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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

INFÂNCIA EM TUNTUM

Por José Remy Alves e Silva* 
Largo da Praça Eurico Ribeiro, a Pracinha.
Lugar de diversão da criançada no  Antigo Tuntum.
As brincadeiras das crianças de hoje e de antigamente são bem diferentes, a molecada hoje tem: iPod, iPad, iPhone, lap top, ou seja, é a famosa parafernália eletrônica já nascendo com o DNA da cibernética e manuseando essas gerigonças com uma maestria tamanha que dá inveja.
Peteca ou bolinha de gude
Jogam, fazem corridas em carros imaginários, pilotam aviões, tiram fotografias e inserem em outras parafernálias através de técnicas que eles vão descobrindo. É, mais eu não troco pelas brincadeiras de antigamente, como jogo de peteca, você com direito a platéia e uma boa pontaria quicar de longe a peteca do adversário. Jogar um peão sobre o outro, os que "morressem"(parasse de rodar) seriam bicados pelo peão do adversário, as bicadas: Fazíamos uma espécie de “cabresto” no pião do vencedor e amolava a ponta do prego na calçada até ficar afiado e começava a massacrar o pião do adversário que chegava a partir ao meio sob o aplauso dos estudantes. Isso acontecia sempre antes das aulas, no intervalo ou até depois delas, em frente aos colégios Bandeirante, Paroquial, Isaac Martins (o Grupo Velho).


Jogo de pião
 Em Tuntum, na minha infância empinávamos papagaios e os fazíamos com varetas de buriti, bambu, taboca, cola e papel de seda; depois fazíamos a rabiola; linha boa era a linha corrente número 10, comprávamos nos comércios do Manoelzinho da Assunção, Zé Felinto e do seu Dedé e após, corríamos pela rua aonde os embates aconteciam. Realizávamos as manobras, fazia o bicho embicar para cortar a linha dos outros papagaios, nos transformava em heróis ou bandidos, se o papagaio não atingisse a perfeição do movimento ou da manobra tentada. Não sabíamos dos riscos que o cerol trazia (cerol é uma mistura de cola, grude como chamávamos era feito de tapioca, misturávamos com o pó de vidro moído de preferência de injeção que pegávamos nas lixeiras dos hospitais ou das farmácias de Dona Rita Coelho, Dona Inocência, seu Dodô e do Zequinha Enfermeiro). Outra arma secreta era uma Gilette implantada no final da rabiola do papagaio para corta linha com cerol. Não recordo de algum acidente ou incidente, ainda que fossem utilizados em profusão. O anjo da guarda dos papagaieros nos protegiam! Hoje, é certo que jamais permitiria o uso dessas verdadeiras “armas”.

Imagem ilustrativa
Derrubar, abater o papagaio do outro refletia uma conquista, e a garotada, os sem papagaio ficavam a espreita, torcendo para aqueles que estivessem cortando, ou seja, guerreando, cruzando com outros papagaios, com o cerol implantado nas suas linhas ou com as Gilettes nas rabiolas para derrubar o mais rápido possível um papagaio, que era para eles entrarem na brincadeira, quando acontecia o abate, tinha a desabalada correria buscando alcançar o papagaio abatido, um verdadeiro troféu, que jamais seria reclamado pelo antigo dono e com isso, meus camaradas, os quintais eram invadidos e aí, de quebra e de boa fé se furtava uma: goiaba, abacate, carambola, caju, tangerina, manga. O sal com pimenta do reino já andava no bolso, isso, era estratégico. Agora, tinha um mas: Quem derrubasse o papagaio do outro e se ele viesse enroscado na linha do seu objeto flutuante, você era aplaudido e passava a ser o dono do despojo do adversário vencido.

