Por Jesé Remy Alves e Silva*
Negro, de estatura mediana, veste-se com elegância, íntegro, afável, excelente chefe de família, educado e com jovialidade aflorando! Essas são as qualidades dessa grande personalidade o gentleman e bon vivant Mestre Elias. Cordial mede as palavras para se posicionar sobre os temas que discorre, se expressa com clareza, tem voz pausada e olha seu interlocutor com profundidade e atenção. Aliás, o seu timbre de voz aveludada fica gravado em nossa memória, principalmente pela tonalidade educada e suave, como imaginamos ser a voz dos anjos, arcanjos e querubins.
Elias de Sousa Matos, o Mestre Elias. Hoje 13/02/2017 completa 85 anos de idade. |
Neto de escravos nasceu em Bacabal, a Capital do Médio Mearim, na sua trajetória trabalhou na roça, foi engraxate, vendeu banana, doce, bolo, até aprender o ofício de mecânico. Tornou-se um mestre em consertos e reparos de motor, com essa sua simetria e paixão pelas máquinas passou a ser um exímio profissional respeitado. Quando ainda muito jovem foi convidado em 1959 pelo Prefeito Astolfo Seabra de Carvalho a instalar as primeiras unidades geradoras de energia elétrica em Tuntum (dois grupos geradores MWM-K 2 com capacidade de 50 kVA cada, com esse feito os munícipes passaram a dispor de energia elétrica das 18:00 as 22:00h, dando descanso aos velhos candeeiros, lamparinas e lampiões, pondo fim nos jantares românticos a luz de vela). Elias tinha como auxiliar os mecânicos Raimundo Dó e Tonheira. Ele foi o chefe do implantado parque energético até 1973 quando foi inaugurada e entrou em operação a usina hidrelétrica de Boa Esperança aposentando assim os velhos geradores, ‘os MOTOR’ de luz com era chamado pela população.
O velho artífice é também um BOÊMIO, frequentador assíduo do “diligente congresso nacional”, o bar do Chico Andrade – o Maribondo de Fogo. Em nossos porres homéricos gosta de cantarolar com a voz que sai do fundo da alma: Nelson Gonçalves, Vicente Celestino, Altemar Dutra, Dolores Duran, Wadick Soriano, Luiz Gonzaga e os Demônios da Garoa. A música e a letra por ele interpretadas se transformam em lágrimas que deslizam suavemente pelo rosto do Príncipe Negro como se fosse uma partitura cheia de lirismo, o decano gosta também de narrar casos e causos hilariantes da política e do cotidiano do PRINCIPADO de TUNTUM.
Mestre Elias, em 2012. |
É um humanista compassivo e é aficionado por jornal, ouve e assiste todos os dias da voz do Brasil até os televisivos, além cultivar o bom hábito da leitura (a Bíblia é o seu livro de cabeceira). Foi conseguindo adquirir notáveis conhecimentos, valendo-lhe um nível de excelência na diversidade de seu vocabulário e como dizia Raimundinho Juá “Esse negão é sabido, esse CABA é estrambólico”. Suas frases são de uma eloquência tamanha que faz inveja a muitos graduados pelas universidades. Com essa sua desenvoltura vernacular, face do aprendizado recolhido na área da mecânica, a respeitabilidade por esse profissional cresceu e ecoou pelas cidades circunvizinhas do Alto e Médio Mearim e os trabalhos do mecânico Elias passaram a ser requisitados nesses quadrantes devido a seu profissionalismo e a garantia na qualidade dos serviços por ele executados. Essa reserva moral, e o seu bom caráter o tornou um legionário conhecido em face do seu oficio, foi por esses ingredientes típicos de sua personalidade que o povo lhe outorgou o título de MESTRE. Elias é o nosso Príncipe NEGRO.
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**José Remy Alves e Silva, o Remy da Mata, natural de Tuntum e filho da união das tradicionais famílias da Mata e Benvinda. É escritor de Alto Solimões - Crônicas I e II, Miscelâneas, Inspiração e Crônicas Maçônicas. Atualmente, está aposentado como Superintendente da Infraero no Amazonas, estado que reside atualmente.
Um comentário:
Parabéns pelo texto.E de fato o seu Elias é uma pessoa maravilhosa,trabalhava no Armazém Paraíba e toda vez que ele ia lá conversávamos bastante é percebi todas essas qualidades e atributos dados ele.Realmente um dos grandes homens da cultura e história Tuntuense.
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