Pesquisar este blog

domingo, 22 de janeiro de 2017

MEU EXÍLIO


Da varanda da saudade
Contemplo a recordação 
Da minha infância feliz 
Lá na Mata do Japão

Desta selva de concreto
Que enclausurado me vejo
Remonto às minhas raízes
Com nostalgia no peito

Sei que esse sentimento
Não se trata de trama inédita
Quem nunca foi um Gonçalves Dias?
Quem nunca cantou sua terra?

Humano é quem alimenta
Um laço de afetividade
Em relação ao seu velho Torrão
Matriz de sua ancestralidade

Cada um consigo carrega
A lembrança que arrepia
Mas a substância que o sangue acelera 
Se converte em melancolia

Por não mais pisar o solo sagrado
Que lhe nutriu um dia
Nem mergulhar nas águas límpidas
Onde sua alma renascia

Meu DEUS, onde estão agora,
Os imponentes bem-te-vis?
Que majestosamente orquestravam
A sinfônica da floresta feliz?

Daqui não os ouço mais
Nem miro a velha palmeira
Onde o pica-pau com altivez
Penetrava seu bico na madeira

Só o pesar da tristeza
De quem não mais reverencia
O alegre rebuliço da Mata
Ou Ipê que na primavera floria

Aqui pareço mais a cigarra
Emitindo som estridente
Um peixinho fora do riacho
A fogo-pagô murmurando incessantemente

Mas no pulsar do peito, o desejo 
De regressar à Terrinha um dia
Recuperar o brilho nos olhos
Personificar novamente a alegria

Tal qual o sabiá
Que as manhãs contagia
Encantando as deleitosas fêmeas
Afugentando os rivais com ousadia

Ou a destreza das jaçanãs delirantes
Que desfilam nas lagoas sombrias
Flutuando sobre gélidas águas 
E predadores frustrando com maestria

Do mesmo modo que fazia
Ante represálias de meus pais
Em fins de tarde fugia
Mangueiras subia, adentrava bananais

É o que nutri a esperança
Alenta o meu coração
Encarnar os dons da floresta
Da minha Mata do Japão

Para meus campos avistar
Meus babaçuais contemplar
Aos pares testemunhar
E às musas poemas declamar

Os medos que vivenciei
As lembranças que me agarrei
As dores que superei
As forças que arranquei

Para novamente feliz evocar
Com a mais sublime paixão
A nota de alegre música
E fincar os pés no bendito chão

Assim nunca mais sofrerei
A angústia da desilusão
O temor de exilado ficar
Da minha amada Mata do Japão!

Nenhum comentário: