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terça-feira, 3 de outubro de 2017

O Grupo Escolar Estado do Maranhão - Um olhar sobre a atmosfera política de sua construção



Não se trata de tanta beleza física. Eu reconheço. Pois não representa o que há de mais moderno em arquitetura e/ou engenharia civil contemporânea. Para isto entender, basta examinar seu contexto de surgimento. Perceber-se-á facilmente, que se trata de um produto de seu tempo histórico, naturalmente determinado pelas estruturas vigentes da sociedade num período de tensão e instabilidade, as vésperas do Golpe Militar de 1964. 

Sua gênese dar-se numa pequenina cidade do interior do Maranhão em meados do século XX, numa conjuntura de acirrada disputa política e eleitoral, no pleito de 1963 para a Prefeitura Municiapal de Tuntum-MA, entre Edésio Gomes Fialho e Luís Gonzaga da Cunha. Eleições, fortemente marcada pelas rugas da discórdia, da intolerância, do desrespeito às liberdades individuais. 

Nessa época, Tuntum já não era ilha isolada em si mesma. Serviu de cenário também para o teatro das lutas políticas estaduais. Compreenda!

Em 1963 presidia a República do Brasil, João Goulart, que tinha em sua base aliada o então governador do Maranhão, Newton Belo. O presidente apresentou a época um conjunto de medidas políticas que se constituíam em propostas de reformas nunca antes anunciadas por um chefe do Estado Nacional: as famosas e malogradas Reformas de Base*. Um pacote de medidas em diversos setores, que uma vez aplicadas desdobrariam em mudanças profundas na sociedade brasileira. Desse modo, João Goulart, evidentemente, necessitava de uma base sólida de apoio no Parlamento Nacional, para a aprovação do Plano. Então, articulou junto ao governador do Maranhão, para que o mesmo garantisse os votos dos parlamentares da bancada maranhense e assim viabilizar projeto do Governo Federal.

Contemporâneo a esses acontecimentos, administrava o município de Tuntum, em seu último ano de mandato, o Srº Ariston Arruda Leda, que sua vez apoiara Luiz Gonzaga, como seu sucessor. Leda era tio do então Deputado Federal Eurico Ribeiro, que rompera com Newton Belo, comprometendo o projeto do Presidente da República. Após esse rompimento, o governador Newton Belo, em retaliação, resolve minar as bases eleitorais de Eurico Ribeiro, que tinha em Tuntum, um importante reduto eleitoral. Assim sendo, o governo estadual, concentra forças coercitivas, capitaneadas aqui na região pelo deputado situacionista Ariston Costa, para desestabilizar o projeto de sucessão municipal de Ariston Leda, aliado de Eurico Ribeiro e, portanto, desafeto político de Newton Belo.

Na conjuntura dessa animosidade política, o então Governador destinou recursos para o município de Tuntum, e uma das formas de aplicação foi através da construção de uma escola pública para o ensino elementar de 1º a 4º anos. O curioso é que o “porta voz”, “embaixador” do Estado era Edésio Fialho, candidato opositor ao grupo do prefeito Ariston Léda. Assim, nesse contexto de nefasta disputa política, já mencionadas acima, nasce em dois meses (em plena campanha eleitoral municipal) o Grupo Escolar Estado do Maranhão, edificação que na década seguinte, a população passa a denominar de Colégio BANDEIRANTE, devido ao fato de ano de 1970, receber o Projeto Bandeirante, uma política de expansão da oferta de ensino em nível ginasial. 

Diante do exposto, reconheçamos: não se poderia esperar um projeto de Oscar Niemayer ou Lúcio Costa. O que se justifica pelas breves semanas (oito aproximadamente) de sua construção. Considerações necessárias, para compreendermos o porquê das reminiscências do tempo de sua fundação presente nos dias atuais. 

Entretanto, cabe citar o modo simples, mas oportuno que o grande educador Paulo Freire registrou em seu poema “Escola”

"Escola é...
o lugar onde se faz amigos, 
não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, 
que se alegra, se conhece, se estima.[...]”

Desse modo, diante de seu caráter de escola viva, feita pela comunidade, se supera sua constituição física. Assim, posso utilizar uma infinidade das mais belas palavras, símbolo das maiores e mais desejadas virtudes e não conseguirei expressar o quanto representa para nós, para o nosso povo, o Centro de Ensino Estado do Maranhão, o nosso velho e amado “O BANDEIRANTE”, ao longo de suas cinco décadas de existência.

É com alegria contagiante momento tão sublime, que tenho a ousadia de aqui registrar: Nossa ESCOLA é patrimônio público, patrimônio histórico, lugar de memória, espaço de sociabilidade, local de trabalho, de emancipação intelectual, profissional, financeira, exercício de solidariedade, de amizade, palco de conflitos, de tensões, por que não? Afinal Ela é feita por seres humanos, é reflexo de nossa sociedade permeada de contradições, todavia, nem por isso, perde seu brilho, sua magia, seu encanto. Basta reconhecer, a partir da nossa realidade concreta que esta memorável e, sobretudo, dinâmica e viva instituição por gerações e gerações tem cumprido sua função social, tem oportunizado conhecimento, valores, trabalho, cidadania e dignidade humana.

Quantos filhos de Tuntum sentaram em seus bancos, e hoje ocupam lugar de destaque em nosso meio, Maranhão, Brasil... Quantos anônimos que ganharam o mundo... Quantos emigrados foram recebidos, acolhidos... Todos ofertados com as mesmas condições e oportunidades.

É nessa perspectiva, que se configura, a sua grandeza, A VERDADEIRA BELEZA. Status este, que aí não se encerra, visto que alimenta a chama do amor, do sonho, da esperança... Que norteia a todos que te fazem, e paradoxalmente, são feitos por ti, amado BANDEIRANTE.

Também reconhecemos em ti, um verdadeiro símbolo de resistência, pois com tantas mazelas sociais, com todos os obstáculos que a escola publica vivencia, reluta em oferecer um caminho alternativo.

Portanto, neste dia 3 de outubro que ora comemoramos e rememoramos... Diante do reconhecimento prestado, também CONCLAMAMOS a todos que o fazem: Gestão, Corpo docente, corpo discente, demais funcionários, comunidade escolar... Retribuamos, façamos desta ímpar instituição, MAIOR, MELHOR, MUITO MELHOR.


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