Por Jean Carlos Gonçalves
Antoniel Francisco da Silva, nosso POETA E CORDELISTA POPULAR!! |
A vida é marcada de encontros, desencontros e reencontros!
Ano passado, em viagem a Teresina Piauí, visitei o Shopping da Cidade, local de produtos populares, onde você encontra de tudo um pouco, desde roupas, celulares, comidas típicas, calçados até castanha de caju e a famosa cajuína, bebida típica do Piauí.
Entretanto, surpreendentemente me deparei com um velho e sua banca de livretos de cordel. Viajei fantasticamente pelo tempo, visitando e afagando minhas lembranças, mas quando me deparei com “O NEGRÃO DO PARANÁ E O SERIGUEIRO DO NORTE”, fui tomado por uma verdadeira overdose de emoção, calei, entalei e após alguns breves minutos, com a voz embargada, perguntei ao senhor, proprietário do sebo:
- Quanto custa esse exemplar?
- Três reais, moço. Respondeu-me incisivamente.
Uma de minhas primeiras leituras, incentivada pelo meu pai, Martinho Tavares |
Aquele homem não tinha dimensão do valor que aquela obra tinha, aliás tem para mim. Pensei que não mais reencontraria, aquele cordel que embora reforce uma imagem estereotipada do negro, foi com ele que tive uma das primeiras aventuras e descobertas pelo mundo da leitura. Que encontro!!! Que mundo de descobertas, pelos idos dos anos 1983-1984!!
Quando me entendi por gente, dentre as minhas primeiras experiências que guardo na memória, há a imagem nítida de um exemplar idêntico guardado na gaveta do birô de meu pai, que ficava no comércio dele em Graça Aranha há 35 quase trinta e cinco anos. Que reencontro!
Meu pai, Martinho Tavares, apesar de não ter frequentado escola, conseguiu ser alfabetizado e era um amante da leitura. Com textos bíblicos e aquele cordel desde meus primeiros anos, buscava me estimular para o caminho das letras! Que legado!!! Herança que assimilei e não abandonei – a Leitura. Mas o cordel com um tempo, inevitavelmente, me distanciei. Fora substituído pelos livros didáticos, que infelizmente não valorizava (e até hoje não valoriza) essa tipologia textual tão fascinante e de agradável leitura. Fora um desencontro de fato!
Da minha infância e daquele marcante livreto, passei quase 20 anos até consegui uma cópia do “O CASAMENTO INFELIZ OU A MORTE DE JOSÉ COELHO”, cordel que narra o fatídico caso da Chacina dos Coelhos no Povoado Arroz (depois escreverei sobre a aquisição da obra rara).
Mas foi em 2013, por ocasião do aniversário dos 50 anos do Centro de Ensino Estado do Maranhão, o Bandeirante de Tuntum, que reencontrei o cordel com o poeta Antoniel Francisco. Pai de uma aluna, fez um cordel belíssimo homenageando a escola.
Cearense de nascimento, mas igual a mim, um apaixonado tuntuense por adoção. Antoniel é nosso Poeta Popular! De tudo faz poesia!!É FANTÁSTICO, pois na expressão simples e de fácil compreensão nos encanta e nos deixa ensinamentos edificantes sobre a nossa condição humana. Quando questionei sobre a sua naturalidade, respondeu-me:
18-06-1967 Antoniel Francisco da Silva
Nasceu em Sobreiro, Ceará
Aos quatro anos de idade
Em Tuntum eu vim morar
No lugarzinho que cheguei
Nunca quis me mudar
Mesma casa mesma rua
Só revendo a grande mudança
Hoje muita diferença
De meu tempo de criança
Que se foi de forma rápida
Mas guardo algo na lembrança
Além desse dom extraordinário de compor poesia em cordel, Antoniel Francisco tem uma vida social intensa. Homem de fé, é ativo nos movimentos da Igreja Católica e apresenta, aos domingos, entre as 9:00 e 11:00 h, um programa na rádio FM Nova Esperança, o “Anunciando o Senhor Jesus”. Em 2015, pelo o exemplo de homem, cidadão, e especialmente, como esposo e pai, foi reconhecido pela sua atuação social, sendo agraciado pelo povo, com sua eleição ao cargo de Conselheiro Tutelar, sendo o mais bem votado entre os cinco eleitos. Antes disso, fora forjado no labor diário como lavrador e oleiro. Muito trabalhou na olaria do Srº Tomé Pessoa, numa época em que praticamente todas as construções eram feitas com alvenaria (tijolo comum) produzida artesanalmente, nas diversas olarias que existiam às margens e ao longo do curso do Riacho Tuntum. Posteriormente, ocupou também a função de padeiro, na padaria do Centro Urbano de Apoio à Criança, ao Adolescente e ao Trabalhador Tuntuense – CUATT’S.
Pai de Nicodemos, Soraya, Maria Joaquina e Gabriel, Antoniel é casado com Elda Célia e vive na Rua Primavera, no bairro Mil Réis desde que chegou a Tuntum em 1971. Prestes a completar meio século de vida, nosso Poeta é mais um entre os muitos grandes homens que produziram e produzem, cotidianamente, a tessitura de nosso corpo social.
Apesar de ter impressa algumas de suas composições, sua obra precisa ser documentada, publicada, respeitada e, sobretudo valorizada pela sociedade tuntuense e pelas pessoas que trabalham e fazem o sistema educacional do município, posto que o cordel pode ser uma excelente possibilidade pedagógica e didática, especialmente, para os professores do ensino fundamental das séries iniciais, pois é muito atrativo para os estudantes.
Ano passado, a Profª Madalena, da Escola Municipal Gilza Leda, do bairro Vila Real, desenvolveu um excelente projeto dessa natureza, que inclusive contou a a participação do Poeta Antoniel, que por sua vez, ministrou palestra para os estudantes. Contudo, é preciso que seja dado continuidade de modo sistemático a iniciativa da Profª Madalena e que tal proposta contagie os nossos colegas educadores.
Cordel de Antoniel Francisco, composto, especialmente, para o excelente projeto pedagógico de autoria da Profª Madalena. |
Desse modo, apresento-lhes Antoniel Francisco, o nosso POETA POPULAR!
Aos filhos de Tuntum!
Aos aqui nascidos!
Aos aqui erradicados!
Aos que aqui residem!
Aos que o mundo ganharam!
Eis Antoniel Francisco, nosso Poeta e Cordelista Popular!
Como disse no início a vida é feita de encontros, desencontros e reencontros!
Por isso, bendigo! Graças a Deus!
De com o cordel reencontrar!
De com o cordel reencontrar!
Obrigado, Antoniel Francisco
O nosso Poeta Popular!
O nosso Poeta Popular!
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