Silas Silveira, Jean Carlos Gonçalvese Josimar Gonçalves. |
Aprendi com o renomado filósofo, Mario Sérgio Cortella, que a palavra nostalgia significa lembrança com tristeza, com melancolia, em fim trata-se de uma saudade com dor, ao passo que o termo saudade, representa sentido oposto, pois assume o signo de boas e memoráveis, agradáveis, prazerosas lembranças.
Como a vida é feita de encontros e, especialmente, reencontros, volta e meia nos deparamos com situações que nos induzem a mirarmos com a consciência para o passado. Mergulhamos em nostalgias e saudades inevitáveis, mas no último domingo vivi um misto de nostalgia e saudade na minha velha e bucólica Graça Aranha. Fui encontrar e reencontrar com antigos atores e figurantes de meus anos dourados.
Fiz embaixada na residência de Vicente Trajano Silveira, pai de meu grande amigo, Silas Silveira, no povoado Os Piaus (Santa Luzia das Matas), no município de Graça Aranha. Silas que deixou a Terrinha na década de 1980 para tentar a vida na Capital paulista como muitos de suas época, conseguiu com muito esforço pessoal, se tornar gráfico do importante periódico diário: O Estado de São Paulo, o Estadão. Apesar de ele me ver à porta de minha casa praticamente todos os dias, pois estudava no centro da cidadela não tivemos qualquer relação de amizade durante minha infância. Entretanto, com a potencialidade das redes sociais, passamos a nutrir grande sentimento de amizade, pois temos muito em comum. Silas é um homem politizado, gostar de ler, gosta de história e de cultura, daí a proximidade.
Ontem, atendi mais uma vez o convite de Silas para degustar uma saborosa galinha caipira lá nos Piaus. Dentre tantas conversas e lembranças com o octogenário Srº Vicente Trajano, o próprio Silas e Josimar Gonçalves, o Cineasta da Mata do Japão (este não conhecia), pudemos dialogar, debater e refletir sobre a vida, a sociedade, a política, a história. Tanto que lembrei da Roda dos Amigos de Militão Bandeira de Barros em Grajaú durante a primeira metade do século XIX.
O ápice do encontro ocorreu quando próximo a despedida Silas Silveira, apresentou-me esse belo presente...
Vicente Trajano, Silas Silveira, Jean Carlos Gonçalves e Josimar Gonçalves. Jean Carlos recebendo um exemplar "O Estado de São Paulo - Páginas da História ", de Silas Silveira, gráfico do Estadão. |
Para um humilde professor de História, passar a contar, a partir de então, com uma fonte, a qual registra desde o primeiro jornal posto em circulação do Estadão até a atualidade é formidável. De fato, um presente marcante, que somente os amantes da cultura tem dimensão de sua importância.
Além disso, destaco a satisfação de ser agraciado com a fotográfica memória do Srº Vicente Trajano que nos narrou a primeira eleição municipal de Graça Aranha, na qual meu pai fora candidato a vice-prefeito de Hilton Bonfim, o Beleza, derrotados pela chapa Nacor Rolins e José Alencar, em 1962.
Outro dado novo é que conheci pessoalmente o Cineasta da Mata do Japão, um autodidata que tem surpreendido com suas produções. O mesmo tem um canal no Youtube com mais de 3 milhões de visualizações. Em momento oportuno o Ecos de Tuntum apresentará melhor Josimar Gonçalves, o Cineasta.
Silas Silveira, Jean Carlos Gonçalves e Josimar Gonçalves. |
Após a despedida, tomamos o caminho de volta para casa, passei pela rua que vivi parte de minha breve infância em Graça Aranha. Um filme passou na minha cabeça. Estacionei em frente da casa que há exatamente 30 anos eu deixei. A emoção foi transbordante, fui recebido à porta pelo Sgto. Sousa Ramos, filho de Abel Ramos, saudoso, que comprara aquela casa de meu também saudoso pai. Ao adentrar aquela edificação, minha consciência acionou flashes de minha memória, um bombardeio. Olhando vagarosamente cada cômodo, praticamente intacto, sem alterações me deixou ainda mais convencido de que um homem sem memória é um homem infeliz.
Quando me deparei na sala de jantar com personagens que convivi há três décadas, e que jamais pensei reencontra-lhes ali, terminei de concretizar minha tese óbvia de que a história dá sentido à vida do homem.
Kléber, Messias, Jean Carlos, Regildo, Sousa Ramos e José Top Cell. |
Reconheço que a dor, a angústia e o aperto no peito de ter deixado aquele cenário há tanto tempo e, que ainda reluta em mim um sentimento de pertencimento, se misturou a alegria de rever amigos, de reconstituir imagens e cenas de nosso teatro dos dourados anos e compartilhar ali das pitorescas lembranças de nossa infância.
Lembrar, por exemplo, do folclórico Gostaria, antigo engraxate da cidade e fazer encher-lhe os olhos de pura emoção, afangando seu orgulho, pelo simples fato de instantaneamente reconhecê-lo depois de tanto tempo. Logo depois de tão descaracterizado de famoso black power, sem seus destacados cordões em seu pescoço e roupas chamativas.
"Gostaria", antigo engraxate de Graça Aranha, hoje camelô e Jean Carlos |
Como foi bom brincar de SENHOR DO TEMPO E DA MEMÓRIA, e rememorar proezas de nosso passado e deixar os interlocutores admirados, de um personagem que deixou o lugar aos 8 anos de idade, que todavia, testemunha vivamente nossa memória.
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