A gurizada de Tuntum dos anos 1970. Possuir uma bicicleta era luxo.
Aos sábados e domingos aconteciam os banhos de riacho que começava pelo Poço do Velho que ficava atrás cadeia pública. Nesse trecho, tinha um barranco de massapé onde fazíamos deslizador tipo tobogã, que era para descer até a água. Nos demais trecho do riacho que ia até o Pubeiro a mata ciliar era diversificada; arvores altas, palmeiras, ingás, sapucaias, atracas, jatobá, cajá e as rasteiras, canapu melancia da praia, melão de são caetano etc. A vegetação alta cobria todo trajeto do riacho como uma cúpula de uma catedral. As gotas d’água desciam pelas raízes emergente das árvores que saiam pela fendas dos paredões areníticos e caiam no leito do riacho, que era quase todo de pedra, e formava cacimbas. As melhores era as cacimba do Pinga, da Otília, do Velho Julião e a da Mucuíba. Após esse trecho do riacho chegávamos ao Poção e Pubeiro. Esse trajeto era feito tomando banho, passarinhando, naquela época não tínhamos a consciência da preservação da fauna, pescávamos piaba, bodó, cará, tabaco doido, mandi e comendo frutas silvestres. O bom era quando atingíamos a área entre o Poção e o Pubeiro, nesse trecho tinha a vazante do tio Alípio que era uma quinta com uma cacimba e muitas frutas. Obs: Essa dádiva que a natureza nos legou (as pedras retiradas desses paredões e do leito do riacho servem hoje de alicerces para as residências, outras edificações e pavimentações das ruas. A precursora dessa destruição – “pasmem” – foi a igreja católica de Tuntum, o nosso templo foi construído todo em pedra retirado dos paredões e do leito do riacho, todas essas destruições foram capitaneada pelos padres capuchinhos, debita-se também, como promotor dessa "façanha" o velho Julião que se intitulava dono das pedreiras do riacho) foi destruída e mais tarde contaminada pelo poder público haja vista, a falta de saneamento básico, fossas assépticas, aterro sanitário, pelo descaso dos moradores que residem as margens do riacho e pelos empresários donos de cerealistas (usinas de arroz) e de serrarias, os vilões da história são: Luiz Gonzaga, Manoel Valente, Alípio Coelho, Abelardo Ferreira, Gerardo Urucu, Zé da Mata, Antônio Joaquim, Raimundo Cunha, João Ferreira, Carlito Cunha, Franckalino, Cornélio Noleto, Clinica São José e Hospital Hermes Cunha, etc., que despejavam direto no leito do riacho, palha de arroz, pó de serra e outros excessos oriundos das usinas de arroz, serrarias, lixo doméstico e o pior!! Lixo hospitalar, contaminando uma água de mesa, transparente, límpida, inodora, cristalina própria para o consumo, e com certeza sem a necessidade de exame bacteriológico. Na época não havia uma política ambiental, por parte do executivo municipal, nem se quer, SE FALAVA EM PRESERVAÇÃO DE MEIO AMBIENTE, portanto, conscientizar esses empresários, quanto ao futuro desse manancial, que hoje, lamentavelmente agoniza ferido de morte. Com certeza, isso nunca foi ventilado, eles nunca atentaram para esse desfecho e nem um tipo de alerta foi dado a esses cidadãos. (só nos resta lamentos). “Na cidade de Morros que fica na direção dos lençóis maranhense, tem o hotel casa de pedra nesse hotel, tem um riacho com as mesmas características do riacho de Tuntum, vale apenas conferir”.

Os banhos, essa farra toda tinha hora para acabar principalmente aos sábados, por que a partir das dezesseis horas em ponto começava o catecismo e a igreja ficava repleta fervilhava de crianças. Frei Dionísio muito pontual dava inicio a pregação tratando todos de modo inteligente e sensível que era para harmonizar o ambiente e acabar com a algazarra “mulher do lado direito e homem do lado esquerdo tudo isso monitorado pela Nozinha”, só que você colocar no mesmo espaço o Elimar, Gardênio, Pedro Rones, Junior do Gerardo, Zé Brugueia, Nego Silva, Wagno Lobão, Chiquinho Andrade, Alexandre, Idaspe, Zé Neto, Ligon, João José, Chico Engole, Gessé Pacará, Zamba, Gessé do Abelardo, Zé Pinheiro, João do Ozano, Francês, Zaquinha, Pé de Pega, Zeca do Irineu, Djalma do Júlio Dantas, Raimundinho Bacabal e outras figuras que não me recordo no momento dava muito trabalho. Só o nosso Frei para manter essa moçada sobre controle, mas, de vez em quando o clima era desarmonizado com os peidos (se fedesse muito era bufa) do Elimar e do Zé Brugueia. O catecismo era ministrado com um projetor de slides, era o que tinha de mais moderno em Tuntum, na época poucos se quer, conheciam um aparelho de televisão, era como se hoje dispuséssemos de um painel de Led esses utilizados nos estádios.


E, após íamos jogar futebol, alias, jogo de futebol tinha todos os dias pelos campos da rua do Ariston, Baixa da Égua, no pátio dos colégios, rua do Zé Preto, rua da Bosta, Pubeiro, Poção, Maria Cosme, São Coquita. Com a construção do estádio Dom Adolfo Bossi, obra do grande empreendedor Frei Dionísio, as peladas passaram a ser concentrada no nosso moderno estádio. E a bola, ora! A bola podia ser de meia, de borracha, de couro que naquele tempo vinha com encordoamento ao meio, como se fora um fecho, que as fazia correr como estivesse meia torta, o esférico objeto moderno só chegou em Tuntum tempos depois. Não tínhamos chuteira e valia tudo, pés descalço, kichute, tênis, sapato etc. 



As brincadeiras de hoje com essas parafernálias disponível por técnicas modernas, sinceramente a meu ver não dar a desenvoltura para as crianças como a brincadeiras de antigamente.
Escritor Remy da Mata, colaborador do Ecos de Tuntum
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*José Remy Alves e Silva, o Remy da Mata, natural de Tuntum e filho da união das tradicionais famílias da Mata e Benvinda. É escritor de Alto Solimões - Crônicas I e II, Miscelâneas, Inspiração e Crônicas Maçônicas. Atualmente, está aposentado como Superintendente da Infraero no Amazonas, estado que reside atualmente.

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente 👏👏👏👏