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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

TRIBUTO AO FREI DIONISIO GUERRA – O CONSTRUTOR DO BEM

Por José Remy Alves e Silva


Na década de setenta, chega em Tuntum Frei Dionísio Guerra. 

De origem italiana, aquele sacerdote guerreiro, voluntarioso, intrépido, amigo, sonhador, empreendedor e um grande construtor. 



Abandonou o Primeiro Mundo para doar-se ao Terceiro Mundo com aquela vontade indômita de fazer o bem e assumir uma enorme responsabilidade como pastor de uma jurisdição que ultrapassava os limites geográficos do município de Tuntum, que ia de São Joaquim dos Melos a Santa Vitória para levar a palavra de Deus através da Bíblia, seja evangelizando as mulheres, homens e crianças, brancos e negros, ou levando um pouco de conforto, um pouco de esperança, visando melhor qualidade de vida para o seu rebanho numa época em que, não tínhamos estrada e o povo vivia num isolamento total, abandonado a própria sorte.

As desobrigas por ele chamadas, eram feitas a lombo de animal uma maratona cansativa sem conforto nenhum, que só ele sabia cumprir com devotado amor ao próximo. E ele chegava aos recantos mais bucólicos onde a mão do Governo não alcançava, e inibia um processo que retirassem do isolamento espiritual e material as pessoas que viviam esquecidas fora da sede do município e os levasse rumo ao progresso e ao caminho da afirmação, do desenvolvimento, do exercício da cidadania e da fé cristã.

A obra de Frei Dionísio está consagrada não apenas na nossa MAJESTOSA Igreja que foi por ele concluída, mas também na visão pastoral combinada com a gestão social, como também no seu vigoroso empreendedorismo. Na visão revolucionária concebeu meios de implantar a escola PAROQUIAL plantando a semente do saber que acendeu a chama multiplicadora da alfabetização até o ensino médio, construiu oficina (prédio das obras sociais) para instruir mulheres jovens e adultas dando-lhes domesticidade quanto a: corte-costura, bordados, crochê, confeitaria, serigrafia etc. E, ainda, para toda comunidade jovem montou uma escola de datilografia “uma coqueluche na época, era como se hoje você tivesse fazendo curso de informática adentrando ao mundo virtual e acessando as redes sociais”.

Igreja Matriz
Ao fundo, vista  da lateral da nave da Igreja de São Raimundo Nonato.
Em primeiro plano, o Convento erigido sob os auspícios de Frei Dionísio Guerra
Além disso, Frei Dionísio construiu um convento e deu início ao noviciando abrigando jovens que tinham vocação eclesiástica e pedagógica para ministrarem aulas na escola paroquial e orientar seu jovem rebanho dentro dos preceitos da doutrina cristã, e aos sábados à tarde a igreja ficava repleta, fervilhava de crianças (os moleques) ele tratava a todos de modo inteligente e sensível, dava início à catequese com a força motriz que possuía cantarolando as musicas “Jesus Cristo” de Roberto Carlos e o “Homem de Nazaré” de Antônio Marcus, com certeza impulsionado pelo o Espírito Santo. O incansável sacerdote não parava, cuidava de sua pocilga, aviário, adorava o hortifrutigranjeiro, distribuía os produtos de sua horta. Tinha e conservava um belo pomar e, atire a primeira pedra quem de meus contemporâneos nunca lhe furtou de boa fé uma uva, manga, tomate, laranja lima, goiaba etc.
Oficina Mecânica São Loureço de Brindisi
Frei Dionísio sonhou, idealizou e construiu. Trabalhando de forma tenaz, instala uma oficina mecânica com tornearia e serviço de lanternagem que ficava a cargo do Meia Noite ( o Meia Noite era o Chefe de sua oficina e foi também o melhor zagueiro que Tuntum já teve), trouxe da Itália um caminhão de marca Detroit (esse veículo foi usado na Segunda Guerra Mundial, era rústico fabricado todo de ferro, tracionado um verdadeiro trator), que foi apelidado carinhosamente de “MODRONGO”, esse veículo era utilizado nas desobrigas, pelas freiras, religiosas(os) e pela juventude tuntuense transportando a banda os Dinâmicos da qual eu fui dos crooner (na década de 70 a igreja tinha uma banda musical chamada de OS DINÂMICOS, os membros Renatinho, Natan, Geovany, None, Sinhará, Múmia, Elimar, Meia Noite e outros que me falha a memória, até por que a banda não tinha uma formação fixa, nós estudávamos em São Luís, tocávamos em bailinhos e trajávamos um visual Hippie, cabelos longos, barba etc.). O “MODRONGO” também servia para os passeios de final de semana, jogos de futebol nas cidades circunvizinhas e nos famosos piqueniques que eram realizados pelos açudes do Gerardo Uruçu, Abelardo, Manoel Valente, Zé da Mata e até banhos de rio em Barra do Corda.
Obras Sociais, local onde se oferecia vários cursos para os jovens

