Pesquisar este blog

domingo, 19 de fevereiro de 2017

TRIBUTO AO HUMANISTA E DEMOCRATA JOAQUIM MORAES

*Por José Remy Alves e Silva
José Remy Alves e Silva, o Remy da Mata

Joaquim Rodrigues de Morais passou pela vida de maneira soberana e íntegra, ficou conhecido pelas nossas cercanias como um Homem chamado virtude. Sua configuração física de homem elegante empunhava admiração, cabelos brancos, com certeza o Grande Arquiteto do Universo os pintou com a mesma tinta que ele pintou as nuvens estratocumulus. 

O gentleman andava bem trajado, sempre alinhado e mantinha se dentro dos valores cívicos bem elevados, o mesmo civismo que se corporificava através do cumprimento dos seus deveres como cidadão, combinados com a plena consciência dos seus direitos. Muito solícito, Joaquim Morais jamais criticava uma pessoa, ainda que estivesse sendo castigada por um testemunho pesado, aniquilador. A trajetória de vida desse ilustre cidadão se integra à história de Tuntum, da qual é um dos protagonista, participante ativo em todas as etapas evolutivas da nossa cidade. 

Como político e empresário contribuiu para a construção do nosso município, atuando em diversificadas atividades entre as quais, no ramo de hotelaria, comércio, foi proprietário de um empório de secos e molhados. Joaquim Moraes era também um autodidata, aprendeu com a escola da vida, por si só, um intelectual nato, sempre comprometido com a fidelidade da verdade, da coerência e da imparcialidade. Esse tripé foi o seu esteios, o sustentáculo e a manutenção de sua independência como empresário e político. 

Joaquim Morais se envereda pela política partidária no início da década de 60, se elege em 1964 vice-prefeito na chapa com Luiz Gonzaga da Cunha. 

No inicio dos anos de chumbo, o Brasil fugia do comunismo, e dava início ao governo Militar com o Marechal Castelo Branco assumindo a presidência da república. O Maranhão era nessa época era comandado pela máquina da ditadura violenta e sanguinária de Vitorino Freire. O Deputado Ariston Costa, fiel escudeiro de Vitorino na mesorregião do Mearim, não satisfeito com a liderança da dupla Luis Gonzaga e Joaquim Moraes, os depõe na marra de seus cargos por aproximadamente 60 dias. 

Ariston Costa era um dos comandantes da tropa de choque da ditadura Vitorinista, tinha carta branca para agir à margem da lei. Com a vitória de José Sarney em 1965 para o Governo do Maranhão, Joaquim Morais e Luiz Gonzaga se fortalecem dando realmente início ao seu governo, e após seus mandatos, elegem sucessivamente diversos correligionários e amargam apenas uma derrota nas urnas em uma chapa composta por José Justino e Silva – Zé da Mata e Antônio Joaquim da Cunha. 

A posse de Zé Sarney foi concorridíssima, pelo fato da queda do governador oligárquico, o Tenente Vitorino de Brito Freire, um dos líderes do PSD nacional, é dele a frase “vou ao Maranhão apertar as cangalhas”, que demonstra, de um lado, o desprezo pela população que o acolheu. Esse cidadão de Pernambuco veio ao Maranhão para servir a ditadura Getulista e do outro, o poder de coronel, chefe autoritário, cacique, características imanentes ao vitorinismo. 

Joaquim Morais e Luiz Gonzaga com toda bancada de Vereadores de Tuntum se deslocaram até São Luís, para prestigiar o mais novo Governador eleito pelo povo da historia do Brasil, que veio mais tarde se tornar a figura mais conhecida da UDN a ganhar prestigio nacional com seu programa de governo o Maranhão Novo. O gentleman, Joaquim Morais era o nosso diplomata, o nosso Henry Kissinger tupiniquim, ele moldou a política tuntuense na década de 60 e 70. 

Ao comando dos dois líderes seguiram então para a capital em caravana. Durante o cerimonial de posse Joaquim Morais que era amigo do vice-governador eleito, Antônio Dino, esteve grande parte do temp com Glauber Rocha (o jovem cineasta Glauber Rocha que se encontrava no Maranhão fazendo o filme que tinha como título: "Deus e o Diabo na terra do Sol", Glauber fez o documentário da posse de Sarney, nesse documentário aparece a figura de Joaquim Morais), e com as estrelas do jornalismo Samuel Wayner e Nelson Rodrigues. 

Ao retornarem de São Luís, Joaquim Morais traz consigo uma cópia do discurso de Sarney que foi rodado no velho mimeógrafo e distribuído entre os políticos, correligionários e o povo. O Mestre Elias o nosso Príncipe Negro, passou então a divulgar durante todo dia pelas ruas de Tuntum na boca de ferro (o Mestre Elias tinha um Jeep com uma amplificadora com era conhecida, adaptada no capô) que as oito horas da noite Joaquim Morais iria ler na íntegra na voz do progresso o discurso de Sarney (a voz do progresso era uma boca de ferro instalada no alto de um poste de madeira, que ficava exatamente onde está instalado o posto de gasolina, no início da praça São Francisco de Assis. Esse meio de comunicação pertencia a Prefeitura, Luiz Gonzaga divulgava através desse sistema de comunicação os feitos do Paço Municipal e era também de utilidade publica) pontualmente as 20:00h ele inicia a leitura do discurso: 
"Recebo em praça pública o direito de governar o Maranhão, direito que me foi dado pela vontade soberana do povo, o céu e nossa terra testemunharam os longos, trabalhosos, ásperos e heróicos caminhos que me conduziram a esta solenidade e a este instante. O Maranhão a partir de hoje é outro Maranhão! A partir de amanhã os troncos das cadeias da Santa Luzia, Tuntum, Presidente Dutra e São Mateus não funcionarão mais; a partir de hoje, os delegados de polícia serão instrumento da ordem; a partir de hoje o direito de cada um será respeitado a insegurança o banditismo não contarão com a proteção oficial, porque eles estão na preocupação do Governador com vergonhas a extirpar." (Discurso de posse do governador do Maranhã, José Sarney, em 1966)
O povo delirava, o velho mercado que ficava onde hoje e o local da praça, já estava tomado e Joaquim Morais continuava: "Por todo o Maranhão espalharam-se os métodos da tortura, da extorsão, do saque, do marasmo e do não fazer; do deixa, do largar, do espera, do fica aí, do está dando, do não adianta; enfim as luzes baixas que não aquecem e não ilumina..."

Joaquim Rodrigues de Morais era otimista ao extremo, cortês com muitos, sociável com todos, tinha muitos amigos e inimigo nenhum, homem virtuoso. Para quem o conheceu, nada preciso dizer. Para quem não o conheceu, tudo que eu falar sobre sua personalidade é insuficiente para defini-lo.

_______________________
**José Remy Alves e Silva, o Remy da Mata, natural de Tuntum e filho da união das tradicionais famílias da Mata e Benvinda. É escritor de Alto Solimões - Crônicas I e II, Miscelâneas, Inspiração e Crônicas Maçônicas. Atualmente, está aposentado como Superintendente da Infraero no Amazonas, estado que reside atualmente.

Nenhum comentário: