Por Jean Carlos Gonçalves
Quem ousar compreender, em grande parte, a constituição histórica de Tuntum, deve se debruçar sobre os arquivos da Igreja Católica e recorrer a memória oral dos que testemunharam e guardaram pelas gerações a imensurável legado que a Igreja e os frades franciscanos deixaram à posteridade.
Ao longo da História, foram várias as ordens religiosas que se fizeram presentes em solo maranhense, entretanto, nenhuma delas, talvez tenha assumido o papel de sujeito histórico na dimensão dos frades franciscanos da Ordem Menor dos Capuchinhos.
Seus membros chegaram a São Luís em agosto de 1893 e no ano seguinte, estabeleceram-se em Barra do Corda, onde iniciaram um projeto de evangelização, junto aos índios. Por conta do crescente sucesso da missão, fundaram a Colônia do Alto Alegre, a qual em 1901, ficaria conhecida mundialmente, devido ao “Massacre de Alto Alegre”. Contudo, não é nosso objetivo aqui, discorrer sobre esse fatídico episódio, mas de referenciar cronologicamente, reconhecendo o fato como etapa constitutiva da saga dos missionários, que após o episódio de Alto Alegre, passaram a evangelizar as populações sertanejas, dando-lhes assistência não só espiritual, mas oferecendo-lhes ensinamentos para melhor resistir em terras ainda praticamente inóspitas.
Para melhor organizar as ações, a Igreja cria em 1922 a Prelazia de São José de Grajaú, abrangendo uma vasta extensão territorial do Maranhão, a qual Tuntum estaria integrado.
É através da desobriga*, que os frades capuchinhos se aventuram pela exuberante floresta e se arriscam ante suas intempéries. Enfrentam animais de grande porte, ferozes e peçonhentos; doenças como a malária, gripe, febres, hanseníase, tétano e tantas outras próprias da floresta.
Seus membros chegaram a São Luís em agosto de 1893 e no ano seguinte, estabeleceram-se em Barra do Corda, onde iniciaram um projeto de evangelização, junto aos índios. Por conta do crescente sucesso da missão, fundaram a Colônia do Alto Alegre, a qual em 1901, ficaria conhecida mundialmente, devido ao “Massacre de Alto Alegre”. Contudo, não é nosso objetivo aqui, discorrer sobre esse fatídico episódio, mas de referenciar cronologicamente, reconhecendo o fato como etapa constitutiva da saga dos missionários, que após o episódio de Alto Alegre, passaram a evangelizar as populações sertanejas, dando-lhes assistência não só espiritual, mas oferecendo-lhes ensinamentos para melhor resistir em terras ainda praticamente inóspitas.
Para melhor organizar as ações, a Igreja cria em 1922 a Prelazia de São José de Grajaú, abrangendo uma vasta extensão territorial do Maranhão, a qual Tuntum estaria integrado.
Mapa – Prelazia de São José de Grajaú
Fonte: NEMBRO, 1972.
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Geralmente montados em lombos de animais, e alguns circunstâncias a pé, percorriam centenas de quilômetros íngremes, transpondo riachos e correntezas, enfrentando obstáculos de toda a sorte para chegar até os mais isolados lugarejos e levar esperança às populações sertanejas.
A abnegação, o desprendimento, a renúncia, a caridade, e, sobretudo, o amor, tão peculiar dos frades da Igreja, deve ser pelas novas gerações, objeto de conhecimento, reconhecimento, respeito e exaltação, pois trata-se de uma questão de JUSTIÇA, de honestidade histórica e não de proselitismo religioso.
Segundo a tradição oral, em Tuntum, os evangelizadores se fazem presentes desde o início do século XX. Há relatos, de que no Sítio dos Carneiros (atual bairro Vila Mata) de propriedade da família Carneiro Santos, fora erguida uma capela coberta de palha para a celebração de missas, casamentos e batismos, durante as desobrigas.
Dom Adolfo Bossi num gesto espontâneo perante um leproso abandonado. |
São escassos os documentos escritos acerca de nomes e exato tempo cronológico do trabalho missionário região que seria, posteriormente, o território Tuntum, que até 1943 pertenceu a Barra do Corda e daí, até 1955 a Presidente Dutra. Entretanto, analisando o que se tem, é possível concluir, evidentemente, que foram os frades estabelecidos na cidade de Barra do Corda que desenvolveram o trabalho desobriga pelos lugarejo do sertão, incluindo Tuntum e Curador (Presidente Dutra), importantes povoados barra-cordenses no final da década de 1920.
Nas primeiras décadas do séculos XX, o nome de alguns frades podem ser considerados, como: Frei Roberto de Colombo, Frei Carmelo de Bréscia, Frei Eliodoro de Inzago (vide fotografia abaixo), Frei Emiliano Lonati, Frei Marcelino de Milão, Frei Carmelo de Primolo. Na terceira década destaca-se Frei Adolfo Bossi, e nos anos 1940 Frei Renato e Frei Dionísio, ambos inauguraram em 1949, a Paróquia de São Sebastião em Presidente Dutra.
Na parte superior da fotografia, pode-se lê: "Curador - Barra D. C.1929 - transpostando tijolos pª ?????? da Capela Fra Hiliodoro de Inzago" |
No anos 1950, surge de modo mais efetivo em Tuntum, o próprio Frei Dionísio Guerra, Frei Aquiles, Frei Rogério Beltrami, Frei Liberato, Frei Pedro Jorge (este seria o primeiro pároco da Paróquia de São Raimundo Nonato, criada em 1959). Esses atuaram incansavelmente, na construção da Igreja Matriz e de outras obras de vulto em Tuntum.
Entretanto, existe uma fonte valiosíssima, que nos oferece uma noção mais precisa da saga dos frades franciscanos: A Carta de Frei Adriano de Zânica de 1931. A mesma faz referência ao Frei Carmelo de Bréscia, falecido no povoado Canafístula (dos Pacas) em 1925 acometido de malária. Na Carta, Zânica relata:
“Paramos na primeira palhoça que encontramos, pois a prudência pede não sermos demasiado afoitos em viagens noturnas pela mata. Foi justamente perto deste lugar chamado Canafístula que o nosso querido co-irmão Fr. Carmelo de Bréscia encontrara a morte seis anos antes.” (Zânica, 1931, s/p)
Frei Carmelo Pasini de Bréscia (1886-1925) |
No livro “...Saíram para semear...”, lançado em 1993, por ocasião do centenário da chegada dos Frades Capuchinhos no Brasil, apresenta o frei Carmelo de Bréscia como grande símbolo dos missionários desobrigantes que deram a vida pela causa do Evangelho de Cristo.
“Frei Carmelo evoca-os a todos, não porque seja o mais esperto ou o mais santo – somente Deus pode estabelecer graduações e assinalar os primeiros lugares –; não porque tenha gastado muitos anos nessa itinerância – com dificuldade conseguiu juntar 4 –; mas porque pagou o preço mais alto, morreu – e quanto tragicamente! – ministrando esse serviço às almas...
Morreu na imensa solidão da floresta numa choupana miserável, assistido piedosamente pelo seu sacristão que segurava a última vela, por um menino de 15 anos e por um velho paralítico, dono do casebre... Morreu aos 39 anos, atassalhado pela malária que levava no corpo há muito tempo, longe dos co-irmãos e das irmãs que poderiam cuidar dele ou, ao menos, aliviar seus sofrimentos...” (CONVENTO DO CARMO, 1993, p. 169)
Nota-se uma representação, que ratifica a eloquência discursiva e literária própria dos intelectuais da Igreja, carregada de sentimentos de exaltação à figura dos abnegados capuchinhos, que Carmelo de Bréscia se torna ícone.
As distâncias nas viagens em desobrigadas, em geral, eram feitas em montarias |
Desse modo, os frades “saiam para semear” o Evangelho, a fé, a esperança, a caridade, o amor, representado no assistencialismo, caridade e compaixão para com os idosos, crianças, mulheres, enfermos, em fim, ao sertanejo, levando medicamentos, noções de higiene, amenizando o sofrimento das almas do nosso Sertão.
* "A palavra desobriga é uma própria palavra da língua portuguesa e significa: 1) dispor o fiel ao cumprimento de um ônus de consciência. No caso o dever da Confissão e da Comunhão anual; 2) Estratégia missionária, nascida do zelo corajoso e criativo, conatural à pastoral e ao número de agentes pastorais naquele tempo; 3) experiência pastoral empregada sobretudo nos sertões do Maranhão. Antes das chuvas o vigário cooperador das paróquias do centro embrenhavam-se nos sertões, acompanhado do sacristão. Iam e a estrada, mesmo que o sacristão esquecesse, os burros veteranos sabiam decorado, abreviando distâncias através de veredas indistinguíveis." CONVENTO DO CARMO, SÃO LUÍS DO MARANHÃO, 1983)
* "A palavra desobriga é uma própria palavra da língua portuguesa e significa: 1) dispor o fiel ao cumprimento de um ônus de consciência. No caso o dever da Confissão e da Comunhão anual; 2) Estratégia missionária, nascida do zelo corajoso e criativo, conatural à pastoral e ao número de agentes pastorais naquele tempo; 3) experiência pastoral empregada sobretudo nos sertões do Maranhão. Antes das chuvas o vigário cooperador das paróquias do centro embrenhavam-se nos sertões, acompanhado do sacristão. Iam e a estrada, mesmo que o sacristão esquecesse, os burros veteranos sabiam decorado, abreviando distâncias através de veredas indistinguíveis." CONVENTO DO CARMO, SÃO LUÍS DO MARANHÃO, 1983)
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