Aprendizes de corte-custura
O incansável construtor não dava descanso para ele mesmo. Montou uma fábrica de cerâmica e começa a fabricar piso mosaico cerâmico, combogó e tijolos, com isso muda em Tuntum a cultura das construções de casa com adobe cru e os velhos ladrilhos. Ele não para por aí, passa a fabricar móveis tanto para a população como para as igrejas católicas, evangélicas e residências do complexo que faziam parte de sua paróquia. O predestinado eleito de Deus, com certeza, analisou a juventude tuntuense, viu a sua carência na área da esporte, lazer, e cultura e nos brinda com uma sala de cinema “O CANEQUINHO, esse espaço cultural foi batizado com esse nome devido em Tuntum já existir uma sala de cinema com o nome CANECÃO, e aí a moçada aproveitou a deixa, e o denominou carinhosamente com esse nome, vale ressaltar que o preço dos ingressos era bem acessível, o nosso Pároco era um visionário e pensava em tudo e assim chega a Tuntum a sétima arte, esse espaço por ele criado era também transformado em teatro para encenação de peças teatrais principalmente de cunho Bíblico Religioso. Após esses feitos funda o JAPREC – Juventude Associativa Paroquial Recreativa Esportiva e Cultural, que era nosso clube, nosso espaço “dance” na época da jovem guarda e ali dançávamos ao som do Rei Roberto Carlos, Jerry Adriane, Martinha, Paulo Sergio, Erasmo Carlos, Fevers, Renato e seus Blue Caps, Antônio Marcus, Vanusa, Wanderléya, Incríveis, Pholhas, Beatles, Pink Floyd, Rolling Stone e Bob Dylan etc. Antes da criação desse clube os bailes eram realizados nas residências do Gerardo Uruçu, Anfiloquio, Tônico Coletor, Tônico Saraiva, nos colégios Bandeirante, Comercial, Grupo Velho e no auditório do Município, hoje Prefeitura Municipal. Após, o Edino funda o clube dos 200 e o Hosmy Carvalho funda boate Laguna. 
Frei Dionísio Guerra
Frei Dionísio era de um dinamismo contagiante! Construiu em Tuntum o estádio Dom Adolfo Bossi hoje desativado, uma pena! Na sua sagração eu o vi eufórico entregando aquele monumento majestoso para a juventude, e ali, naquele palco esportivo eu vi os craques Tuntuenses construírem belíssimas jogadas a exemplo, do Elimar, Tema, Raimundinho, Meia Noite, Pé de Ouro, Tucá, Chico Cunha, Piudo, Aroaldo, Neco e Dedé do Leor, Serra Grande, Chiquinho Sertão, Chico Engole, Mirulão, João do Ozano, Raimundo e César Saraiva, Zeca Firme e Roberval e até eu fiz algumas firulas! E que viesse os times de São Luís, Teresina, Caxias, Codó e Imperatriz. Quem não tem saudade de ter assistido um jogo sentado ao lado do Frei Dionísio tendo próximo, o João Velho, Mudim, Júlio Dantas, Seu Dodô, Chico Batista, Mestre Riba, Mestre Elias, Dêjinha entre outras figuraças do nosso torrão Tupiniquim, comandada pelos técnicos Rogerão, Almir Lacerda e Aquiles? Isso tudo, em um 31 de agosto com a praça, o estádio e as ruas fervilhando de gente, vaqueiros vestidos a rigor com ibão de couro e tudo que tinham direito, inclusive cheios da manguaça, e a bola rolava na cadencia do SOM irradiado pelos amplificadores, boca de ferro da nossa MAJESTOSA igreja (nossa Igreja é uma das mais belas do Brasil, pena que hoje não é mais a mesma, foi DESCARACTERIZADA por dentro, ferindo a memória de Frei Pedro Jorge, Frei Felix e Frei Liberato, homens que tiveram a inspiração divina para ornamentar seu interior com gravuras de passagem bíblica, sua frente está cercada com grades metálica tem-se a impressão de que o nosso templo sagrado está SEGREGADO aos fiéis, o que não ocorria em épocas anteriores, enquanto isso outras religiões ficam com as portas de seus templos aberto 24 horas, é uma pena!), tocando “TRISTE PARTIDA” cantarolando assim “... Meu Deus, meu Deus, setembro chegou outubro e novembro, já estamos em dezembro meu Deus, que é de nós, meu Deus, meu Deus assim fala o pobre do seco Nordeste com medo da peste da fome feroz AI, ai, ai, ai ...” musica de Luiz Gonzaga o Rei do Baião, TEMA oficial dos Festejos de São Raimundo Nonato que foi escolhida e imortalizada nos corações e na memória dos Tuntuense pelo nosso brioso sacerdote.

Estádio Dom Adolfo Bossi, inaugurado em 31/08/1972.
Espaço de lazer construído quando Frei Dionísio era o vigário da Paróquia de São Raimundo Nonato
Frei Dionísio, no sentido espiritual e paternal, todos o tivemos como Pai ou como Avô, pela gratidão e pela imensidão do amor tão grande que lhe devotamos e que ficou para sempre, posto que, derivado do reflexo das bênçãos que Frei Dionísio nos legou, pessoas como ele jamais morrerão, enquanto o ser humano cultivar, a virtude da gratidão para reverenciar os espíritos generosos, que nos deixaram exemplos dignificantes, a partir de um trabalho hercúleo, bem fecundo, que traduziu a Mão de Deus, enviando um anjo, na figura exemplar de Frei Dionísio, para nos ajudar a sermos melhores cidadãos, cristãos mais virtuosos, pessoas mais felizes, esperançosas e realizadas. O Santo Padre nos deixou o legado de bom cristão e amor ao próximo, suas lições de vida nos enobreceram e hoje ele atuando na milícia CELESTIAL, lá em cima é nosso embaixador, nosso zeloso guardador e que o vosso espírito de bondade nos conduza pelo caminho da retidão nos abençoando todos os dias.

Santo Padre infinita graças vos damos Luz Divina e fiel consolador dos aflitos, penetrai nos abismos profundos dos corações tuntuense tornando dóceis e fiel ao Criador. Rogai por nós Frei Dionísio. A BENÇÃO GUERREIRO DE DEUS.
José Remy Alves e Silva, escritor e colaborador do Blog Ecos de Tuntum
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*José Remy Alves e Silva, o Remy da Mata, natural de Tuntum e filho da união das tradicionais famílias da Mata e Benvinda. É escritor de Alto Solimões - Crônicas I e II, Miscelâneas, Inspiração e Crônicas Maçônicas. Atualmente, está aposentado como Superintendente da Infraero no Amazonas, estado que reside atualmente.

Um comentário:

Mbc disse...

Engravidou várias vezes irmã Zélia em Presidente Dutra e nessas várias vezes a mandava para São Luís, abortar,