adventista da Promessa de Tuntum, seu local de oração, confraternização e sociabilidade, pois o mesmo vive numa casa na rua Orfileno Leda, solitariamente. Viúvo há muitos anos, Francisco que completou na última terça-feira 10/10/2017, 100 ANOS DE VIDA, gozando de uma lucidez admirável, sofre na solidão, pois o mesmo não tem nenhum parente consanguíneo, realiza todas as tarefas domésticas, inclusive faz sua própria comida, vai à feira local a pé fazer suas compras, mensalmente se dirige à agência bancaria para receber seu benefício. Desse modo, Chico Crente tem na sua igreja, que é dirigida pelo carismático pastor Isaías Brasil, a comunhão com os irmãos, os quais amenizam a dor da solidão de um homem que nasceu quando o mundo se encontrava em plena Primeira Guerra Mundial e assistiu a Segunda Grande Guerra, além de ter sido contemporâneo de impactantes fatos da história da humanidade do século XX e início deste.

Assim, apresento—lhes o Guerreiro Francisco Pereira Leite, o retirante que veio como incontáveis, ganhar a vida, trabalhando muito, fazendo fartura na lavoura e em seu grande pomar no sítio da Guabiraba. Homem que apesar de não deixa herdeiros, pois seu único filho faleceu ainda infanto e sua esposa era muito doente, entretanto, deixa um legado de trabalho, de humildade, simplicidade, sobriedade e honradez, representada em seu grande exemplo de caráter.

Francisco Pereira Leite, o Chico Crente em sua humilde residência na rua Orfileno Leda,
onde mora desde que vendeu sua propriedade da Guabiraba no início da década de 1970.

Sem dúvida Chico Crente contribuiu muito para com a cidade de Tuntum e que hoje vive anonimamente, todavia, é por demais justíssimo digno de ser lembrado, homenageado, pois o homem que completa um centenário de vida com plena sobriedade merece o reconhecimento do povo de Tuntum, afinal, como iniciei uma cidade é feita por homens e mulheres que cotidianamente tecem a vida social de um povo.

Que a sua trajetória, sua história, sua saga de bravo filho do Sertão não se apague da memória do povo de TUNTUM. Desse modo, tomo a liberdade de, em nome do povo desta parte da Mata do Japão, e agradecer singela e respeitosamente a grande contribuição histórica que esse grande cidadão, servo do Senhor, prestou a Tuntum.

Parabéns Francisco Pereira Leite! Parabéns pelos 100 ANOS DE VIDA LÚCIDA E HONRADA!!!

MUITO OBRIGADO!!!!!!!!!!!!!!